Entre Linhas: em sua segunda edição, documentário narra o trabalho de seis artistas de Uberlândia

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Idealizado por Camila Amuy, as produções são gravadas na cidade com a presença de seis artistas locais. A estreia será em outubro.

documentário Entre Linhas está de volta, dando voz e vez para outros artistas de Uberlândia contarem um pouco das suas histórias. Em 2022, ano de sua estreia, o projeto trouxe a narrativa de nove personagens locais. Agora, mais seis são contemplados:

Artistas Diretores
Iara Magalhães Bertha Ruskaia
Jack Will Lucas Cecchino
Maria de Maria Lara Pires
Mestre Fabinho Alessandro Terras Altas
RJay Olivia Franco
Vaine Lucas Orsini

 

“Tantos nomes na nossa cidade e cada um tem seu valor, sua história para contar e seu modo de fazer. Queremos propagar isso, dando visibilidade a esses artistas de Uberlândia, suas obras, e seus caminhos percorridos. O projeto busca exatamente isso: amarrar as linhas, costurá-las e assim levar até o público histórias encantadoras de gente que faz arte na nossa cidade”, conta Camila Amuy, idealizadora do Entre Linhas.

Na temporada de 2024, o projeto Entre Linhas terá episódios inéditos, com 10 a 20 minutos de narrativas contadas pelos próprios artistas, sob o olhar crítico e humano de seis equipes audiovisuais, que abrangem mais de 40 pessoas diretamente ligadas à produção.

Além de dar visibilidade a esses nomes, o objetivo da série documental também é mostrar os bastidores do trabalho artístico de cada um – reforçando, mais uma vez, que para ser artista muita dedicação está envolvida.

Com estreia em outubro na plataforma YouTube, o documentário também tem a proposta de ser um encontro de diferentes artes e pontos de vista, sendo uma costura de trajetórias artísticas que nasceram, cresceram ou passaram pela cidade de Uberlândia.

O projeto tem apoio financeiro concedido por meio do edital SMCT nº 020/2023 – seleção de projetos de produção audiovisual para recebimento de apoio financeiro da Lei Paulo Gustavo, e tem lançamento previsto para o dia 19 de outubro. Dois episódios serão lançados semanalmente.

Camila relembra, ainda, o “Manifesto Entre linhas”, escrito por Lucas Veiga:

“Entre as linhas há um abismo que muitos pularam e conseguiram flutuar, que muitos se agarraram nas paredes crentes que o que chamam de “dom” é, na verdade, as unhas afiadas de um felino. Um abismo que quer alcançar o público, o povo. As noites em claro, as horas arrastadas até a estreia, as inseguranças, as vivências, um meteoro a ponto de colidir com a Terra, trazendo o novo, o íntimo, à vida. Entre as linhas que o espectador acessa há uma civilização de pontas soltas. E nossas mãos são ansiosas pela costura. Só assim para permear esse mar de gente, de vozes, de culturas, de perfis, de destinos, de nós”.

Camila Amuy é produtora cultural, formada em Teatro (UFU), Publicidade e Propaganda (ESAMC) e doutoranda em Artes Cênicas (PPGAC/UFU). Desenvolve projetos culturais principalmente nas áreas de música, teatro e audiovisual.

QUEM SÃO OS ARTISTAS

Iara Helena Magalhães

Tem 68 anos, se vê como uma mulher em movimento, sempre em movimento, em frentes afetivas e amorosas: na família, nos trabalhos, nas comunidades, nos ativismos. De odontopediatra à professora e coordenadora de curso de cinema. De mãe de dois filhos e uma filha à ativista do cinema e do audiovisual com comunidades de mulheres sem teto.

De gestora de organizações culturais públicas e privadas à gestão de OSC de cuidados às mulheres vítimas de violência de gênero. Nunca diz: isso não tem jeito, isso não tem solução!

“Toda vida é coletiva, temos de lidar com a questão do futuro, não nos sentirmos sozinhas e lutarmos contra a precariedade da existência de qualquer pessoa. Essa é a garantia de futuro para o meu, o seu e os nossos corpos”.

R Jay
É rapper, compositora, produtora cultural, mestra de cerimônia, educadora social e artística, fundadora e organizadora da Batalha do Coreto 034, e graduanda em Ciências Sociais (UFU). Tem 25 anos, é natural de Uberlândia e cria do bairro Luizote de Freitas.

Para ela, o hip-hop é a vida, é o ar que ela respira. Começou na cultura ainda quando criança; com 11-12 anos já escrevia poemas e músicas, com 13 já improvisava rimas, aos 14 anos já estava atuando na produção de eventos e com 16 começou a organizar seus próprios eventos, somando cerca de 150 no total.

“Eu amo o rap, amo o que faço, essa parada salvou minha vida, e não tem nada mais satisfatório que poder fazer alguma música, evento ou projeto e ver a cultura exalando, ver geral louco, feliz, gritando, se divertindo, sentindo e vivendo a cultura. Nenhum dinheiro no mundo paga isso, e ver o impacto na vida das pessoas.

