Triângulo Mineiro supera a crise com logística e a força do campo

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No coração do Brasil, Uberlândia construiu em meio século uma identidade importante de capital nacional da logística. A localização estratégica foi um diferencial competitivo já que o transporte rodoviário ainda é o principal sistema de distribuição do país. Minas Gerais tem a maior malha viária do Brasil, neste emaranhado de asfalto de mais de 1.720.000 quilômetros de estradas. O privilégio no mapa virou vocação com senso de oportunidade de desbravadores, que instaram na região, ainda na década de 1950, as primeiras gigantes do atacado. E com elas as grandes distribuidoras de produtos. Com a evolução do comércio eletrônico, veio a necessidade de aprimoramentos. E, em 2009, os principais atores locais se uniram para criar a Plataforma de Valor do Brasil Central.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Triângulo Mineiro (Settrim) foi parceiro desde o princípio. O presidente da Settrim, Cleiton César da Silva, acredita que o Triângulo Mineiro, por ocupar uma posição estratégica no âmbito geográfico, com o cruzamento de várias rodovias, sempre recebeu e receberá investimentos. “E nesse momento importante, por conta da pandemia, onde algumas regiões sofreram muito economicamente, o nosso Triângulo continua recebendo recursos, principalmente nas áreas da indústria e de serviços”, disse Cleiton.

Desde então os investimentos seguem em bom ritmo. Em setembro deste ano a Braspress Transportes Urgentes, nome forte no transporte de encomendas cravou o aporte de R$ 30 milhões em um novo polo de logística em Uberlândia. O CEO da empresa Urubatan Helou prometeu levar à cidade natal ainda mais inovação pra alavancar ainda mais o volume de entregas mensais, hoje em dois milhões de remessas.

A logística combinada com o agronegócio reforça o potencial do Triângulo. A Feira do Agronegócio Mineiro é um exemplo dessa vocação rural. A Faculdade de Engenharia Mecânica (Femec) da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) reúne em cada edição  expositores e marcas nacionais de diversos segmentos, como a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas, sementes, defensivos e fertilizantes, instituições financeiras, montadoras de veículos utilitários e de passeio. Em 2019, mais de 120 fabricantes e revendedores participaram do evento, que movimentou mais de R$ 350 milhões. Além de possuir o maior rebanho bovino e suíno do estado, a região também se destaca como uma das principais produtoras de grãos, cana-de-açúcar, café e laranja. No ano passado, o município de Uberlândia foi a terceira principal porta da exportação do agronegócio mineiro, movimentando US$ 899 milhões.

O volume de recursos e negócios atrai tecnologia e investimentos. Em breve será instalada na região a maior fábrica de celulose solúvel do país, em conjunto com uma usina de cogeração com capacidade de 144 megawatts e 70 mil hectares de florestas de eucalipto.   Ela será montada entre os municípios de Araguari e Indianápolis. Com a demanda aquecida, o setor vê boas perspectivas de retomada, após um período longo de crise. Minas tem a maior floresta plantada do país, com 2,3 milhões de hectares de área cultivada.

Adriana Maugeri, presidente executiva da Associação Mineira da Indústria Florestal reforça que esta evolução vem com responsabilidade socioambiental, porque o setor de florestas plantadas tem uma relação intrínseca com as florestas nativas, onde se multiplicam os benefícios ambientais, tais como a conservação do solo e a proteção de áreas de recargas de recursos hídricos, além de estabelecer um papel relevante de inclusão social. “Também temos a melhoria do microclima e, quando pensamos no macro, nas mudanças climáticas e o papel fundamental que as árvores exercem na captura do CO2. Sociais, nós temos maior inserção do pequeno e do médio produtor rural. Em Minas Gerais, aproximadamente 75% da produção de carvão vegetal oriundo de florestas plantadas advêm da produção de pequenos e médios produtores”, explica Adriana.

Adriana também destaca o papel dos engenheiros nestas melhorias. “Os engenheiros florestais, por excelência, assim como os engenheiros ambientais, possuem no seu DNA o meio ambiente, essa proximidade com o cultivo e com a terra. E uma relevância que não podemos deixar de destacar do engenheiro florestal é que ele alia tecnologia, inovação e pesquisa ao melhoramento daquilo que a natureza já oferece. Com todo seu conhecimento, a inovação, eles aprimoram a natureza, oferecendo culturas agrícolas mais produtivas e resistentes e que trazem mais retorno, tanto para a sociedade quanto para o produtor”, ressaltou Adriana.

Há base pra crescer. A região conta com duas universidades federais – a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), com sede em Uberaba. Há, ainda, mais dois campi da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), uma em Ituiutaba e outra em Frutal. O Triângulo conta ainda com Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, instituição pública de ensino que abrange cursos superiores de bacharelado – graduação e pós, além de universidades privadas com uma série de cursos relacionados às vocações regionais.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), engenheiro civil Lucio Borges reforça a importância desta rede, especialmente na área tecnológica, e diz que vê a interlocução com as instituições de ensino uma ferramenta importante para o desenvolvimento regional e uma grande janela de oportunidade para egressos e recém-formados. “Nós, profissionais, temos participado ativamente na formulação e implantação de políticas públicas e na difusão de boas práticas. E essa atuação dos profissionais de engenharia, agronomia e geociências é um dos fatores que garantem à região do Triângulo o reconhecimento como centro de logística e importante polo do agronegócio. Essa boa presença se deve a formação nas universidades da região”, afirmou Lucio.

Região Triângulo Crea-MG

O Crea-MG dividiu o estado em sete regiões para otimizar suas ações, principalmente as de fiscalização. Cada uma das regiões conta com um supervisor que apoia as inspetorias e coordena o planejamento de blitze e outras ações de fiscalização. Com essa descentralização, as atividades ganharam agilidade.

A Região do Triângulo Mineiro possui uma área de 100.777,57 km² com 71 municípios. As unidades de atendimento que compõem o Triângulo são Araguari, Araxá, Frutal, Ituiutaba, Iturama, Monte Carmelo, Patos de Minas, Patrocínio, São Gotardo, Uberaba e Uberlândia.  Nesta região, há mais de 3.500 empresas e atuam mais de 13 mil profissionais registrados no Crea-MG. Do total de profissionais registrados no Conselho, 14% estão no Triângulo, é a segunda região com o maior número deles, e conta com mais de 20% dos engenheiros agrônomos.