Safra 2023/2024 do Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) traz aumento no número de fazendas produtoras de algodão sustentável no Brasil

0

Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) – uma iniciativa liderada pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) em parceria com as associações estaduais, entre elas a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) – caminha para o encerramento do ciclo 2023/2024 com aumento no número de unidades produtivas (fazendas) certificadas no país, um atesto do compromisso dos cotonicultores brasileiros de fortalecer cada vez mais os padrões de sustentabilidade e de boas práticas na cadeia produtiva, refletindo, consequentemente, no aumento da qualidade do algodão oferecido ao mercado.

Até este mês de agosto, mais de 400 unidades produtivas foram aprovadas na etapa de Verificação para Certificação da Propriedade (VCP), número superior às 374 certificadas em 2023. Desde a sua criação, em 2012, o ABR tem se destacado como o principal protocolo nacional de certificação socioambiental e sua relevância é reforçada pela parceria estratégica com a Better Cotton Initiative (BCI) que, por meio de benchmarking com a Abrapa, permite aos produtores brasileiros obterem simultaneamente, caso queiram, a certificação ABR e o licenciamento internacional pela BCI.

De acordo com dados da Abrapa relativos à safra 2022/2023, publicados no relatório de safra do ABR, a produção de algodão certificada pelo programa totalizou, à época, 2,55 milhões de toneladas de pluma, representando 82% de toda a produção no Brasil, que foi de 3,1 milhões de toneladas. Esse volume certificado foi recorde e refletiu um crescimento de 28% em relação ao período anterior. Em comparação, o volume de algodão produzido sem a certificação ABR naquela safra foi de apenas 0,55 milhões de toneladas, o que mostra a predominância e importância do algodão sustentável no cenário brasileiro. Hoje, a previsão da associação nacional é que na safra 2023/2024, que está sendo colhida, o volume certificado seja de 82,5% de toda a produção.

Quanto ao cenário de Minas Gerais, na safra 2022/2023, dez unidades produtivas foram certificadas pelo ABR e licenciadas pela BCI, contabilizando uma área de plantio de 12.667 mil/hectares que produziram 24.365 mil/toneladas de pluma. Na temporada 2023/2024, a previsão é de números crescentes: quatorze propriedades foram certificadas, com cobertura de área plantada de 18.531 mil/hectares frente ao total de 32.106 mil/hectares cultivados no Estado; e a estimativa de produção aponta para 37.096 mil/toneladas de pluma sustentável perante o volume total de 65.570,44 mil/ toneladas, conforme dados do núcleo Amipa Georreferenciamento e Dados. As propriedades certificadas e licenciadas encontram-se sediadas nas regiões do Noroeste Mineiro (7), Norte de Minas (3) e Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (4).

Objetivos e estrutura do programa ABR
O ABR foi desenvolvido com o propósito de garantir que a produção de algodão no Brasil seja realizada de maneira responsável, respeitando rigorosamente as legislações ambiental, fundiária e trabalhista em vigor no país, além de aderir às normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O protocolo do ABR abrange três pilares principais de sustentabilidade: ambiental, social e econômico. Com um checklist rigoroso composto de 183 itens, o programa assegura que as unidades produtivas que optam por participar sejam auditadas anualmente por empresas independentes, que verificam a conformidade das práticas adotadas.

O produtor participante tem etapas a cumprir, concebidas com base em diagnóstico, aprendizado e melhoria, permitindo chegar ao final da safra em condições de obter a certificação e o licenciamento, devendo atender a pelo menos 85% das exigências do protocolo a partir da primeira safra analisada, sendo obrigatório o cumprimento de 100% nos critérios protocolares 2 (proibição de trabalho infantil) e 3 (proibição de trabalho análogo a escravo, indigno e degradante).

A certificação continua se esse percentual for crescendo a cada ano/safra: 87% na segunda, 89% na terceira e 90% a partir da quarta temporada. Seguindo essa lógica, o programa permite que a evolução progressiva em cada fazenda ocorra dentro das possibilidades de investimento do produtor, com foco na melhoria contínua. Os cotonicultores que não demonstram essa melhoria não são certificados pelo ABR. Além disso, o programa está aberto a atualizações com o passar do tempo, especialmente quando há mudança em alguma legislação ou quando novos itens de checagem são adicionados visando aprimorar o protocolo.

