Professores e alunos: como eles se sentem?

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Luciana Arslan por Paulo Soares

A importância da educação dos sentidos na vida de professores e alunos

Neste fevereiro de 2021 a volta às aulas em meio a uma pandemia é tema de discursos inflamados e polarizados. Há quem defenda o retorno apenas após a imunização da maioria da população e quem defenda o retorno responsável. O fato é que grande parte das escolas públicas e privadas adotarão o sistema híbrido para o ensino-aprendizado neste ano.

Muito se fala sobre a preparação das salas, a estrutura da escola, o álcool em gel, o uso de máscaras obrigatório, a interdição de bebedouros, o distanciamento social e o lanche na carteira. Já para quem ficará em casa as preocupações são em torno do acesso ao computador, ao celular, se o estudo se dará em cadeira apropriada, no sofá ou na mesa da cozinha, no chão ou “onde der e como der”.

Todos esses tópicos são importantes, mas, parece que falta algo aqui. Pouco se fala sobre como se sentem as pessoas envolvidas: alunos e professores serão os mesmos ao voltarem? Após um ano de pandemia ocorreram grandes transformações na corporeidade de alunos e professores que passaram a usar mais tecnologias e mídias sociais, enfrentaram sentimentos de estranhamento e medo, alteração do sono, da dieta e muitas mudanças de rotina.

A pesquisadora Luciana Arslan usa a sua experiência enquanto professora e aluna como pano de fundo para um livro que traz a discussão acerca da corporeidade de alunos e professores. Seu recente livro “CORPO (sentido): corporeidade e estesia nos processos de ensino-aprendizagem” (Regência e Arte Editora), tem distribuição gratuita graças ao incentivo do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Pmic) da Secretaria Municipal de Cultura de Uberlândia e da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

O trabalho é útil para todas as áreas do conhecimento. Luciana faz uma reflexão sobre como a corporeidade deve ser priorizada nas práticas educativas e aponta algumas ações que ajudam as instituições de ensino a pensarem sobre uma educação para tornar as pessoas mais sensíveis a estesia (educação dos sentidos). Este livro, fruto de uma pesquisa iniciada em 2014 no Body, Mind and Cultural Center (Florida Atlantic University), criado pelo filosofo Richard Shusterman, ajuda a comunidade escolar a refletir sobre como a escola pode ensinar os alunos a sentirem melhor suas vidas. Nos espaços de ensino – sejam eles virtuais, remotos, híbridos ou presenciais, é essencial valorizar a capacidade de sentir.

“O ambiente escolar é muitas vezes permeado por regras, competições, comparações. A tecnologia nos convida às mudanças e precisamos nos adaptar. Muitos de nós temos nossa atenção cooptada por informações inúteis na rede e perdemos a capacidade de manter a atenção no que fazemos. A meditação, por exemplo, pode ajudar a identificar pensamentos não refletidos e a manter o foco em uma tarefa que realmente desejamos concluir”, comenta a pesquisadora.

Luciana Arslan chama a atenção também para um ambiente escolar que por vezes está mais interessado em registrar notas e não sentimentos. E como o professor pode transformar esse espaço se não tem a sua corporeidade reconhecida? É só nos conhecendo melhor que podemos reconhecer ao outro. A pesquisadora acredita que é possível, através de uma educação dos sentidos corporais e da consciência corporal, reinventar as instituições escolares. Para haver uma transformação profunda é preciso que a escola se transforme num espaço de sentir: os sabores, o movimento, as pessoas, a vida. Voltar as aulas após um ano de pandemia deve ser mais complexo do que apenas garantir os protocolos sanitários necessários.

A AUTORA

Nascida em São Paulo, Luciana Arslan é professora do Programa de Pós-Graduação e da Graduação em Artes do Instituto de Arte da Universidade Federal de Uberlândia. Tem concentrado seus estudos na área da Somaestética. É membro do grupo de pesquisa NEID e coordena o grupo de pesquisa SOMA – Ações transdisciplinares. É pesquisadora, autora de livros publicados pela Editora Moderna e Thomson Learning. Graduada em Artes Visuais, tem mestrado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), doutorado na Universidade de São Paulo (USP). Foi contemplada com bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para realizar pesquisa pós-doutoral no Center for Body, Mind and Culture na Florida Atlantic University, e com bolsa Santander para sua pesquisa doutoral na Universitat de Barcelona.

Link do livro:

https://drive.google.com/file/d/1lk8cxZbSVVCRGhSuDgWJmWxHe3uUAdjI/view

CRÉDITO DAS FOTOS: Paulo Soares Augusto