Em meio aos desafios impostos pelo clima semiárido do Norte de Minas Gerais, o plantio do algodão ressurge como força produtiva e vetor de desenvolvimento sustentável. E a força dos pequenos produtores tem sido um dos catalisadores dessa retomada; prova disso foi a presença expressiva deles no Circuito Técnico Amipa 2025 (CTA), que, em sua segunda etapa, realizada em 28 de maio na Fazenda Lagoa Escura, em Catuti (MG), reuniu mais de 300 participantes entre produtores rurais, técnicos, representantes de empresas, instituições de pesquisa, lideranças políticas, entre outros.
Com organização da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), apoio do Grupo de Estudos do Algodão Mineiro (GEAM), coordenação regional da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti Ltda. (Coopercat) e patrocínio da Bayer , o evento teve como temas centrais a nutrição e a sanidade do algodoeiro, com ênfase no uso racional de defensivos no controle do bicudo-do-algodoeiro, e a introdução de novas biotecnologias.
A programação incluiu uma palestra do especialista em algodão, Cláudio Silveira, que destacou a necessidade de um pacote tecnológico completo para se alcançar produtividade e qualidade na cultura do algodão. “A minha principal mensagem aos produtores foi mostrar que há um caminho seguro para produzir algodão com qualidade. O Norte de Minas precisa retomar sua vocação algodoeira, mas com base em tecnologia atualizada, diferente da realidade da década de 80. Por isso, os eventos do Circuito são fundamentais, especialmente por atraírem muitos jovens”, afirmou.
Inovação e biotecnologia no campo
A Bayer, por meio do líder do negócio de algodão da divisão agrícola no Brasil, Fernando Prudente, destacou os investimentos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), que somaram € 2,6 bilhões, globalmente, em 2024. Parte significativa desses recursos tem como foco o aumento da produtividade no cultivo de algodão através do desenvolvimento de soluções integradas, como a biotecnologia Bollgard® 3 RRFlex®, que oferece proteção ampliada contra as principais lagartas e flexibilidade no controle de plantas daninhas.
Nas lavouras do semiárido mineiro, a aplicação prática dessa tecnologia foi observada na safra 2023/24, quando agricultores familiares apoiados pela Coopercat colheram até 400 arrobas por hectare, superando a média regional de 250 arrobas. Segundo Prudente, essa performance decorre do uso de sementes Deltapine com biotecnologia incorporada e do suporte técnico oferecido pela Bayer, que inclui desde recomendações agronômicas até agricultura digital e uso de drone para aplicação precisa de defensivos.
“Trabalhamos com cultivares adaptadas ao clima semiárido, como a DP1866 B3RF e DP1857 B3RF, que têm se mostrado estáveis e produtivas. O foco é entregar soluções que aliem rentabilidade, sustentabilidade e acesso à tecnologia de ponta aos produtores”, explicou.
Coopercat e o protagonismo do pequeno produtor
Para José Tibúrcio Carvalho Filho, gerente técnico e comercial da Coopercat, a retomada da cotonicultura na região passa necessariamente pela valorização do pequeno produtor. “O evento foi excelente, com mais de 300 participantes. O destaque ficou para a presença de estudantes, o que reforça nosso compromisso com a sucessão familiar. Mostramos que é possível produzir algodão com qualidade, mesmo em regiões de déficit hídrico, utilizando sistemas de irrigação e as ferramentas certas, como o drone”, afirmou.
O dirigente também ressaltou a importância das parcerias com a Bayer, e com o Centro de Difusão de Tecnologias Algodoeiras de Catuti (Ceditac), que viabilizaram o acesso dos pequenos produtores à biotecnologia e à mecanização do plantio e colheita. “O Ceditac tem sido um marco nesse processo, oferecendo estrutura de beneficiamento e capacitação. Além disso, estamos reduzindo o número de aplicações de defensivos de 25 para 10, graças à biotecnologia, com mais segurança para o agricultor e menor impacto ambiental.”
Ainda segundo José Tibúrcio, o engajamento dos produtores nessa etapa do CTA gerou repercussões positivas. “Recebemos mensagens de quem participou e de quem não pôde comparecer, demonstrando o quanto o trabalho realizado é significativo. Há um movimento real de aumento de área plantada, com apoio da Amipa e dos nossos parceiros.”