O protocolo de certificação está dividido em oito critérios que atendem às exigências da legislação brasileira e internacional, além das boas práticas produtivas. São eles: (1) contrato de trabalho; (2) proibição de trabalho infantil; (3) proibição de trabalho análogo a escravo ou em condições degradantes ou indignas; (4) liberdade de associação sindical; (5) proibição de discriminação de pessoas; (6) segurança, saúde ocupacional e meio ambiente do trabalho; (7) desempenho ambiental; (8) boas práticas agrícolas.

Fábio Carneiro, gestor de Sustentabilidade da Abrapa, destaca o desafio de implementar boas práticas em um país com tamanha diversidade de realidades agrícolas. “O sucesso do programa ABR foi construído pelo engajamento das associações estaduais em acompanhar e orientar as fazendas de algodão do Brasil. O desafio está na complexidade de entender a realidade de cada fazenda/produtor, que são distintos, e promover a melhoria contínua em quesitos sociais, ambientais e econômicos todos os anos”, explica Carneiro. Ele ainda ressalta que a auditoria realizada nas fazendas promove melhorias significativas na gestão de pessoas, eficiência no uso de insumos e padronização dos processos.

Parceria BCI e ABR
A colaboração entre a Better Cotton Initiative e o ABR tem sido fundamental para o avanço da produção sustentável de algodão no Brasil. João Rocha, senior Better Cotton coordinator, destaca que essa parceria “tem gerado diversos impactos positivos na cadeia produtiva do algodão nacional, como o fortalecimento da credibilidade e o acesso a mercados internacionais, posicionando o país como um dos principais produtores de algodão sustentável do mundo”.

Apesar de ambos os programas compartilharem objetivos semelhantes, João observa que “o ABR adapta os critérios da BCI ao contexto local, levando em conta as particularidades da produção algodoeira brasileira”. Ele também ressalta que os produtores brasileiros têm se mostrado resilientes e capazes de se ajustar às novas exigências, especialmente em termos de práticas agrícolas sustentáveis, como rotação de culturas, manejo integrado de pragas e gestão eficiente da água.

Por fim, o profissional comenta sobre o monitoramento da evolução dos produtores brasileiros: “Utilizamos diversas ferramentas, como o Relatório de Indicadores de Resultado (RIR), para acompanhar o progresso e identificar áreas de melhoria”. Ele reforça que a conscientização dos agentes da cadeia cotonicultora tem sido essencial para a adesão dos produtores ao programa, contribuindo para “a construção de um setor algodoeiro mais sustentável e competitivo no Brasil”.

O papel da Amipa na implementação do ABR em Minas Gerais
A Associação desempenha um papel fundamental no apoio aos produtores que buscam a certificação ABR. Lício Augusto Pena de Sairre, diretor executivo da entidade, sublinha a importância desse trabalho contínuo. “Desde a concepção, pela Abrapa, do programa de certificação ABR, a Amipa sempre esteve à frente, junto aos seus associados, nos trabalhos de certificação ABR e licenciamento BCI das propriedades produtoras de algodão no Estado de Minas Gerais. Percebemos, ao longo dos anos, uma melhoria contínua nos processos produtivos, onde o cotonicultor produz algodão de qualidade e com respeito ao meio ambiente e à legislação trabalhista”.

Lício celebra o comprometimento dos produtores mineiros, que têm conseguido entregar ao mercado uma pluma de alta qualidade, produzida com rentabilidade e responsabilidade social e ambiental. Para ele, “esse reconhecimento é uma prova do impacto positivo que o programa tem trazido para a cotonicultura brasileira, colocando o país na liderança global, em termos de produção sustentável de algodão”.

Todas as ações de gestão do ABR e BCI realizadas pela Amipa contam com o apoio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) por intermédio do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) e do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura no Estado de Minas Gerais (Fundo Algominas).

Processo de acompanhamento e certificação das fazendas em Minas Gerais
Luis André de Queiroz Carvalho, consultor da Amipa, detalha as etapas que um produtor deve seguir para obter a certificação ABR. “O processo começa com a adesão ao programa e a atualização dos dados cadastrais da fazenda em sistema. Em seguida, o produtor assina documentos normativos com a Associação e a fazenda passa por uma Verificação para Diagnóstico da Propriedade (VDP). Com base nesse diagnóstico, é elaborado um Plano de Correção das Não Conformidades (PCNC) que deve ser implementado antes da Verificação para Certificação da Propriedade (VCP), conduzida por auditores independentes”, explica. Em cada uma dessas etapas, o produtor associado à Amipa conta com o suporte técnico da consultoria, especialmente na etapa do PCNC em que é realizado um trabalho conjunto com os gestores dos empreendimentos para uma implementação totalmente eficaz e adaptada às condições do produtor.

