Na contramão do crescimento da doença ocular – muito em parte devido à superexposição às telas -, combater o problema é uma realidade acessível
Há 20 anos, as crianças que apresentavam algum problema de vista eram quase uma exceção. Basta recordar a época da escola, e tentar imaginar quantos alunos da sala usavam óculos naquela época. Mas as gerações mais recentes de crianças, muitas ainda na primeira infância, com menos de seis anos de idade, se depararam com um mundo mais tecnológico, repleto de telas de celulares e tablets, brilhantes, coloridas e atraentes.
O resultado é que a população de pequenos míopes teve um boom nos últimos anos. Uma pesquisa publicada no último mês de setembro no British Journal of Ophthalmology reuniu 276 estudos que envolveram um total de quase 5,5 milhões de participantes de 50 países em todos os seis continentes. Entre 1990 e 2023, o salto de míopes foi de 24,32% para 35,81%, respectivamente. Em 2040, essa prevalência deverá ser de 36,59% e, em 2050, de 39,8%.
A despeito da elevação, que evidencia que uma em cada três crianças hoje sofre de miopia, existem tratamentos eficazes para desacelerar o problema. Essas medidas vão desde mudanças de hábitos até o uso de colírios e lentes especiais, conforme orienta Erika Yumi, oftalmologista do Núcleo de Excelência em Oftalmologia (NEO), clínica localizada na Vila da Serra, região nobre de Belo Horizonte.
“Os pais devem ficar atentos ao tempo de uso de telas pelas crianças e primar pela higiene visual constante, mas também há meios de que o oftalmologista pode lançar mão. Por exemplo, receitar o uso de colírios de atropina em baixa concentração, uso de lentes de óculos especiais que evitam a progressão da miopia e também recomendar o uso de Orto-K [lentes de contato ortoceratológicas]”, sugere. “Entretanto, qualquer que seja o tratamento, é preciso que essa instrução seja passada com rigor por um médico especialista”, adverte.
Cirurgia refrativa
Erika Yumi revela que a forma mais adequada para corrigir um caso de miopia é a cirurgia refrativa. Porém, admite, o procedimento não é recomendado para crianças, adolescentes e nem mesmo os mais jovens. “A cirurgia é capaz de reduzir ou até mesmo eliminar a dependência de medicações e do uso de lentes, além de ser uma solução de longo prazo. Além disso, há um nível de segurança hoje nesse procedimento que torna a ideia bem atrativa”, afirma a oftalmologista do NEO.
“O problema é que, antes dos 21 anos, aproximadamente, a miopia ainda não está estabilizada. Então o mais adequado é recorrer ao processo cirúrgico somente após essa idade. Se for feita a intervenção antes disso, há o risco considerável de a miopia ser retomada. O mais adequado é aguardar, mas o cuidado mais adequado e a verificação sobre o estado da miopia também dependem de uma avaliação do profissional”, finaliza a oftalmologista especialista em atendimento pediátrico.