Estima-se que plataformas recebam 2,5 bilhões de prompts por dia, muitos deles relacionados a sintomas, tratamentos ou esclarecimentos médicos
Cada vez mais pessoas recorrem à inteligência artificial em busca de orientação sobre saúde. No Brasil, cerca de 10% da população adulta já utiliza chats de IA, como o ChatGPT, para buscar conselhos ou desabafar sobre questões de saúde e bem-estar. No mundo, a plataforma processa mais de 2,5 bilhões de interações diárias, muitas delas relacionadas a sintomas, tratamentos ou dúvidas médicas. Esse fenômeno levanta reflexões importantes sobre os limites e as potencialidades da tecnologia no cuidado com a vida.
Do lado positivo, a IA oferece acesso rápido e abrangente a informações médicas, democratiza o conhecimento, orienta sobre hábitos saudáveis e pode até ajudar a identificar sinais de alerta em casos iniciais. No entanto, há desafios claros: o risco de informações incorretas, diagnósticos imprecisos e a ausência do olhar humano — fundamental para avaliar aspectos emocionais, sociais e subjetivos do paciente, como alerta o reumatologista Dr. Carmo Gonzaga de Freitas.
“Mudanças significativas na sociedade, como o surgimento de ferramentas de inteligência artificial, devem ser discutidas de forma ampla, considerando impactos e desdobramentos”, afirma o médico que se formou em 1972, iniciando atendimentos em uma época em que praticamente não havia exames laboratoriais ou de imagem, tornando a relação entre médico e paciente a principal ferramenta de diagnóstico.
De lá para cá, Dr. Carmo já acompanhou mais de 45 mil pessoas e testemunhou grandes transformações na medicina. “Apesar dos avanços tecnológicos, para mim, nada substitui a escuta atenta, o olhar humano e a relação de confiança entre médico e paciente”, diz.
Se por um lado pacientes já buscam respostas em ferramentas digitais, do outro, os futuros médicos também recorrem à IA como apoio à sua formação. Uma pesquisa realizada com estudantes da Universidade Regional de Blumenau revelou que 76,6% utilizam o ChatGPT para compreender conceitos complexos, elaborar resumos ou resolver situações-problema.
“A era da inteligência artificial é também um convite para repensar a educação médica. Estamos formando profissionais tecnicamente competentes, mas também humanos, empáticos e preparados para enxergar o paciente em sua integralidade? Afinal, diante de máquinas cada vez mais inteligentes, a verdadeira diferença continuará sendo feita pela sensibilidade e pelo olhar humano”, acredita Dr. Carmo Gonzaga de Freitas.