Julho Verde chama atenção para o câncer de cabeça e pescoço

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Embora possa alcançar cerca de 90% de chances de cura, a detecção precoce é fundamental para o sucesso do tratamento.

O dia 27 de julho foi escolhido para ser o Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço. Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço instituiu o Julho Verde no Brasil. A iniciativa conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), da União Internacional para o Controle do Câncer e do governo brasileiro, que passou a adotar a data no calendário oficial do Ministério da Saúde. No Brasil, estima-se que vão surgir 36.620 novos casos da doença em 2022, sendo 19.480 em homens e 17.140 em mulheres. Os tumores mais comuns são os de cavidade oral, como boca (que inclui lábio, gengiva, língua) e orofaringe, laringe, seios paranasais, glândulas salivares, glândula tireoide e pele da face e pescoço.

De acordo com a Dra. Veruska Tavares Terra Martins da Silva, cirurgiã de cabeça e pescoço do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, três em cada quatro pacientes são diagnosticados já em estágio avançado, o que implica no sucesso ou não do tratamento. “Por isso o atendimento primário, seja pelo médico clínico geral e ou pelo dentista, é o mais importante para iniciar todo o processo. Uma forma de alertar esses profissionais, quanto à suspeita e necessidade de agir rápido, são as campanhas públicas de orientação aos sinais de alerta, como as que são feitas contra o tabagismo, orientando sobre o maior risco da doença em pacientes tabagistas e necessidade de avaliação de rotina no exame físico, incluindo sempre o pescoço e cavidade oral, mesmo em pacientes assintomáticos”, afirma.

A médica reforça que o maior desafio atual para combater o câncer na área de cabeça e pescoço é o atraso no diagnóstico. “Infelizmente muitos pacientes só são diagnosticados já em estágio avançado, e alguns fatores são determinantes para que isso aconteça. Os sintomas no início são inespecíficos e, frequentemente, desvalorizados pelo paciente, até porque existe um desconhecimento sobre o câncer nessa área do corpo. Além disso, existem as limitações da rede básica de atenção à saúde. Às vezes, o paciente até procura atendimento precocemente, mas espera meses para conseguir ser atendido por um profissional especializado na área. O laudo da biópsia demora e ainda é preciso aguardar vaga para fazer a cirurgia e ou a radioterapia”, alerta Dra. Veruska.

Os sintomas mais comuns da doença são nódulos que surgem na região do pescoço, dificuldade e/ou dor para engolir, feridas que não cicatrizam na região da boca, e mesmo na pele da face e pescoço, sensação de corpo estranho na garganta, rouquidão persistente. “Se o paciente sentir algo parecido e perceber que não melhora em um intervalo de duas a três semanas, é melhor buscar uma avaliação do profissional de saúde o mais rápido possível”, recomenda a médica.

Os fatores de risco podem ser ambientais ou hereditários e, nos casos de câncer de cabeça e pescoço, os mais importantes são o tabagismo e o etilismo (cerca de 80% dos casos) e infecção pelo vírus HPV, associados a precários cuidados com a higiene bucal e desnutrição. Próteses dentárias mal adaptadas também são fatores de risco para tumores de boca. Exposição solar excessiva, sem proteção, na região de face e pescoço predispõe ao câncer de pele nessa região, que pode evoluir com deformidades faciais importantes e metástases de difícil controle.

Para o médico radiologista do Hospital Mater Dei Santa Genoveva Dr. Eduardo Mendes, o paciente com qualquer sintoma ou sinal que tenha chamado atenção deve procurar o médico especialista para avaliação clínica e, se indicado, solicitação de exames complementares, tais como exames endoscópicos com ou sem biópsia, realizados pelo otorrinolaringologista e especialistas em cabeça e pescoço, e os exames de imagem, realizados pelos médicos radiologistas, incluindo-se ultrassonografia, TC, RM e PET-CT.

“Por isso o papel do médico radiologista é tão importante, pois é através do uso adequado dos exames de imagem e de sua interpretação com acurácia que será possível a realização do diagnóstico precoce dos tumores, aumentando as chances de sucesso terapêutico”, define Mendes.

Tratamento
O tratamento do câncer de cabeça e pescoço é multidisciplinar e engloba cirurgia, radioterapia, quimioterapia, medicina nuclear, reabilitação fonatória, nos casos de tumores de laringe e cavidade oral, nutrição, fisioterapia, entre outros. “Nas últimas décadas, o tratamento do câncer de cabeça e pescoço vem apresentando uma revolução com estratégias mais modernas. Quanto à quimioterapia, a introdução das terapias-alvo e imunoterapia minimizam os efeitos colaterais que a quimioterapia convencional apresenta”, explica a Dra. Veruska. É o caso do estudo Keynote-048, publicado em 2019 na revista The Lancet e considerado o maior avanço da última década, no qual uma imunoterapia, em combinação com quimioterapia, demonstrou uma melhora significativa na sobrevida global em comparação com o tratamento padrão.

O tratamento do câncer de cabeça e pescoço depende do tipo, localização e tamanho do câncer. Após o tratamento, a recuperação pode envolver o trabalho com especialistas em reabilitação e outros profissionais para lidar com os efeitos colaterais, como perda auditiva, dificuldade para comer, problemas dentários, problemas de tireoide, dificuldade para respirar ou falar. O Mater Dei Santa Genoveva conta com equipe multidisciplinar, especialistas e exames de imagem que cuidam de todo o processo de diagnóstico, estadiamento, tratamento e reabilitação.