Quando o amor abre a porta: o impacto das famílias acolhedoras na vida de crianças em situação de risco

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“Você pode ser a diferença entre trauma e esperança.” A frase resume o espírito do Serviço Família Acolhedora da Missão Sal da Terra, iniciativa que, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social e o Poder Judiciário de Uberlândia, oferece a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade um lar temporário, mas repleto de amor, cuidado e proteção.

Juliana Rodrigues, autônoma e mãe acolhedora de 12 crianças ao longo dos anos, conta que o chamado surgiu após assistir a uma reportagem na TV. O incentivo das filhas foi o empurrão final para iniciar a jornada. “É um caminho que exige muito do coração”, define. O primeiro acolhimento — uma bebê de dois meses em estado de negligência — permanece vivo na memória da família.

Os números são alarmantes: segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 33 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos no Brasil, enquanto em Uberlândia mais de 70 acolhidos estão sob medida protetiva, aguardando o retorno à família de origem ou adoção. E menos de dez famílias estão cadastradas no programa de acolhimento familiar — um dado que reforça a urgência de ampliar essa rede de cuidado.

De acordo com Karina de Melo Garcia, coordenadora do serviço na Missão Sal da Terra, o acolhimento familiar oferece o que instituições dificilmente conseguem: atenção individualizada, vínculo afetivo e segurança emocional. “Durante períodos de separação dolorosa da família de origem, o acolhimento familiar oferece um espaço de apoio e compreensão, ajudando a criança a superar o luto e a adaptar-se com senso de pertencimento e estabilidade”, explica.

A rotina das famílias acolhedoras não é simples, mas é transformadora. Juliana conta que o maior desafio é lidar com as marcas que essas crianças carregam. “Os bebês chegam com atrasos no desenvolvimento, desnutridos, assustados. Os adolescentes, mais fechados, testam a gente, porque querem ver se o cuidado é verdadeiro.” E quando chega a hora da despedida? “A gente chora muito. Porque o amor é real. Mas há paz em saber que fizemos o melhor possível naquele tempo.”

Uma das histórias que mais a marcou foi a de um menino de 10 anos. “Ele nos contou que, para se alimentar, pedia comida nas ruas. É algo que ninguém esquece.”

A transformação, no entanto, é visível. “Com o tempo, vemos o bebê que sorria pouco batendo palminha, engatinhando, ganhando peso. Os adolescentes começam a confiar, a conversar, a se abrir. Acolher muda não só a vida deles, muda a nossa.”

Além de oferecer lares temporários, o Serviço Família Acolhedora atua para preparar as famílias. O Curso de Formação, ministrado por psicólogos e assistentes sociais, aborda desde aspectos emocionais até temas sensíveis como o desligamento e a desvinculação, para que o período de transição seja vivido com empatia. “Embora seja transitório, o impacto emocional e o vínculo criados podem durar para sempre”, destaca Karina.

Para participar, é necessário ter mais de 21 anos, morar em Uberlândia há pelo menos dois anos, estar em boas condições de saúde física e mental, e ter o consentimento de todos na casa. O serviço é inclusivo: famílias homoafetivas, pessoas solteiras, casais e idosos são bem-vindos.

Juliana resume o sentimento de quem vive essa missão: “O medo faz parte, mas não pode nos paralisar. Quando você diz ‘sim’, muda a vida da criança e a sua também.”

?? Quer ser essa diferença? A próxima edição do Curso de Formação para Famílias Acolhedoras acontece nos dias 07, 08, 09 e 10 de Julho, das 19h às 22h, na Rua Euclides da Cunha, 920, Bairro Custódio Pereira. Informações: (34) 3226-9317 ou @familiaacolhedora_uberlandia.