Hip-Hop é isso! E eu amo criar, produzir. Me vejo como uma artista multifuncional, e que põe coração e alma em cada obra e produção, seja para desabafar, passar uma mensagem, criticar e instigar reflexões, ou simplesmente me divertir fazendo arte. A meta é continuar desenvolvendo meus projetos individuais e projetos que contribuam com a cena local, para seu crescimento local e nacional”.

Jack Will
William Nunes Borges, hoje, Jack Will, vive as artes e gosta de brindar a vida com as pessoas e, ao mesmo tempo, celebra o momento sozinho, sempre buscando e aprimorando o intelecto no fazer musical enquanto profissional da música.

Em 2024, começou o ano celebrando os 20 anos de trajetória musical gravando, tocando e dando aulas de música. Em 2022, lançou seu primeiro álbum, Black Buddha, cujo repertório do fonograma conta com 7 faixas autorais. No mesmo ano conseguiu a aprovação no edital do Natura Musical para fazer uma pequena turnê com seu álbum em algumas cidades de Minas Gerais e São Paulo.

Jack Will nunca quis ter uma banda, sempre quis tocar com diferentes músicos e musicistas, assim ele acredita no aprendizado amplo musical, cultural e sociopsicológico. Hoje, o músico Jack Will agradece a pouca condição financeira dos pais, por não oferecer os seus desejos materiais no início da trajetória musical, quando criança queria muito o instrumento bateria, mas teve que criar a bateria conforme o seu imaginário, utilizando utensílios domésticos como panelas, talheres, tamboretes, latas e afins.

“Isso ajudou a despertar a criatividade e toda a força espiritual da música. A melhor coisa que os pais deram e dão, foi todo o apoio moral com honestidade e todo o caráter humano, porque antes do músico vem a humanidade. E os desejos de Jack Will continuam a fazer música com criatividade extrair a espiritualidade das coisas”.

Vaine
É rapper e artista visual, mora em Uberlândia, onde vem construindo uma sólida e promissora carreira pelo circuito cultural do Triângulo Mineiro. Enxergando o rap como uma ferramenta para contar histórias, Vaine possui uma mixtape, um EP colaborativo e seu álbum de estreia: Colibri.

Oriundo das batalhas de rima, o artista de 28 anos resgata características clássicas do rap, acompanhadas de muita brasilidade e elementos orgânicos, garantindo singularidade e boa recepção nos mais diversos espaços e públicos.

A vivência cotidiana é o tema central do seu trabalho. Com rimas que abordam questões políticas, sociais e raciais, Vaine consegue conectar suas próprias experiências às vivências do público, criando conexões poderosas e significativas.

Mestre Fabinho
É dançarino, professor de dança de salão, e graduado em licenciatura no curso de Teatro na UFU em 2016.  Trabalhou como professor de dança em colégio de Uberlândia, diretor e professor da academia Ritmo dança de salão, desde 1993, já foi professor substituto no conservatório na disciplina de teatro, em 2013, e diretor e professor do projeto de inclusão dançando com a vida, desde 2000.

Trabalhou na Europa no ano 2017 nos países Alemanha, França, Itália e Bélgica.  Desde 1998, desenvolve um trabalho de pesquisa e coreografia com deficientes, inserindo pessoas com diversas limitações físicas no cenário da dança.

Trabalha com crianças de 6 a 13 anos desde 1999 e dá aulas de dança para crianças carentes da Icasu, com montagem de coreografias entre 2000 e 2003.

Maria de Maria
Tem 43 anos, é atriz, professora de Teatro, Mestre em Melodrama no Cinema de Almodóvar e Doutora de Circo-Teatro Brasileiro. Nasceu em São Paulo, mas com um ano foi morar em Uberlândia. Na infância, no Bairro Fundinho, brincou com amigos da vizinhança nas salas do subsolo da Casa da Cultura.

Na adolescência descobriu o teatro, o fogo e a dança. “Fui conhecendo gente de Teatro das antigas que ministravam oficinas de montagem, de pirofagia, de dança contemporânea… Paulinho Semente, Humberto Tavares, Luiz de Abreu”, disse.

O Teatro a levou para a UFU, sua segunda casa. Estreou profissionalmente no Teatro Grande Otelo em uma de suas últimas derradeiras temporadas: “Suburbano Coração”, texto de Naum Alves de Souza dirigido por Walter Balthazar, em 2000.

Viu muito teatro, fez muito teatro, todos em cartaz no antigo Teatro Rondon, sua escola. Se assumiu Lésbica, tive 5 relacionamentos duradouros, adotou um cachorro, teve um fusca verde. Cruzou o Atlântico e mudou de país.

“Me apaixonei, rompi, descobri outras formas de amar. Sofri cada fim de ciclo sem temer começar outros. Muitos.  Montei um monólogo, fiquei nua, cantei Elis Regina no palco: ‘que audácia pra mim que nem sei cantar’. Hoje, me indigno com as violências de gênero, com o patriarcado e com o racismo e o capitalismo. Minha busca hoje é encontrar lugares poéticos para me manifestar seja em luta ou em celebração. Como diz Adriana Calcanhotto eu ‘Corro demais, corro demais’, ‘porque não sei se a vida é pouco ou demais’ (Fernando Pessoa)”, disse.