Solo de dança marca os 15 anos de carreira de artista mineira

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Araguarina Juliana Iyafemí estrela espetáculo que tem trilha sonora assinada por filho de Caetano Veloso

Quem já teve a oportunidade de conhecer uma casa-de-santo sabe o quão místico e fascinante é um rito de iniciação ao candomblé. Os sons dos atabaques envolvem os participantes e ditam o ritmo da dança que irá convocar os orixás para dar início ao ritual religioso. Essa é a temática do espetáculo “Qual é o seu nome?”, que estreia dia 6 de fevereiro, às 20h, em plataforma digital (https://www.sympla.com.br/solo-de-danca—qual-e-o-seu-nome__1101412) e marca os 15 anos de carreira da artista mineira Juliana Iyafemí. Outras três apresentações serão feitas ao longo dos meses de fevereiro e março. (Datas abaixo)

Natural de Araguari, onde iniciou sua caminhada artística e atuou por vários anos, Juliana é formada em Teatro pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), bailarina e produtora cultural. Uma artista movida pela sua própria inquietação. Atualmente, vive em Natal (RN) e se prepara para novos desafios na Bahia; já rodou o país e países como Itália, Espanha, Peru, Uruguai, Suíça e Alemanha, em apresentações de dança, teatro, rodas de capoeira, dentre outros projetos que reforçam o quanto a cultura afro está enraizada na sociedade. “Em todos esses países sempre fiz uma ‘Jam Session’, uma apresentação livre. Por onde vou levo meu corpo que é minha casa e meu trabalho”, revela.

Ao completar uma década e meia na estrada artística, Iyafemí leva para o palco de forma minimalista todos os elementos da natureza – água, fogo, ar, terra, mato –, bastante presentes no candomblé e que são apresentados artisticamente e de maneira respeitosa. Com duração de 20 minutos, o solo de dança é protagonizado pela dançarina e atriz Juliana Iyafemí, que também compôs toda a narrativa. A artista fará outras apresentações, sempre com a proposta de um bate-papo ao final.

O espetáculo mistura o erudito e o popular para falar sobre a iniciação da dançarina na religião do candomblé. Também trata sobre elucidações acerca da cultura afro-brasileira, através da valorização do samba de roda, da capoeira e das danças baseadas nos movimentos dos orixás – os três são tombados como patrimônios imateriais do Brasil.

O rito de iniciação proposto na dança ainda remete o público a pensar o que faz as pessoas começarem algo diferente todos os dias, ou simplesmente começar de novo. Ou ainda, quem é você para além do seu nome.

Nos bastidores, estão dois fortes expoentes da arte contemporânea nacional. A diretora Vera passos é professora, bailarina e coreógrafa com trabalhos consolidados que vão das danças tradicionais brasileiras ao balé clássico. Atualmente, é uma das difusoras da Técnica Silvestre de dança, juntamente com a idealizadora Rosângela Silvestre. Já a trilha sonora é assinada por Moreno Veloso, que também é candomblecista e filho de Caetano Veloso com sua primeira esposa, a dançarina Gadelha Veloso. Multi instrumentista, Moreno tem no currículo os álbuns “Máquina de Escrever Música” (2000) e “Coisa Boa” (2014) e composições gravadas por artistas como Adriana Calcanhoto, Roberta Sá e o próprio Caetano.

O título do espetáculo – “Qual é o seu nome?” – foi tirado do trecho de uma das mais recentes composições de Moreno, que assim como a trilha sonora do espetáculo, foi feita especialmente para Juliana Iyafemí. O que aliás foi algo inédito na carreira do compositor. Ele já havia produzido trilha sonora que inspirou outros trabalhos de dança, como o grupo Corpo, de Belo Horizonte, mas, no caso atual, ele fez o caminho inverso, ou seja, criou uma trilha para um espetáculo que tinha os movimentos definidos. Sobre a relação com Moreno, a atriz diz que “foi um reencontro e que a generosidade dele é imensa, além do impecável profissionalismo. Trabalhar com Moreno é uma gratidão imensa.”

Essa dinâmica se deu por conta da pandemia, o que fez com que toda a produção fosse acompanhada à distância. A artista, por exemplo, fez a maioria dos ensaios sem música. “Tive que me reinventar, aprender a escutar o som do silêncio, o som do palco”, conta Juliana Iyafemí, que agora tem o desafio de dançar para a câmera, sem o calor do público.

Desta vez, no entanto, seus passos serão acompanhados pelos ritmos africanos entoados numa trilha que tem como principais instrumentos a lixa, o pandeiro e o violoncelo.

Filme

No fim do ano passado, Juliana protagonizou e idealizou o curta-metragem “Entenebrecida – Um experimento sobre a carne” em que mira os holofotes na questão racial, de classe, de gênero e canaliza sua energia na elucidação das culturas de matrizes afrodescendentes, o que na essência é um trabalho de valorização da própria história do Brasil.

Com direção de Rafael Bacelar, o filme está disponível para exibição gratuita no YouTube até o dia 17 deste mês. Depois, o trabalho será inscrito em editais de cultura nacionais e internacionais.

Ficha técnica:

“Qual é o seu nome?”

Estreia: 6 de fevereiro, às 20h

Apresentações: 20/02 – 20h

                           06/03 – 20h

                           15/03- 20h

Ingressos: https://www.sympla.com.br/solo-de-danca—qual-e-o-seu-nome__1101412

(R$ 35)

Orientação: Vera passos (BA)

Trilha sonora: Moreno Veloso (RJ)

Composição/ Dançarina: Juliana Iyafemí (MG/RN)

Figurino: Mamba Negra (RN)

Costureira: Maria de Lourdes Quirino (RN)

Contra -regragem| operação de som| operação projeção| iluminação: Giovanna Araújo (RN)

Espaço de ensaio: Tecessol (RN)

Vozes iniciais: Dofona de Oxóssi e gamotinho de omolu (ilê axé afinka – macaíba/RN)

Arte e montagem projeção: Fernando Franco (PB)

Produção: Grupo de Artes Comboio (MG)

Agradecimentos: Minha mãe Oyá, Todo Egbé do Ilê Axé Afinka(Macaíba- RN) em especial Babalorixá Jorge Freire de Oxaguian, Toda Família Lopes e Nascimento(em especial Iúna-minha filha), Lei Aldir Blanc, Flaira Ferro, Igor de Carvalho, Alexandre Américo, Grupo Facetas em especial Giovanna Araújo, toda equipe de trabalho e Grupo de artes comboio.