Outubro Rosa: tratamentos oncológicos podem afetar a visão e exigem acompanhamento oftalmológico

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Durante a campanha Outubro Rosa, a atenção à saúde da mulher se volta principalmente à prevenção e ao tratamento do câncer de mama. No entanto, pouco se fala sobre os efeitos colaterais dos tratamentos oncológicos na visão. De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, o Brasil registra mais de 700 mil novos casos de câncer por ano e parte desses pacientes pode apresentar complicações oculares decorrentes de quimioterapia, radioterapia ou terapias hormonais. Alterações visuais podem surgir durante ou após o tratamento e, sem acompanhamento especializado, comprometer a saúde ocular de forma permanente.

O oftalmologista da Hapvida, Antônio Jordão, explica que os impactos variam conforme o tipo de tratamento e o tempo de exposição. “Os efeitos oculares são geralmente secundários, mas exigem acompanhamento regular para prevenir danos irreversíveis à visão”, afirma.

Entre os sintomas mais frequentes estão: visão turva, sensibilidade à luz, ressecamento ocular, inflamações e aumento da incidência de catarata e glaucoma. “Esses sintomas podem regredir após o término do tratamento, mas alguns persistem e requerem manejo especializado”, diz Jordão.

As diferenças entre os tipos de terapias também influenciam os riscos. Segundo o especialista, a quimioterapia provoca efeitos sistêmicos, pois seus agentes circulam por todo o corpo e atingem tecidos de rápida renovação celular, como os oculares. Já a radioterapia gera danos localizados e cumulativos, muitas vezes tardios, ao irradiar tecidos próximos ao feixe de radiação. “As terapias hormonais, por sua vez, especialmente com o uso de tamoxifeno, apresentam toxicidade ocular cumulativa e dose-dependente, com afinidade pelo tecido retiniano”, destaca Antônio Jordão.

O médico alerta ainda que os medicamentos utilizados no tratamento oncológico podem potencializar doenças oculares preexistentes, como catarata, glaucoma ou olho seco. “Existe um efeito potencializador importante, que reforça a necessidade de acompanhamento oftalmológico mesmo entre pacientes sem histórico prévio de problemas de visão”, observa.

A importância da abordagem interdisciplinar
A integração entre o oftalmologista e o oncologista é, segundo Jordão, essencial para garantir o cuidado integral da paciente. “A abordagem interdisciplinar permite prevenir, diagnosticar e manejar precocemente as complicações oculares associadas ao tratamento, garantindo preservação visual e melhor qualidade de vida”, explica.

Além dos impactos físicos, a perda temporária da qualidade visual pode afetar emocionalmente o paciente. O especialista destaca que o acolhimento médico deve envolver empatia, suporte psicológico e comunicação transparente. “Essa abordagem humanizada minimiza o sofrimento emocional e potencializa o engajamento terapêutico”, afirma.

No contexto da campanha Outubro Rosa, o oftalmologista reforça a importância de incluir os olhos no cuidado oncológico. “Recomenda-se que pacientes em qualquer modalidade de tratamento realizem avaliações oftalmológicas regulares, especialmente se apresentarem sintomas como visão borrada, dor ocular, lacrimejamento excessivo ou fotofobia”, orienta.

A detecção precoce de alterações visuais, segundo o médico, permite intervenções simples, como uso de colírios lubrificantes, ajuste de medicações ou procedimentos cirúrgicos, e contribui para preservar a visão e a qualidade de vida durante e após o tratamento.