Uberlândia recebe exposição de fotografias de Leo Faria

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Referência internacional, considerado precursor e maior expoente da fotografia de Street Style do Brasil, Leo Faria lança sua primeira exposição fotográfica individual em sua terra natal. A amostra acontece de 03 de dezembro de 2020 à 03 de março de 2021, de segundas às sextas, das 12h às 17h, no Centro Municipal de Cultura, em Uberlândia Minas Gerais.

A exposição “Ao encontro de”, de acesso gratuito e aberta ao público, tem a necessidade de pré-agendamento das visitas presenciais pelo site aoencontrode.art.br, visando medidas de controle à COVID-19, além de permitir uma experiência de realidade virtual a partir de 07 de dezembro. A amostra foi montada em um espaço de 1.000 metros quadrados e conta com mais de 270 imagens feitas ao redor do mundo. A inauguração acontecerá no dia 03 de dezembro, a partir das 19h com a presença do fotógrafo Leo Faria e do curador Josué Mattos.

“Estou muito feliz porque depois de 14 anos morando fora de Uberlândia, eu tenho a oportunidade de compartilhar parte do que eu vi, vivi e produzi neste período. Esta exposição é uma oportunidade de gratidão, de retribuir à cidade, em forma de “encontros”, todo um carinho pela minha terra”.

A ideia da exposição “Ao encontro de”, surgiu após o curador Josué Mattos revisitar os milhares de arquivos fotográficos feitos durante anos de viagens pelo mundo – Hong Kong, Bangkok, Paris, Milão, Nova Iorque, Lima, Uberlândia, entre muitos outros – e perceber a potência de olhares e encontros diversos. O fotógrafo, durante toda a sua jornada, sempre teve o olhar pro diverso, à sua própria maioria, que para muitos, são consideradas minorias.

A amostra conta com o apoio da Canson, Canon, Beck’s, TV Integração e é uma realização do Centro Municipal de Cultura e Prefeitura de Uberlândia.

A exposição: Leo Faria – ao encontro de (texto curatorial)

Ao encontro de reúne imagens que reforçam a natureza complexa de diálogos solitários. Ecoam, em alguma medida, a questão elaborada por Virginia Woolf sobre o sujeito em conversa consigo: “mas quando o eu fala com o eu, quem é que fala?” Antes de responderem à questão, as imagens parecem ocupadas em tratar a necessidade de fragmentar as partes que compõem cada indivíduo para que vozes plurais possam emergir, falar, silenciar ou conversar umas com as outras. De fato, entre as centenas de pessoas que figuram na exposição, algumas poucas se relacionam: a mãe e o seu filho de colo, idosos sentados em um banco de praça à espera de outro pôr do sol, o pequeno grupo de jovens a criar barricadas, duas mulheres que cruzam o campo visual de uma senhora que observa o tempo acelerado a sua volta, dois rapazes abraçados a contemplar o mundo pela tela de um celular, crianças que brincam como se possuíssem asas – algumas prestes a alçar voo. Ou, ainda, um grupo de manifestantes que lutam contra a discriminação e a ascensão de tiranias autoritárias. Estes parecem estar em busca de recuperar seu direito de voar, ainda preservado no grupo de crianças.

Entre a massiva quantidade de figuras isoladas, há um corpo a corpo possível com quem visita a exposição, por meio do qual a sucessão de instantes complementares gera um painel de sensações vulneráveis, líricas, festivas, corriqueiras e duvidosas. É neste contexto que Carol aproxima-se de Cleide, esta de Maia, Ayra, Tito, Bertha, Samuel, Ligia, Douglas, Malia e Rafa. Trata-se de corpos e existências separados por oceanos e continentes, situados na assembleia montada em Uberlândia. De fato, as ruas de diferentes partes do mundo são acolhidas na cidade natal do artista, em uma edificação que reflete o desejo da arquitetura condenada ao pensamento que a entende como extensão do espaço público. O vão que acolhe as ficções da exposição contém a rua e seus caminhantes, estranhezas, pausas e lutas, situados em territórios estrangeiros e no quarteirão ao lado. Com isso tudo em jogo, o embate com cada figura convida a imaginação a gerar narrativas alheias às imagens, capazes de transformar biografias suspensas, dependentes do outro para se reinventar.

