De empregado a cooperador: o que se espera é a colaboração

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Credito: Iara Cunha

O Brasil continua na lanterna do ranking mundial de competitividade digital. Esse resultado, foi apontado por um estudo feito pelo International Institute for Management Development (IMD), em parceria com o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). E pasmem, ainda de acordo com o IMD, o Brasil havia caído duas posições no ranking de produtividade. Ele se encontra na 62º na lista que analisa 67 economias.

Para entender como chegamos neste resultado, é preciso relembrar como era antes, ou seja, no passado havia uma divisão clara entre trabalho operário (indivíduo que sob ordem de alguém exerce um trabalho mecânico) e trabalho intelectual, considerado científico. Esse último valorizado com títulos e que implicava em posicionamento social. Nos primórdios, o trabalho operário era executado pelos escravos e servos, daí advieram as diferenças de classe. De um lado, o trabalho realizado com autonomia e liberdade, e de outro a submissão. Nesse sentido, as cargas de trabalho superaram e muito a jornada de 8 horas diárias. Hoje, felizmente, temos o desafio de desconstruir essa visão.

Um dos maiores impactos a meu ver de todo esse passado, é que o emprego formal não atrai mais a mão de obra qualificada. A Geração Z que chega ao mercado hoje, viu seus avós e pais passarem o dia todo no trabalho, sacrificando a vida da família com finais de semana para se recuperarem, aguardando férias para viajarem e a aposentadoria para descansar. Essa geração tem urgência de sucesso e não querem se submeter ao mercado formal de trabalho. Adicione-se a isso o desafio das instituições de ensino, que apesar da carga horária, não têm conseguido manter a qualidade do ensino e nem o interesse e engajamento dos alunos. Assim é cada vez maior a rotatividade nas empresas. O custo de tudo isso é alarmante e nós pagamos a conta desse descompasso. Precisamos de uma discussão profunda envolvendo todos os setores da sociedade para encontrarmos uma solução que com certeza estará nas reformas que deixamos de fazer.

A Câmara irá debater a PEC pelo fim da escala 6×1. Mas já existem empresas que adotaram a redução da carga horária de trabalho e para o empregado isso impacta positivamente na saúde e no bem-estar. Já está mais que comprovado que a sobrecarga de trabalho resulta em stress que impacta negativamente a qualidade das entregas.

Várias são as doenças associadas ao excesso de trabalho. A neurociência tem feito suas contribuições trazendo à tona a importância do descanso e do sono de qualidade, que também são afetados pelo excesso de trabalho. É importante ressaltar que existem atividades que, pela sua natureza essencial, implicam em pontos físicos de trabalho, abertos 24, 12 horas diárias. Para esses casos o trabalho em turnos é uma realidade a ser considerada. Voltando ao ponto inicial, essa questão não pode ser reduzida a carga horária, mas sim atribuída a uma série de variáveis, tais como clima organizacional e condições de trabalho. O fato é que a carga horária talvez não impacte tanto quando o trabalho é valorizado e realizado em um ambiente seguro e saudável para o trabalhador.

Precisamos considerar o tempo gasto para o deslocamento até o local de trabalho e na maioria das vezes a impossibilidade de se fazer as refeições em casa. O número de horas gasto nesse deslocamento pesa na conta que se paga quando o assunto é qualidade de vida. Para a empresa a redução de custos. Para todos os cálculos de custo temos uma máxima que é horas/homem, isso ainda não mudou, embora reste provado que a quantidade de horas não significa qualidade nem eficiência. As empresas precisam investir em instrumentos e processos de gestão para que essa eficiência seja alcançada. Fazer mais com menos. Nesse sentido ganham o trabalhador, a empresa e o cliente. Hoje o que mais impacta o custo de produção é o tempo, e como dito anteriormente, o Brasil no ranking mundial não está dentro dos países mais produtivos.

No mundo do conhecimento, todo o trabalho deve ser inteligente. Precisamos evoluir para contratos de trabalho estabelecidos com base em entregas, com clareza do esperado de cada parte. As empresas já diminuíram suas estruturas de cargos de coordenação e supervisão, resquícios de um passado. O Governo precisa modernizar a legislação trabalhista para permitir uma remuneração variável sem sobrecarga tributária, que privilegie a eficiência. Toda a nossa legislação foi produzida considerando a equação hora/homem.

É muito importante estabelecer critérios justos de remuneração do trabalho. De empregado a colaborador a mudança não foi apenas da semântica, de fato o que se espera de todos que fazem parte do processo produtivo é a colaboração. A maturidade e compromisso aos acordos é um comportamento que se espera.

Cristina Márcia, palestrante e mentora de carreira; especialista em relacionamento e em alta performance pessoal e empresarial; pós-graduada em Controle Externo e Dinâmica de Grupos; MBA em Gestão de Projetos; consultora em Mapeamento Emocional; master Coach e Coach Executivo e de Relacionamento