“Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política”, instalada no Memorial da Resistência de São Paulo, abrange desde histórias de vida fraturadas pela dor a redes de afeto construídas na resistência
O Memorial da Resistência de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, apresnta a exposição temporária Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política, com curadoria de Ana Pato. Tendo o acervo de história oral do museu como fio condutor, a mostra expõe um olhar a partir da perspectiva de gênero para a Ditadura Civil-Militar e como as marcas profundas deste período se entrelaçam com o presente.
A exposição ressalta as lutas coletivas de mulheres, a partir de dois eixos: a Luta por Memória, Verdade e Justiça e a Luta por Direitos. Entre os destaques, está a série Conhecendo o Corpo Feminino (1984), de Nair Benedicto (1940–), que também ocupa o mural externo do museu. Exibido pela primeira vez no Brasil nesta exposição, o filme Inês (1974), da atriz e cineasta feminista Delphine Seyrig (1932–1990), é um importante documento histórico que denuncia a misoginia praticada pelos agentes do Estado durante a ditadura. Poemas escritos por Beatriz Nascimento (1942–1995) nos anos 1980 sobre resistência, violência, racismo e impunidade, também fazem parte da mostra.
Luta por Memória, Verdade e Justiça
Das muitas experiências de resistência, dor e afeto que atravessam a trajetória das mulheres que compõem a Coleção Memórias da Ditadura Civil-Militar do acervo do Memorial da Resistência, estão as greves nas fábricas, a maternidade na clandestinidade, o machismo da própria esquerda e a homofobia que foram alguns dos desafios enfrentados quando consideramos o recorte de gênero. Também o ódio ao corpo feminino, as violências sexuais, a solidariedade nas celas das prisões e o compromisso com a vida que prevaleceram e permitiram que os relatos das sobreviventes e ex-presas políticas chegassem até nós. Estes testemunhos são materializados na instalação partitura da escuta (2023), de Bianca Turner, no início da exposição.
Entre as narrativas, destacam-se histórias como a de Inês Etienne Romeu, presa política e única sobrevivente do centro clandestino de tortura da ditadura conhecido como Casa da Morte, em Petrópolis/RJ. Sua coragem de enfrentar, bem como as violências que sofreu do Estado, ganhou notoriedade internacional e é contada em forma de denúncia no filme Inês (1974), de Delphine Seyrig. O curta brutal desencadeou um amplo movimento internacional pela liberdade de Inês e pertence hoje ao acervo do Centre Audiovisuel Simone de Beauvoir, em Paris, será exibido pela primeira vez no Brasil durante a exposição.
A história de Inês se conecta com Heleny Guariba, dada como desaparecida política até hoje após ser presa e torturada na Casa da Morte. O curta de animação Cadê Heleny? (2022), de Esther Vital, com sessão única no dia 7 de outubro de 2023, às 14h. Os bordados que compõem os cenários, figurinos e personagens do filme foram criados por uma equipe de mulheres em oficinas de arpilleras ocorridas em 2018 no museu, estão presentes na exposição.
As formas de repressão e luta que cercavam as mulheres durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985) não cessaram com o fim do regime. A série audiovisual Do luto à luta (2023), dirigida por Val Gomes, reúne testemunhos da Coleção Memórias da Violência na Democracia do acervo do museu, com integrantes dos coletivos Mães da Leste, Movimento de Familiares de Vítimas do Massacre de Paraisópolis e Mães de Osasco/Barueri.
Luta por Direitos
A luta por Memória, Verdade e Justiça combina-se à busca por direitos fundamentais e amplos, ganhando força a partir de meados da década de 1970 e durante a redemocratização. Demandas por saúde, educação e moradia digna encontram as pautas feministas e inspiram a luta das mulheres até hoje.
A série fotográfica Conhecendo o Corpo Feminino (1984), de Nair Benedicto, abre este eixo da exposição. Nair produziu um importante registro visual de encontros e atividades de organizações feministas em São Paulo dedicadas a discutir gênero, saúde, sexualidade e corpo feminino no contexto da época. Os poemas da historiadora, poeta e militante negra Beatriz Nascimento escrito nos anos 1980 perpassam os dois eixos e também simbolizam como as lutas convergem e continuam.
A mostra exalta exemplos como das integrantes dos Clubes de Mães da Zona Sul por demandas de saúde, educação e moradia digna, da militância feminista da União de Mulheres de São Paulo, das Promotoras Legais Populares, de Laudelina de Campos Mello, em defesa das trabalhadoras domésticas, e de organizações como o IN.FORMAR, criado para apoiar e documentar movimentos sociais.
A Escola de Testemunhos, do Grupo Contrafilé, e os percursos de memória mediados pelo Acervo Bajubá, em torno das ações do coletivo Mulheres da Luz e das experiências das comunidades LGBT+ em defesa de suas identidades e sexualidades também nos conectam com essas lutas que permanecem vivas e implacáveis.
Sobre o Memorial da Resistência de São Paulo
O Memorial da Resistência de São Paulo é o maior museu de história dedicado à memória política das resistências e da luta pela democracia no Brasil, e tem como missão a valorização da cidadania, da pesquisa e da educação a partir de uma perspectiva plural e diversa sobre o passado, o presente e o futuro.
Aberto ao público em 2009, o museu é um lugar de memória dedicado a preserva a história do prédio onde operou entre 1940 e 1983 o Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP), uma das polícias políticas mais truculentas da história do país.
Por meio de exposições temáticas de grande impacto social, ações educativas, atividades para pessoas com deficiência e programações culturais gratuitas., o museu se consolidou como referência em Educação em Direitos Humanos, promovendo o pensamento crítico e desenvolvendo atividades sobre Direitos Humanos, Repressão, Resistência e Patrimônio.
Serviço
Exposição: Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política
Curadoria: Ana Pato
Inauguração: 7 de outubro de 2023 a 27 de julho de 2024
Faixa etária: 12 anos
Entrada: Grátis
Local: Memorial da Resistência de São Paulo
Endereço: Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia
Horário: quarta a segunda, das 10h às 18h (fecha às terças)