A véspera do aniversário de Rogério Simões, em 15 de setembro, não seria apenas mais uma data no calendário. No mesmo dia em que se celebra a padroeira de Minas Gerais, o jornalista recebeu um convite que mudaria a trajetória de sua carreira: apresentar uma série especial sobre a Cordilheira do Espinhaço, exibida nacionalmente na TV aberta em dez episódios dedicados à única cordilheira brasileira, reconhecida pela UNESCO como Reserva da Biosfera.
Entre a surpresa, a emoção e a urgência, já que era preciso estar na estrada em apenas dois dias, Rogério não hesitou. Aceitou o convite não pelo brilho da TV, mas porque entendeu, de imediato, que aquela travessia seria um processo pessoal importante e um elo necessário entre o que já construiu e o sonho que vem desenhando há anos de consolidar-se como contador de histórias em projetos mais autorais, como o “Virei o Jogo” (que conta histórias de superação e está no ar no canal do jornalista no Youtube).
“Quando o telefone tocou, eu sabia que não era só mais um trabalho. Era véspera do meu aniversário, dia da padroeira de Minas, tudo para mim foi um sinal e eu senti que tinha algo de chamado ali. Aceitei porque entendi que essa jornada na Cordilheira podia organizar muita coisa dentro de mim e abrir caminho para outra fase mais autoral da minha carreira”, afirma Rogério Simões.
Uma travessia que começa em casa
O caminho até a Cordilheira, no entanto, começou antes da primeira tomada. Na madrugada do seu próprio aniversário, Rogério passou horas em um hospital, ao lado da mãe, que havia sofrido uma hemorragia. Entre exames, apreensão e muita fé, nasceu uma espécie de pacto silencioso, que afirmava internamente que se tudo ficasse bem, ele seguiria adiante por ela, por ele e pelas histórias que ainda não tinham sido contadas.
Na manhã seguinte, com o coração ainda apertado e a mala apressada, Rogério pegou a estrada. A travessia emocional entre o medo e a coragem, a preocupação e a entrega acabaram se tornando parte invisível do roteiro. Segundo ele, não aparece nos créditos, mas está presente em cada escolha de palavra, em cada silêncio diante de um horizonte de montanhas.
“Eu cheguei à Cordilheira já mexido por dentro”, conta Rogério. “Não fui para fazer turismo. Fui ouvir. Cada vila, cada igreja, cada pedra tinha uma história para me contar e eu tinha a responsabilidade de traduzir isso da melhor maneira para quem está em casa”, complementa.
Cordilheira do Espinhaço: mais que cenário, experiência
Ao longo de dez episódios, Rogério se colocou no lugar que hoje escolhe para si. Ele não apenas é o apresentador, mas alguém que vive a pauta antes de narrá-la. Na Cordilheira do Espinhaço — cadeia de montanhas que se estende por mais de mil quilômetros, de Minas Gerais à Bahia — ele escalou pela primeira vez, mesmo com medo de altura, sangrou na pedra, mergulhou em cachoeiras geladas, percorreu trilhas intensas e se permitiu ser conduzido pelas histórias de quem já nasceu com a serra no horizonte.
Entre uma gravação e outra, Rogério conheceu uma cidade que disputa o título de maior PIB per capita do mundo, visitou a menor basílica do planeta e mergulhou na riqueza do patrimônio imaterial mineiro: as festas populares, as ladainhas, os sotaques que mudam de uma região para outra, as receitas que atravessam gerações.
A série leva o público por vilarejos históricos, parques naturais, cachoeiras e centros culturais de cidades como Ouro Preto, Serra do Cipó, Conceição do Mato Dentro, Serro, Grão Mogol, Diamantina, Biribiri, Botumirim e Montes Claros, sempre amarrando esporte de aventura, cultura, história e gastronomia em uma narrativa única.
“Em certo momento, eu entendi que a Cordilheira não era cenário, mas sim personagem. E se eu não escutasse direito, corria o risco de transformá-la em cartão-postal, quando, na verdade, ela é uma crônica viva do Brasil”, diz o jornalista.
O olhar mineiro, técnico e sensível
Em um momento em que o audiovisual de viagem e aventura muitas vezes se apoia em imagens deslumbrantes, mas superficiais, Rogério se posiciona em outra chave: a de quem usa técnica, experiência de redação e “olhar mineiro”, aquele desconfiado, sereno e atento aos detalhes, para transformar paisagens em histórias que fazem sentido para quem vive ali e para quem assiste de longe.
Nas gravações, ele se deixou guiar pela gastronomia (queijo do Serro, quitandas, pastel de angu, doces, requeijão moreno, bolo de mandioca com goiabada, arroz com pequi, azeites e vinhos produzidos em vilarejos da cordilheira), pelas manifestações de fé, pela recepção calorosa das comunidades e pela cultura que resiste nos gestos, nos sotaques e nas mesas de cozinha.
O resultado é um trabalho que, ao mesmo tempo, valoriza Minas Gerais e reposiciona Rogério no mercado como um profissional capaz de conduzir projetos de viagem, turismo, ecoturismo, lifestyle e storytelling humano com profundidade, credibilidade e sensibilidade.
Do Globo Esporte ao storytelling de virada de chave
Com cerca de 15 anos de atuação na Globo, boa parte deles como apresentador e editor-chefe do Globo Esporte na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, Rogério construiu sua reputação ancorado no esporte, na agilidade da informação, no poder de sua locução e na habilidade de conduzir entrevistas ao vivo.
Ao longo desse percurso, no entanto, começou a se destacar algo que ia além de números e resultados. O que o movia eram as histórias por trás dos placares, especialmente aquelas que representavam viradas de chave na vida de alguém.
Dessa inquietação nasceu justamente o “Virei o Jogo”, projeto autoral em que ele se dedica a ouvir pessoas que, de alguma forma, conseguiram mudar o rumo da própria história. O programa reforçou uma transição importante na carreira de Rogério, que foi de apresentador esportivo ao jornalista que escolhe, deliberadamente, ser contador de experiências.
A série da Cordilheira do Espinhaço aprofunda e amplia esse movimento. Ela funciona como um portfólio vivo da capacidade de Rogério de transitar por viagens, natureza, cultura, espiritualidade e desafios físicos sem perder o fio humano da narrativa: “Percebi que lugares são feitos de gente, e gente é feita de histórias. Quando a gente junta tudo isso com cuidado, o que se cria não é só um conteúdo: é uma experiência”, resume.
A Cordilheira como ponto de partida, não como destino
Embora seja um projeto exibido nacionalmente dentro do Band Esporte Clube e conteúdos disponibilizados também nas plataformas digitais da Band, a série representa para Rogério sobretudo um marco autoral. A travessia pela Cordilheira do Espinhaço abre caminho para um projeto ainda mais ambicioso do jornalista de viajar pelas Sete Maravilhas do Mundo e, a partir de histórias de pessoas comuns e encontros improváveis, construir narrativas em torno da ideia de uma “Oitava Maravilha”, menos geográfica e mais humana.
Segundo ele, a experiência no Espinhaço comprovou, na prática, que chegou o momento de novos voos: “a minha experiência com linguagem televisiva, estúdio e reportagem mas, sobretudo, essa minha vontade de me colocar em campo com disponibilidade emocional e curiosidade genuína mostraram com clareza alguns rumos que quero tomar daqui para frente na comunicação.
Rogério conclui: “Meu sonho é que cada lugar, por mais famoso que seja, deixe de ser só um ponto no mapa e passe a ser lembrado pelas vidas que o atravessam. A Cordilheira foi o primeiro grande laboratório dessa visão”.