Outro dado importante em Ao encontro de diz respeito ao fato de o projeto tomar emprestada a expressão idiomática comumente empregada de maneira desajeitada em nosso país. Ao explorar a confusão de verbos como aproximar e colidir, a exposição enfatiza a fragmentação do si mesmo para ocasionar encontros individuais profícuos que poderão reformular experiências comunitárias. Isso porque a confusão no uso das expressões ao encontro de e de encontro a é via de mão dupla na exposição. É o corte da paisagem que permite o ir e fornece o caminho de volta ao mesmo tempo. Que entende o ato fotográfico como expressão de intimidades atravessadas por espaços públicos. Por isso a importância da ambiguidade contida no maço de flores na mão de um senhor que caminha, na indignação escrita nas palmas das mãos de uma jovem mulher, no estado contemplativo de monges e na leitura de Tereza no vagão de trem.

Em tempos de isolamento social decorrente de ameaça à vida em cada canto do planeta, ir ao encontro da alteridade requer uma série de medidas em vista de conter contágios que transformaram o outro em figura fragilizada pelo invisível. Daí considerar o projeto Ao encontro de como a testemunha de existências que revertem leituras fornecidas à primeira vista pela imagem. Como se estivesse em jogo o exercício de considerar outras narrativas para figuras que portam máscaras, para o olhar curioso da menina, ou para a leitura atenta de Tereza, sentada em um vagão de trem enquanto aguarda chegar à estação na qual deverá desembarcar. Sua consulta ao jornal encontrado em seu assento – provavelmente deixado por algum viajante que esteve ali antes dela – revela imagens que lhe fornecem memórias de uma parte de si, perdida em algum canto de sua memória. Enquanto levanta os olhos para identificar o avançar da viagem, outra parte de si é levada à infância vivida em um povoado no interior de outro país, com cultura e idioma diferentes daquele adotado no começo de sua juventude. Aproximar a captura de instantes de pessoas em movimento e suscitar leituras inventivas, com enredos para cada figura fazem  da exposição um campo aberto à partilha de experiências que definem pessoas como organismos sensíveis envoltos em coragem, fragilidade, terror e esperança.

Sobre Leo Faria

Nascido em 23 de agosto de 1979, em Uberlândia – MG, Leo é formado em Publicidade, foi professor de criação e fotografia na Escola Superior de Marketing e Comunicação – ESAMC e, nos últimos 16 anos, se dedica exclusivamente à fotografia, sendo reconhecido como o precursor e maior expoente da fotografia de Street Style do Brasil.

Colabora com inúmeras publicações nacionais e internacionais, assinando editoriais e capas de moda, além de ser responsável por importantes campanhas publicitárias.

Em 2016, recebeu o prêmio de Melhor Fotografia de Moda do Ano pelo Prêmio Abril de Jornalismo.

Em 2017, lançou o primeiro livro de Street Style do Brasil, o Street Style Book – Moda em Movimento publicado pela Editora Abril associada à Revista Elle.

Fez e faz inúmeras palestras sobre sua trajetória e linguagem fotográfica. É o primeiro e único fotógrafo da América Latina a tornar-se embaixador da maior marca de papéis artísticos para fotografia, a Canson, uma marca francesa com 450 anos de história.

Realizou as seguintes exposições:

– Exposição Equals, na Bienal de São Paulo, durante a 44° edição da SPFW em agosto/2017.

– Exposição, palestra e workshop, no Museu de Fotografia de Fortaleza, em agosto de 2018.

– Exposição Work in Progress, durante a 47° edição da SPFW, em abril de 2019, com 300 metros quadrados, um estúdio de edição e tratamento, e uma molduraria em atividade durante todo período expositivo.

– Exposição Olhar à Terceira Pele durante a MADE/19, em agosto de 2019, que ocupou toda a rampa da Bienal de São Paulo com mais de 100 retratos impressos em tamanho real (1,10m X 2,00m).

Atualmente está trabalhando na execução de dois projetos: um que objetiva percorrer 40 países registrando cultura e comportamento através do vestuário contemporâneo; e outro que lança mão da antropologia visual para percorrer as camadas de relacionamento de 24 artistas com o mundo.