O consultor também aponta as principais dificuldades encontradas pelos produtores, especialmente em propriedades que estão passando pela auditoria pela primeira vez. “A maior dificuldade está na implantação inicial dos processos exigidos, como a regularização de estruturas, equipamentos, procedimentos de trabalho e processos de saúde e segurança. Em fazendas de segunda safra em diante, o desafio é manter todos esses processos em conformidade, o que exige verificações e atualizações anuais”, afirma.

A perspectiva do produtor
A Fazenda Agroreservas, filiada à Amipa, representada por Caravalde Lima, aderiu ao ABR pela primeira vez e destaca a importância dessa certificação para os negócios. Segundo Lima, “a certificação é de extrema importância para a empresa e colaboradores, caminhando juntos em busca de um futuro melhor, sustentável por meio de boas práticas de produção, relação de trabalho e respeito ao meio ambiente”. Ele acredita que a certificação contribuirá significativamente para a comercialização do algodão produzido, já que muitos compradores exigem comprovação de boas práticas agronômicas e respeito às questões socioambientais.

Caravalde também avalia o processo de certificação como tranquilo, considerando que a fazenda já trabalhava com foco na sustentabilidade em alto nível. “Foi um processo relativamente tranquilo, pois não foi preciso implementar grandes e significativas mudanças, embora não tivéssemos a certificação no algodão antes. Sempre trabalhamos com foco em sustentabilidade”, ressalta.

Fernando Oliveira, coordenador de QSSMA da SLC Agrícola, outra empresa filiada à Amipa e participante do ABR em primeira safra, compartilha os desafios enfrentados durante o processo de certificação. “Acreditamos que o principal desafio foi a mudança de cultura. Escrever procedimentos e cobrar o cumprimento é fácil, o mais difícil é fazer com que todos acreditem que o que está sendo feito é para evoluirmos e caminharmos cada vez mais próximo ao sonho grande da SLC Agrícola”, diz ele. O profissional ressalta que a certificação trouxe um impacto significativo na gestão das fazendas, “fazendo com que todos entendam que não queremos apenas produzir de qualquer forma, queremos produzir com responsabilidade e com a consciência de que estaremos deixando um legado positivo para as próximas gerações”.

A SLC Agrícola também implementou o projeto de “Economia Circular”, transformando todos os resíduos orgânicos em adubo para aplicação na lavoura. “Esse projeto resultou em uma melhoria imensa na preocupação dos colaboradores com o meio ambiente, e a SLC planeja expandir essa iniciativa para todas as unidades até 2028”, explica Fernando.

Impactos e perspectivas para o futuro
Neste mês, a Abrapa revisou suas projeções para a safra 2023/2024, estimando uma produção de 3,67 milhões de toneladas de pluma, um aumento de 13,4% em relação à safra anterior. A área plantada deve atingir 1,99 milhão de hectares, um incremento de 19,5%, com produtividade prevista de 1.841 quilos de pluma por hectare. Esses números são confirmados pelo 10º levantamento da safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que projeta uma produção de 3,64 milhões de toneladas de pluma, com alta de 14,6% em comparação à safra 2022/2023. Tais dados reforçam o papel estratégico do Brasil no mercado global de algodão, consolidando o país como um dos principais produtores mundiais com práticas sustentáveis e certificadas.

Com um índice de adesão crescente entre os produtores, o ABR não só eleva os padrões de sustentabilidade no campo, como também fortalece a competitividade do algodão brasileiro no mercado global. Os produtores que adotam o programa garantem conformidade com as exigências legais e uma vantagem competitiva em mercados que valorizam práticas sustentáveis. Embora o Brasil enfrente desafios como o “basis” negativo no mercado asiático, em comparação com outros fornecedores, os esforços contínuos da Abrapa e das associações estaduais, visam reverter esse quadro e melhorar o reconhecimento da fibra nacional.

O futuro do algodão brasileiro parece promissor, com o ABR consolidando-se cada vez mais como uma referência em sustentabilidade e qualidade mundo afora.

Confira a lista de unidades produtivas certificadas na safra 2023/2024: https://abrapa.com.br/relatorio-de-unidades-produtivas/