Médica do Hospital Madrecor, de Uberlândia-MG, fala sobre a gravidade da doença relacionada a comorbidades e reinfecções.
A dengue voltou a ganhar os holofotes em Minas Gerais. Segundo a Secretaria de Saúde, até o dia 27 de janeiro deste ano, o estado registrou 12.485 casos prováveis. Desse total, 3.810 diagnósticos e dois óbitos foram confirmados. Outros seis seguem em investigação.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, já foram registrados 1.102 casos e uma morte em decorrência da doença. Diante do atual cenário, agravado devido ao período de chuvas, o assunto ganha foco na região. Por isso, a importância da prevenção e do conhecimento sobre os sinais de alerta.
A infectologista do Hospital Madrecor, da Hapvida NotreDame Intermédica, Camilla Resende Silva, explica que a doença, causada pelo vírus DENV, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, tem quatro sorotipos distintos (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Segundo a especialista, trata-se de uma condição dinâmica que pode evoluir rapidamente de uma forma para outra. Assim, num quadro de dengue clássica, em dois ou três dias, podem surgir sinais de alerta sugestivos de maior gravidade, que podem indicar uma evolução para dengue grave (hemorrágica). “Por isso orientamos manter a atenção a sangramentos, dor abdominal importante, vômitos que não cessam, sensação de desmaio, sonolência excessiva/letargia e redução da urina. Nesse caso, deve-se procurar uma unidade de saúde imediatamente”, diz.
Resende chama a atenção para a reinfecção por um novo sorotipo, porque pode aumentar a gravidade do quadro clínico, com maior resposta inflamatória. “E o DENV-3, associado a formas mais graves da doença, voltou a circular no país”, alerta a médica.
Segundo a infectologista, pacientes com comorbidades, como diabetes, hipertensão e obesidade, apresentam maior risco de complicações devido à propensão ao extravasamento de vasos sanguíneos. “Paciente com tais comorbidades já são intrinsecamente mais inflamados do que aqueles que não apresentam nenhum problema de saúde, portanto, são mais propensos a terem extravasamentos em pequenos vasos sanguíneos, que é a pior complicação da dengue. Nesses casos, temos um manejo com mais cautela com esse tipo de paciente por dificuldade de hiper-hidratação e consequentemente a chance de maior evolução para forma grave, como a hemorrágica”, contextualiza.
Coinfecções com outras doenças
A coinfecção entre dengue e outras doenças, como chikungunya e covid-19, é outro fator importante, pois pode dificultar o diagnóstico e o tratamento, afirma Camilla Resende. “Na coinfecção com chikungunya, a dengue tende a se sobressair devido à maior carga viral. No caso de covid-19, sintomas como febre e cefaleia podem atrasar o diagnóstico, exigindo diferenciação por meio de exames laboratoriais”, elucida.
A infectologista reforça que a prevenção segue como a principal estratégia para o controle da dengue. “A eliminação de criadouros do mosquito, o uso de repelentes e telas de proteção são medidas recomendadas. Além disso, a educação continuada para profissionais de saúde é fundamental para o correto reconhecimento e manejo das formas graves da dengue e de coinfecções. Por isso é importante as unidades de saúde manterem a vigilância e o atendimento adequado para minimizar os impactos da doença na comunidade”, destaca.
Para finalizar, a médica salienta que a população deve buscar assistência médica ao identificar sintomas suspeitos, especialmente os sinais de alarme. “A dengue é uma doença perigosa, além de ter o potencial para levar à morte, pode afetar diversos órgãos, provocando hepatite, miocardite e meningoencefalite, além de sintomas como febre, mialgia e cefaleia. Por isso é importante uma força-tarefa para enfrentarmos o mosquito, vetor da doença”, conclui.