Estamos nos tornando apáticos? Setembro Amarelo convoca à empatia e à ação

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Vivemos tempos nos quais quem sofre em silêncio muitas vezes não encontra resposta. É como se estivéssemos presos ao próprio umbigo, deixando de oferecer empatia e ajuda ao próximo. Mas será que estamos conscientes desse afastamento crescente, ou será que estamos, pouco a pouco, nos acostumando a essa indiferença? Infelizmente, os números não deixam dúvidas: o Brasil ocupa o primeiro lugar mundial em ansiedade. Esse dado foi evidenciado em um estudo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria em 2017, que analisou comparativamente a incidência desses transtornos em diversos países, e confirmado em uma revisão de 2020 disponibilizada pelo National Center for Biotechnology Information, vinculada ao National Institutes of Health dos Estados Unidos, que reforçou a posição do país como líder global.

No campo profissional, o cenário também é alarmante. Segundo levantamento da International Stress Management Association (ISMA-BR), divulgado em 2022, cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout, colocando o Brasil na segunda posição mundial, atrás apenas do Japão. Esses dados revelam um quadro em que a falta de acolhimento, de escuta ativa e de apoio mútuo se traduz diretamente em adoecimento coletivo, impactando não apenas indivíduos, mas também empresas e a sociedade como um todo.

O Setembro Amarelo é um convite à reflexão coletiva, afinal mais do que uma campanha, ele nos lembra que cada gesto importa e que todos temos responsabilidade em construir uma sociedade mais empática e atenta ao outro. Não basta colorir o calendário ou compartilhar mensagens nas redes; é preciso transformar a conscientização em atitude diária. O cuidado nasce na escuta ativa, no interesse genuíno por quem está ao nosso lado, no simples “como você está?”, feito com atenção verdadeira.

Dentro das empresas, isso significa criar ambientes de escuta genuína, onde líderes e colegas valorizem o diálogo, respeitem limites e compreendam que produtividade e bem-estar precisam caminhar lado a lado. Diante disso, é papel da liderança estar preparada para identificar sinais de sofrimento emocional e acolher sem julgamento, transformando discursos em práticas reais. Políticas de saúde mental devem se traduzir em programas de apoio psicológico, flexibilização de jornadas em momentos críticos, incentivo ao diálogo aberto e treinamentos que promovam empatia e respeito. Investir em rodas de conversa, canais de acolhimento e ações de bem-estar não é apenas cuidado humano, mas também uma estratégia inteligente, que aumenta o engajamento e fortalece a confiança entre equipes.

Na vida pessoal, o convite é o mesmo, pois é preciso oferecer presença, apoio e ternura em tempos de correria e distanciamento. Se queremos mudanças reais, precisamos assumir nosso papel como agentes de cuidado, cultivando relações mais leves, respeitosas e solidárias, afinal, cada um de nós pode ser ponte entre a apatia e o acolhimento e é nesse movimento que vidas se transformam. Importante destacar que vida pede leveza, ternura e conexão; não é mesmo? Pessoas com medo de serem julgadas evitam se abrir e acabam carregando o peso da angústia sozinhas. Enquanto isso, o distanciamento emocional aumenta, sendo vital inverter essa lógica.

A empatia é um antídoto poderoso para este cenário. O contato verdadeiro com o outro, ainda que em gestos pequenos, tem força para aliviar dores e transformar distâncias em pontes de solidariedade. Oferecer gentileza, colocar nossos talentos a serviço da sociedade e estar presente pode mudar a vida de alguém. Precisamos trocar a apatia por cuidado ativo. Escutar quem sofre não é um favor, é uma urgência. Seja no trabalho, em casa ou entre amigos, o apoio sincero e o diálogo aberto reduzem ansiedades, previnem o burnout e fortalecem laços que podem evitar tragédias.

O Setembro Amarelo não deve se limitar a campanhas visuais ou a uma data no calendário. Ele é um chamado permanente à compaixão — para estender a mão sem julgamentos e reconhecer que todo gesto de apoio pode ser um passo em direção à vida. Viver exige leveza, mas também exige que olhemos além de nós mesmos, com atenção e afeto. Que possamos transformar ideias em atitudes reais, acolher quem se sente invisível e dizer, com presença verdadeira: “estou aqui”. Às vezes, esse simples gesto é o que faz toda a diferença.

Nosso papel também envolve, inevitavelmente, o olhar para dentro. A vida nos convida à autoresponsabilização: entender que protagonizar não é apenas escolher caminhos, mas também reconhecer limites. O autoconhecimento abre espaço para perceber quando a carga se torna pesada demais e quando é hora de buscar apoio profissional — sem medo, sem vergonha. Cuidar de si é um ato de coragem e maturidade, tão essencial quanto cuidar do outro. Ser protagonista da própria trajetória é compreender que não precisamos enfrentar tudo sozinhos e que pedir ajuda faz parte da construção de uma vida mais leve, equilibrada e autêntica.

David Braga – CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent, empresa de busca e seleção de executivos, presente em 30 países e 50 escritórios pela Agilium Group; É Conselheiro de Administração e Professor pela Fundação Dom Cabral, Presidente da ABRH MG, VP do Conselho de RH da ACMinas e Presidente do Conselho de Administração do ChildFund Brasil. Instagrams: @davidbraga | @prime.talent