Juventude e sucessão rural em pauta
Um dos pontos de destaque do evento foi a integração com estudantes da região, evidenciando o esforço conjunto para atrair jovens para a cadeia produtiva do algodão. Cláudio Silveira ressaltou: “tomara que algum desses jovens se interesse pela cultura do algodão, porque isso garante continuidade e renovação ao setor”.
Em 2024, a Bayer doou um drone aos agricultores familiares para a aplicação precisa de defensivos, o que tem se mostrado eficaz no controle da praga do bicudo-do-algodoeiro, com redução significativa no uso de calda de pulverização, o que, além de aumentar a eficiência das pulverizações, protege o trabalhador rural do contato direto com defensivos agrícolas. A agricultura digital, nesse contexto, surge como ponte entre tradição e inovação, conectando as novas gerações ao campo com propósito e tecnologia.
Perspectivas para o setor algodoeiro em Minas Gerais
O presidente da Amipa, Daniel Bruxel, destacou que Minas Gerais vive um novo ciclo da cotonicultura, agora ancorado em ciência e articulação entre os diferentes elos da cadeia. “Estamos estruturando polos produtivos com base técnica sólida, capacitando os produtores, fomentando o acesso ao crédito, à certificação e à comercialização. A presença de jovens nos eventos do Circuito nos dá esperança de continuidade e renovação no campo”, afirmou.
Feliciano Nogueira de Oliveira, coordenador do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas), ressaltou que o programa tem como missão articular o setor público, a indústria têxtil e os produtores, promovendo políticas integradas e sustentáveis. “Investimos cerca de R$ 2,4 milhões na estruturação do Ceditac, e continuamos ampliando os incentivos à certificação da pluma e à qualificação técnica dos agricultores. O objetivo é consolidar uma produção de alto valor agregado e socialmente inclusiva”, explicou.
O secretário de Agricultura de Minas Gerais, Thales Almeida Pereira Fernandes, pontuou que a retomada do algodão no Norte de Minas é estratégica tanto para a agricultura familiar quanto para a economia do Estado. “Estamos apoiando essa reestruturação com programas como o Proalminas por meio do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura no Estado de Minas Gerais (Fundo Algominas), mas também com o suporte das nossas instituições técnicas — IMA, Epamig e Emater — para garantir pesquisa, extensão e sanidade. Os avanços com drones, irrigação e variedades adaptadas demonstram que é possível produzir com qualidade, mesmo em regiões de clima desafiador”, afirmou.
De forma complementar, Cláudio Silveira observou: “o algodão é uma cultura que exige conhecimento técnico constante. Os eventos como o Circuito Técnico são essenciais para atualização dos produtores e para garantir que essa retomada seja feita com segurança, qualidade e rentabilidade”.
Apoio ao Ceditac
Localizado em Catuti, no Norte de Minas, o Ceditac representa um marco na retomada da cotonicultura na região. O empreendimento, que está em fase final de testes, foi projetado para impulsionar a produção e a independência dos pequenos produtores locais. A estrutura conta com equipamentos específicos para armazenamento, descaroçamento e prensagem de algodão, além de salas destinadas ao atendimento técnico dos produtores e à recepção de delegações em missões nacionais e internacionais. Quando em plena operação, o Ceditac será capaz de processar até quatro fardos de 200 quilos por hora, atendendo a uma área plantada de cerca de 800 hectares.
Para Feliciano, o centro “vai ser um divisor de águas principalmente para a agricultura familiar e o pequeno produtor”, promovendo geração de renda e desenvolvimento regional.
O Ceditac foi concebido no âmbito da cooperação técnica “Projeto Regional para o Aperfeiçoamento de Técnicos Africanos em Cotonicultura”, financiado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores (MRE), e executado em parceria com a Amipa, Proalminas, Fundo Algominas, Coopercat, Universidade Federal de Lavras (UFLA) e a Prefeitura Municipal de Catuti. A iniciativa conta ainda com o apoio institucional do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Próximos passos
A próxima etapa do Circuito Técnico Amipa está agendada para 12 de junho em Ibiaí (MG) e deve dar continuidade ao processo de difusão tecnológica e valorização do produtor local. Com foco em inovação, sustentabilidade e inclusão social, o CTA 2025 tem se consolidado como um importante instrumento de fomento agrícola da cultura do algodão, articulando conhecimento e inovação.