Novo espetáculo do grupo é apresentado no formato de vídeodança
São mais de três décadas de inquietações. Essa é uma das definições para o trabalho da UAI Q Dança Cia, que no dia 19 de março lança um novo espetáculo, “Semente”. Neste projeto em formato de vídeodança, a companhia uberlandense reforça o DNA questionador, honesto e belo que permeia suas criações. Além da exibição online haverá outras em espaços diferentes da cidade, seguidas por uma conversa com as criadoras.
Concebido, dirigido e roteirizado por sua fundadora, Fernanda Bevilaqua, assim, como a arte, essa performance estrelada por Luciane Segatto e Panmela Tadeu traz mais perguntas do que respostas. “Essa é uma criação que parte de inquietações pessoais de cada artista que se lançou ao trabalho. Para nós é interessante que essas perguntas se multipliquem a partir da visão dos espectadores. Quando damos muitas respostas, deixamos de aproveitar os caminhos da obra e fechamos muitas vezes na superficialidade dela”, explica Fernanda.
Não é por acaso que “Semente” é lançado neste mês, marcado pelo Dia Internacional da Mulher. Fernanda, como a maioria delas, se desdobra em muitas… mulher, bailarina, coreógrafa, pesquisadora, esposa, mãe, avó, curiosa. Panmela é uma de suas crias.
O feminino em “Semente” é representado por alguns de seus sinônimos num dicionário informal que foi um dos nortes para trazer à tona as questões pessoais e pensar a mulher, o útero, a fertilidade, a fecundidade, a vida e a morte. Ou tudo junto ao mesmo tempo. Entre elas: origem, esperma, causa, germe, princípio, sêmen, embrião, fonte, fundação, gênese.
Fernanda destaca uma citação do romancista inglês Charles Dickens: “Para começar minha vida com o começo de minha vida, Registro que nasci”. A partir dessa inspiração, Panmela e Luciane foram buscar com suas mães informações mais detalhadas sobre seus nascimentos. Esses dados entram em cena nas entrelinhas poéticas do movimento.
A primeira exibição com roda de conversa confirmada, via plataforma zoom, será com a ONG SOS Mulher e Família, de Uberlândia, no dia 26 de março, das 10 às 11h30. “Fazemos questão de estar em roda com as mulheres que compõem essa ONG que chega há 25 anos de história em nossa cidade”, afirmou Fernanda.
SINOPSE
“Semente” é uma viagem ao início da vida, à criação e concepção de um ser a partir de questionamentos específicos sobre a fertilidade feminina, é isso que dispara as provocações levantadas pelas artistas. A temática foi o que moveu o desejo das artistas intérpretes e pesquisadoras para essa nova investida criativa.
A performance traz questões sobre desejos, criação, nascimento e como a mulher tem lidado com ideias apreendidas da cultura que a colocam numa condição associada quase sempre a um solo fértil e competente para receber sementes e dar frutos. Questões complexas que envolvem a origem da vida de um ser humano, no caso nascida e carimbada no cartório com o sexo feminino.
O grupo começa essa nova fase, em um momento em que começamos a respirar diante de tudo que a pandemia deixou, contemplando um público de homens, mulheres, casais transgêneros, binários ou não e, no viés da dança e das imagens com perguntas-chave sobre o tripé em que será sustentado a criação inicial: casa, fertilidade e criação.
APRENDIZADO CONSTANTE
A duras penas, a classe artística aprendeu nesse período pandêmico marcado por restrições, isolamentos, medo. Ela ressurge mais forte, reconfigurada. Viabilizado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC), “Semente” é um espetáculo de dança formatado para o audiovisual. Traz características de direção de cena para esse formato buscando captar a atenção nas telas com todo cuidado de quem costuma se apresentar em espaços diversos diante de olhos atentos, sem intermediários.
“A concepção inicial do projeto foi de janeiro de 2020 para os espaços presenciais. Quando veio a pandemia virou um projeto no formato de vídeodança. No momento nos envolvemos tanto com a criação para a vídeodança que, de minha parte, só consigo enxergá-lo para esse formato. Atravessamos juntas tantos e diversos portais tão desafiadores e complexos que o trabalho de fato, até como manifesto desses desafios das mulheres, de cada uma, na minha opinião, hoje, só cabe nesse registro em vídeo”, explicou Fernanda Bevilaqua.
A diretora comenta que, apesar de trazer uma ideia de início, a palavra semente provoca a olhar para o ciclo vida-morte-vida, um ciclo contínuo que não cessa. A semente lançada pode brotar, vicejar, crescer e morrer. Pode morrer antes de brotar. Pode desejar o encontro com o colo da terra, do útero… pode morrer antes de nascer, desejar, brotar. A semente é o princípio de tudo, intenção de continuidade. A palavra contém a incerteza e a sabedoria de acolher o mistério. Não depende apenas da água, do cuidado, do sol, do vento, da energia de quem a lança.
“Depende de tudo isso, mas principalmente da sabedoria que aceita o não saber se brotará. Brotará? Amadurecerá? Colherei? E sempre há uma outra semente e o desejo. Semente vida. Semente lançada sem certezas. Semente esperança. A semente contém no seu interior a maior esperança da terra que dá colo a todos os seres, em todos os tempos. Terra mãe que dá colo à semente, que dá colo ao ser. Terra e semente princípio da esperança”, finaliza.
SERVIÇO
O QUE: “Semente” – espetáculo de vídeodança
QUEM: Cia UAI Q Dança
DATA DE EXIBIÇÃO: 19 de março
HORÁRIO: 18h
ONDE ASSISTIR: Canal UAI Q Dança no YouTube (https://www.youtube.com/channel/UC2yHEC5zh5B4uxmCmTT38Ug)
FICHA TÉCNICA
Artistas da dança e pesquisadoras de movimentos e gestos: Luciane Segatto e Panmela Tadeu| Concepção, direção e roteiro: Fernanda Bevilaqua | Filmagem, edição e coreografia da câmera: Malu Teodoro | Trilha sonora: Lucas Vidal | Produção: Camila Amuy e Panmela Tadeu | Locação: Condomínio Morada do Sol | Duração: 16 min | Classificação: 16 anos
TEASERS NO @sementeuaiqdanca
Lançamentos em 12, 15 e 17 de março
EXIBIÇÃO COM RODA DE CONVERSA COM A S.O.S MULHER E FAMÍLIA
DATA: 26 de março
HORÁRIO: 10h às 11h30
LINK: será disponibilizado no dia no instagram @sementeuaiqdanca