Bullying na infância deixa marca para a vida toda

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Adultos contam a história de como ressignificaram as brincadeiras de mau gosto da fase escolar e transformaram em motivação e sucesso

Considerado por alguns como frescura e mimimi, o bullying é coisa séria e foi incluído essa semana como crime no código penal, tanto aquele praticado presencialmente quanto online. A lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta segunda-feira, 15, dispõe a prática no artigo que trata de constrangimento ilegal e prevê punições severas.

Para quem passou por esse tipo de situação na infância é fácil lembrar do sentimento das brincadeiras de muito mau gosto que hoje são nomeadas como bullying. O casal Giovanni Begossi e Micarla Lins conta episódios que marcaram quando crianças e trazem essas experiências ressignificadas para suas carreiras, ajudando outras pessoas que também passaram por isso a superar os traumas e destravar habilidades deixadas em segundo plano na vida de quem já sofreu bullying.

Quem vê os dois hoje, especialistas em oratória, palestrantes e influenciadores não imagina pelo que já passaram. Giovanni é conhecido como El Professor da Oratória e tem mais de 1 milhão de seguidores, já Micarla é a primeira mulher a ser Juíza-Chefe do Campeonato Mundial de Debates em Espanhol, além de ser referência em oratória para mulheres.

Micarla nasceu em Recife (PE) e foi criada em São Gonçalo (RJ), considerada uma das cidades mais perigosas da região metropolitana do Rio de Janeiro. Vivia com o pai, pedreiro, e a mãe, dona de casa. Desde a adolescência, por se dedicar e gostar muito de estudar, sofria bullying na escola. Com o passar do tempo, aquela ‘zoação’ passou a ser uma agressão emocional e física. “Era muito difícil lidar com tudo aquilo. Queriam cortar meu cabelo, me bater, porque eu gostava de estudar, era a ‘nerd’ da classe”, relembra. A solução encontrada pela mãe foi mudar Micarla de escola, o que aconteceu mais de três vezes. “A escola de Niterói (RJ) foi onde consegui me encaixar, fazer amigos e me dar melhor, mas logo tivemos que mudar de casa, viemos para Cabreúva (SP) e eu sofri muito com a perda de amigos e daquele lugar onde havia me encontrado”.

Já Giovanni sofria de timidez, não tinha amigos, não tinha uma personalidade agradável, nunca tinha beijado na boca, nunca era chamado para os “rolês” da turma, e além de tudo sofria bullying. “Eu via as pessoas mais extrovertidas e parecia que elas sorriam mais, que eram mais felizes. E eu me perguntei: poxa, o que eles têm que eu não tenho? Querendo mudar a minha vida, decidi entrar na aula de teatro e em apenas dois anos de curso, eu desbloqueei totalmente a minha comunicação. Eu perdi o medo do palco, virei uma pessoa extrovertida, mais leve e com tato social. E a minha vida mudou, de repente eu tinha amigos, era o capitão do time de basquete, conquistei uma namorada. Aí eu me perguntei: “nossa, eu estudei um pouquinho de comunicação e a minha vida já melhorou tanto. E se eu continuar estudando? Será que há limites onde a comunicação pode nos levar?”, diz Begossi.

Os dois se uniram e hoje são o Casal da Oratória e apoiam a jornada de pessoas que querem melhorar as habilidades de comunicação para ter mais sucesso seja na vida pessoal ou profissional. “Transformar as experiências ruins e as coisas que a pessoa não gosta nela mesma é difícil, mas é um caminho sem volta. Gosto de influenciar as pessoas a buscarem conhecimento, a lerem mais, a serem mais ambiciosas e mais gratas. Tenho o propósito de mudar o mundo com 3 princípios: ambição, gratidão e conhecimento”, afirma Begossi.

Para Micarla ressignificar os traumas é necessário e libertador. Depois de ter passado por três tentativas de tirar a própria vida, ela entendeu que, se de fato quisesse sair da depressão, teria que mudar todos os aspectos da vida, buscar inspirações, ler, se informar e traçar objetivos claros. “Mesmo com todos os obstáculos, eu ganhei uma determinação inabalável, afinal eu sobrevivi por um milagre e isso me fez seguir minha jornada de autoconhecimento em busca do meu propósito, o que me levou a ser a primeira mulher brasileira a ganhar um torneio na modalidade de oratória e argumentação”, explica.

“Além disso, quero ensinar as pessoas a terem uma comunicação influente e persuasiva, para que sejam vistas como autoridade e assim consigam multiplicar seus ganhos financeiros, já que a habilidade na comunicação é treinável e abre muitas portas no mercado de trabalho e na vida pessoal”, finaliza Micarla.