Especialistas destacam a importância dos ambientes no crescimento cognitivo e emocional na infância
Quando se trata do desenvolvimento das crianças, muitas vezes pensamos em escolas, brinquedos educacionais e interações sociais, mas raramente consideramos o papel da arquitetura. No entanto, a maneira como os ambientes são projetados desempenha um papel significativo no crescimento cognitivo, emocional e social das crianças.
A arquiteta Hana Lerner, especialista em projetar espaços para crianças, destaca a importância de ouvir os pequenos quando se trata de design. “O universo da criança é muito lúdico, então quando ela me conta seus desejos eu capto e adapto de alguma forma ao projeto”, diz Lerner. “Às vezes pode ser um quadro, a cor, a composição do enxoval, alguma coisa que inspire. Eu gosto muito de escutar os pequenos clientes, faz parte do meu momento de criação também.”
Hana destaca como as crianças têm uma visão única do mundo e como isso pode influenciar o design de seus quartos e espaços de brincar. Além de ouvi-las, Marta Calasans, arquiteta especialista em ambientes infantis, enfatiza a importância de criar ambientes que estimulem a imaginação e o aprendizado. “A criança aprende brincando. Tornando todos os ambientes que ela frequenta em espaços de aprendizados“, diz.
Ela ressalta que é essencial considerar a ergonomia das crianças ao projetar móveis e espaços. Outro aspecto destacado é a conexão com a natureza. “Somos seres da natureza, portanto, trazer para os ambientes infantis materiais naturais como madeira, algodão, pedra, palha, barro, plantas entre outros, é muito importante”, explica. Isso não apenas promove o aprendizado, mas também as ajuda a se sentirem mais seguras e felizes.
Iluminação e o Desenvolvimento Infantil
Enquanto exploramos a importância da arquitetura no desenvolvimento infantil, uma peça crucial que frequentemente é negligenciada: é a iluminação. A arquiteta especialista em iluminação, Nicole Gomes, enfatiza como a escolha adequada da iluminação pode impactar significativamente o desenvolvimento e o bem-estar das crianças.
Segundo Nicole, o cérebro das crianças continua a se desenvolver até os quatorze anos, e para um desenvolvimento ótimo, aprendizado eficaz, boa memória, crescimento físico e cognitivo adequados, o sono é fundamental. É durante o sono, que ocorre a produção de melatonina, essencial para a regeneração celular e a limpeza do cérebro, além dos picos de crescimento.
“Se a criança não dorme bem, seu desenvolvimento fica comprometido, e ela não consegue assimilar o aprendizado do dia’’, explica a especialista. Um dos erros mais comuns é a utilização de lâmpadas azuis ou luz branca nos ambientes infantis, o que interfere no ciclo natural do sono. “Quando o olho capta a luz azul, ele interpreta como sendo luz do dia, inibindo a produção de melatonina e ativando a produção de cortisol, o hormônio do estresse”, alerta.
A arquiteta enfatiza a importância de compreender os riscos e benefícios associados à iluminação digital. Luzes RGB, especialmente a luz azul, não devem ser usadas em quartos infantis, pois são prejudiciais à saúde das crianças. Para criar um ambiente propício ao desenvolvimento infantil, Gomes sugere diferentes abordagens de iluminação para diferentes atividades.
“Durante o dia, a exposição à luz natural é a melhor opção, mas para estudo, a luz neutra é ideal”, explica ela. “À noite, a iluminação deve ser suave e amarelada para não perturbar o sono”, conclui.
Design Inclusivo e Espaços Funcionais
À medida que exploramos como a arquitetura impacta o desenvolvimento infantil, não podemos ignorar a necessidade de tornar os espaços acessíveis a todas as crianças, independentemente de gênero, mobilidade ou necessidades cognitivas. A Designer de interiores Mariana Ribeiro, destaca a importância de considerar a inclusão na concepção de espaços para crianças.
“Acredito que o design inclusivo é uma realidade hoje e deve atender muitas famílias”, afirma Mariana. “Cabe a nós ouvir a voz de todas as crianças e criar ambientes que as acolham e atendam às suas necessidades. O design deve ser para todos, e a inclusão é a essência de um futuro igualitário e melhor para todos nós.”
A Designer observa que a maioria dos locais atualmente não é construída para atender a diversas necessidades, mas a legislação de edificações existe e prevê a adaptação de espaços residenciais e comerciais para atender a todos. Ela enfatiza a importância de seguir essas diretrizes para tornar os espaços acessíveis a todas as crianças.
Em resumo, a arquitetura desempenha um papel fundamental no desenvolvimento infantil, influenciando a forma como as crianças aprendem, brincam e se relacionam com o mundo ao seu redor. Ouvir as crianças, criar ambientes estimulantes e incorporar elementos naturais são apenas algumas das maneiras pelas quais os arquitetos podem contribuir para um crescimento saudável na infância.
