Surdez em idosos: impactos e manejo multidisciplinar na terceira idade

0

A perda auditiva, condição que afeta milhões de idosos no Brasil, representa um desafio crescente em meio ao envelhecimento populacional. De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, aproximadamente 1,5 milhão de pessoas idosas vivem com algum grau de deficiência auditiva no país, situação que pode impactar de maneira significativa tanto a saúde física e mental quanto as interações sociais.

Causas e fatores de risco para a perda auditiva
A otorrinolaringologista Dra. Leda Maria Vieira Carneiro, do Hospital Mater Dei Santa Clara, descreve a presbiacusia, a perda auditiva associada ao envelhecimento, como a causa mais comum de surdez em idosos. “A predisposição genética é um fator importante, mas o avanço da idade acentua essa condição”, explica. Conforme dados levantados, 11% dos indivíduos entre 44 e 54 anos apresentam algum grau de perda auditiva, número que sobe para 25%, entre pessoas de 55 a 65 anos, e atinge cerca de 50% da população acima dos 70 anos.

Além do fator genético, há substâncias e condições médicas que podem contribuir para a perda auditiva. Drogas ototóxicas, como certos antibióticos (aminoglicosídeos e vancomicina), medicamentos anti-inflamatórios de uso crônico e até substâncias recreativas, como cocaína, são listadas pela Dra. Leda como possíveis causadores de danos auditivos. Ela também destaca o papel do tabagismo, hipertensão arterial e diabetes como agravantes para a saúde auditiva, ressaltando a importância de um estilo de vida saudável na prevenção ou retardamento da surdez.

Impactos da perda auditiva na saúde mental e no convívio social
A surdez vai além do problema sensorial, afetando a saúde mental e o bem-estar social dos idosos. Segundo a Dra. Leda, a perda auditiva pode gerar isolamento social, tristeza e, em alguns casos, contribuir para o desenvolvimento de doenças degenerativas, como o Alzheimer. A diminuição da capacidade de entender a fala (discriminação auditiva) dificulta a comunicação, aumentando a propensão ao isolamento. “Quanto mais precoce for o diagnóstico e o tratamento, melhor a qualidade de vida do paciente”, afirma a especialista, recomendando uma avaliação auditiva regular para detecção precoce e uma intervenção adequada.

O geriatra Dr. Marcos Alvinair, que faz parte da Linha do Cuidado do Idoso do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, reforça que o envelhecimento afeta diversos sentidos e funções do organismo, incluindo a audição, o que pode desencadear um ciclo de empobrecimento sensorial e isolamento social. Ele observa que, ao perder a capacidade de participar ativamente de interações sociais, os idosos podem experimentar sentimentos de desvalorização e solidão, levando a reações depressivas e até comprometendo o desempenho cognitivo, como atenção e memória.

Abordagens de tratamento: aparelhos auditivos e implantes
Para a maioria dos idosos, os aparelhos auditivos são a principal solução para restaurar a capacidade auditiva. Dra. Leda explica que, ao estimular a discriminação auditiva, o aparelho ajuda a preservar a capacidade de entendimento das palavras. No entanto, quando essa habilidade se encontra gravemente comprometida, outras terapias auditivas devem ser consideradas, uma vez que o aparelho pode não ser suficiente para melhorar a compreensão.

Nos casos mais graves, o implante coclear é uma opção viável, embora seja menos indicada para idosos com comorbidades que contraindiquem a cirurgia. O implante é um procedimento cirúrgico que insere eletrodos no ouvido interno para estimular diretamente os neurônios auditivos. Contudo, essa opção é geralmente reservada para casos de surdez profunda, onde o aparelho auditivo comum não é eficaz.

A importância de um estilo de vida saudável para a saúde auditiva
Além do tratamento direto, manter um estilo de vida saudável desempenha um papel importante na preservação da audição ao longo da vida. Dra. Leda recomenda evitar o tabagismo, controlar a hipertensão e o diabetes, e adotar uma dieta balanceada com baixo teor de açúcar, sal e gordura saturada. A prática regular de atividades físicas também pode auxiliar na circulação sanguínea, promovendo uma melhor saúde auditiva e cognitiva.

A exposição a ruídos intensos é outro fator de risco a ser evitado, já que o som em altos volumes pode agravar a perda auditiva natural do envelhecimento, alerta Dra. Leda. O exercício regular e a ausência de hábitos prejudiciais, como o consumo excessivo de álcool e o tabagismo, são apontados como medidas eficazes para a manutenção da saúde auditiva na terceira idade.

O caminho para a qualidade de vida
Ambos os especialistas reforçam a importância da busca por uma solução precoce para a perda auditiva, que pode melhorar de forma significativa a qualidade de vida do idoso e o envolvimento social. A avaliação periódica e o acompanhamento com otorrinolaringologistas e geriatras, mesmo ao perceber leves sinais de perda auditiva, são fundamentais para intervenções mais eficazes e resultados melhores a longo prazo.

A audição, como ressaltam os especialistas, não é apenas um sentido, mas um elemento essencial para o bem-estar emocional e social. Com as opções disponíveis e os avanços nos tratamentos auditivos, idosos podem redescobrir a importância de ouvir e se conectar com o mundo ao seu redor, preservando tanto a saúde mental quanto a autonomia no processo de envelhecimento.