Pelo contrário! Não só gosto, como acho mais difícil de interpretar uma comédia e minha última peça era uma comédia. E também entendo que o povo brasileiro já tem, em sua maioria, uma vida sofrida e que busca na arte uma forma de amenizar as dificuldades do dia a dia, mas isso não significa que o público não queira ou não possa ver algo que retrate uma realidade que se não for a sua, certamente será a realidade de alguém conhecido. É preciso abrir mais espaço para esse gênero, é preciso sim estimular discussões e questionamentos relacionados a certos assuntos e como eles são tratados no nosso país. Esse é o papel da arte. E como produtora e atriz, é muito frustrante para mim ver uma parcialidade das empresas na escolha dos projetos que serão comtemplados com a desculpa que o público quer assistir algo leve, comer uma pizza e ir para casa. E aqui é preciso tomar cuidado para não generalizarmos pois ainda temos empresas que tem um olhar mais cuidadoso, mas não é o que acontece na maioria dia casos. Estou há nove anos tentando produzir essa peça que fala sobre algo cada vez mais incidente nas nossas vidas. E assim como esse assunto, muitos outros assuntos sérios precisam ser falados. Então fica aqui uma observação sobre a necessidade de um olhar mais cuidadoso no que se refere á viabilização de recursos através de leis de incentivo para peças de teatro do gênero drama que retratem assuntos dessa importância “ disse Simone
Atriz Simone Zucato desabafa sobre preconceito que envolve a montagem de seu novo espetáculo!
Atriz e produtora de teatro há muitos anos a atriz Simone Zucato tem enfrentado preconceito com relação ao tema que envolve sua próxima produção para o teatro. Simone que é também médica, escolheu um drama que traz como mote principal a questão do autismo. A atriz tem se deparado com um grande desafio ao consultar empresas patrocinadoras: “Escolhi produzir uma história sobre uma família que tem um menino que apresenta transtorno autista grave. Na peça é possível ver as dificuldades pelas quais a família passa ao cuidar desse menino da maneira que eles podem, pois é uma família de classe média, fala sobre o mundo do autista severo e também sobre o amor incondicional que os envolve”.
É muito triste e muito limitante você estar num país onde as leis de incentivo dependem da aprovação de pessoas que respondem por empresas patrocinadoras e que não tenham esse olhar cuidadoso com os projetos de teatro que são do gênero drama. Aqui eu relato algo que ocorreu comigo na minha busca por incentivos para “Uma História de Todos” , quando uma gerente de marketing de uma empresa patrocinadora tachou “O Pai” – peça que ganhou O TONY na Broadway, o Prêmio Moliere na França, e recentemente o Oscar em duas categorias – como chata e pesada. Se Temas como a Doença de Alzheimer e o Transtorno Autista estão cada vez mais presentes na nossa sociedade e seus tratamentos são complexos, porque não envolve apenas o paciente em si, mas também seu universo familiar, suas relações pessoais, sua educação, sua profissão. Sem falar que muitas famílias têm dificuldades em manter um tratamento correto e cuidados apropriados para ambas as condições. Sem falar da falta de inclusão na sociedade que ainda sofremos.
O objetivo do teatro é informar, ensinar, orientar. Uma das propostas da peça era ter profissionais ligados ao tema no palco após a peça, para esclarecer dúvidas da plateia, para falar sobre o assunto com o propósito de ajudar a elucidar dúvidas e questões ligadas ao tema. Qualquer texto de qualquer gênero nos dá essas possibilidades, mas é inegável que textos que tratem de temas essenciais como esses devem ser apresentados e discutidos no nosso país. E esses textos não são pesados ou chatos, eles são textos dramáticos – e muitas vezes apresentam um alívio cômico. Infelizmente nossa vida não é feita só de comédias, ou de musicais, de histórias leves apenas. Quem dera! E não estou aqui falando que não gosto de uma boa comédia ou de um belo musical.