Campanha alerta para a importância do pré-natal e do atendimento especializado a bebês prematuros, buscando reduzir as altas taxas de prematuridade no Brasil e promover melhores condições de sobrevivência e qualidade de vida.
Durante todo o penúltimo mês do ano, a campanha Novembro Roxo busca conscientizar sobre a prematuridade e promover a prevenção dos nascimentos prematuros, uma realidade que afeta 12% dos bebês nascidos no Brasil, colocando o país em 10º lugar no ranking global de prematuridade, atrás de países como Índia, China e Nigéria. O Dia Mundial da Prematuridade, celebrado em 17 de novembro, reforça a importância de ações para reduzir essas taxas e oferecer o suporte adequado aos bebês prematuros e suas famílias.
Dados da prematuridade no Brasil e no mundo
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), bebês nascidos antes das 37 semanas de gestação são considerados prematuros, e esses casos podem ser classificados em três categorias principais: prematuros extremos (antes das 28 semanas), muito prematuros (28 a 31 semanas), moderados (32 a 33 semanas) e prematuro tardio (de 34 a 36 semanas). Quanto ao peso, esses bebês são subdivididos em baixo peso (menos de 2,5 kg), muito baixo peso (menos de 1,5 kg) e extremo baixo peso (menos de 1 kg). No Brasil, aproximadamente 11% dos nascimentos ocorrem antes das 37 semanas, o que revela um problema de saúde pública com impactos significativos na mortalidade infantil e na qualidade de vida dos recém-nascidos e suas famílias.
As taxas de sobrevivência desses bebês variam drasticamente conforme a idade gestacional: prematuros extremos, nascidos entre 22 e 25 semanas, têm uma taxa de sobrevivência que vai de 2% a 70%, enquanto bebês nascidos entre 29 e 36 semanas têm uma chance de sobrevivência superior a 90%. Apesar das possibilidades de sobrevivência, o caminho é desafiador: muitos enfrentam internações prolongadas e demandam cuidados especializados desde o momento do nascimento.
A importância do pré-natal e do atendimento neonatal
Segundo a Dra. Paula Machado, obstetra do Hospital Mater Dei Santa Clara, um pré-natal de qualidade é fundamental para a prevenção da prematuridade. Exames essenciais, como de sangue, urina e ultrassonografias regulares, são cruciais para identificar e controlar fatores de risco como infecções urinárias, hipertensão, pré-eclâmpsia e condições como a incompetência ístmico-cervical, que podem levar a partos prematuros. Cuidados preventivos simples, como o controle rigoroso de infecções periodontais e urinárias, também desempenham papel relevante, evitando o agravamento de condições que podem precipitar o trabalho de parto.
A utilização de progesterona em gestantes com histórico de parto prematuro, bem como o diagnóstico precoce da incompetência cervical, são práticas recomendadas para prolongar a gestação. Em Uberlândia, o Comitê de Prevenção ao Óbito Materno Infantil realiza um trabalho essencial, intervindo preventivamente nas causas evitáveis da prematuridade.
Tanto a Dra. Paula quanto o Dr. Heloisio dos Reis, pediatra neonatal do Hospital Mater Dei Santa Clara, enfatizam a importância de uma equipe qualificada, preparada para lidar com as complexidades da prematuridade, desde a sala de parto até os cuidados pós-alta. Procedimentos como o uso de corticosteroides e sulfato de magnésio, durante a gestação, contribuem para o desenvolvimento pulmonar e a prevenção de complicações neurológicas nos prematuros. Além disso, Dr. Heloisio destaca o papel de indicadores e escores de gravidade aplicados aos bebês, que ajudam a equipe de saúde a prever e gerenciar riscos, preparando a família para os cuidados após a alta hospitalar.
Desafios e cuidados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI Neo)
Após o nascimento, bebês prematuros enfrentam uma série de desafios, sendo o principal garantir a sobrevivência com qualidade de vida. Para Dr. Heloisio, o avanço na tecnologia neonatal permitiu que recém-nascidos de gestação muito precoce pudessem sobreviver; contudo, a meta agora é oferecer uma vida com menor incidência de sequelas e comorbidades.
Na UTIN, médicos e enfermeiros utilizam indicadores de qualidade e escores de gravidade para monitorar o risco de complicações e morte nos bebês prematuros. Esses parâmetros guiam o plano de cuidado e possibilitam intervenções preventivas. Neste ambiente, uma abordagem multiprofissional, que integra pais e familiares no cuidado, é fundamental para o sucesso do tratamento. Práticas como o contato pele a pele, estimulação ao aleitamento materno e medidas para reduzir o estresse e o desconforto dos bebês são incentivadas, para fortalecer o vínculo familiar e ajudar no desenvolvimento do recém-nascido. Ele salienta que a inclusão de psicólogos e terapeutas no atendimento ajuda a família a lidar com o desafio emocional e prático de acompanhar um bebê prematuro.
Complicações e sequelas de longo prazo
Após o nascimento, a qualidade da assistência na UTIN continua sendo determinante. “Os processos de assistência e a redução de complicações são fundamentais para a sobrevivência e para a saúde do bebê, a longo prazo”, afirma o médico. Cuidados contínuos, que incluem controle de infecções e apoio imunológico pós-alta, ajudam a reduzir complicações que podem surgir após a saída da UTIN. A equipe de saúde orienta a família quanto à importância de vacinações e cuidados específicos, como a prevenção de doenças infecciosas.
Os bebês prematuros estão em maior risco de desenvolver sequelas neurológicas, pulmonares e oftalmológicas. Dr. Heloisio explica que, quanto mais precoce o nascimento, maior o risco de desabilidades neurológicas, como dificuldades de aprendizado, déficits de atenção e, em casos mais graves, paralisia cerebral. A prematuridade também eleva as chances de complicações pulmonares, devido ao uso prolongado de suporte ventilatório, podendo levar à displasia pulmonar crônica. Outras condições, como a retinopatia da prematuridade, exigem acompanhamento rigoroso para evitar perda visual.
Para essas crianças, o acompanhamento médico e o apoio familiar pós-alta são essenciais para minimizar os impactos das sequelas e promover uma adaptação saudável ao lar.
Uma campanha de conscientização e ação
A campanha Novembro Roxo busca sensibilizar a população e orientar gestantes e profissionais de saúde sobre a importância de prevenir e tratar a prematuridade. A participação ativa da família, somada ao apoio psicológico e às orientações sobre o acompanhamento de longo prazo, desempenha um papel essencial no desenvolvimento saudável dos prematuros, contribuindo para a redução das complicações e para uma integração mais tranquila em casa, após a alta.
O esforço conjunto entre equipes de saúde e a rede de apoio familiar é essencial para enfrentar os desafios da prematuridade e promover o desenvolvimento saudável dos bebês que chegam ao mundo antes da hora.