A decisão de adiar a maternidade tem se tornado cada vez mais comum no Brasil e no mundo. Dados recentes do IBGE mostram uma queda acentuada da taxa global de fecundidade e um aumento progressivo da proporção de mães em faixas etárias mais altas, especialmente entre 30 e 39 anos. Embora menos frequente, a gravidez após os 40 anos vem ganhando visibilidade, impulsionada tanto por mudanças sociais quanto pelo avanço das técnicas de reprodução assistida.
Estudos brasileiros mostram que mulheres com mais de 40 anos enfrentam maiores taxas de complicações obstétricas. Um em especial, da Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, registrou que 64,8% dessas gestantes tiveram parto cesáreo, e problemas como prematuridade (16,5 %), baixo peso ao nascer (15,7 %) e restrição de crescimento fetal (16,1 %) foram mais frequentes neste grupo.
Revisões também apontam que a idade materna avançada está associada ao aumento de pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, parto prematuro e maior utilização de cesárea. Segundo um estudo nacional, mulheres com mais de 40 anos têm 1,06 vezes mais chance de desenvolver pré-eclâmpsia e 1,33 vezes mais risco de crescimento intrauterino restrito.
Pré-natal reforçado
Apesar dos riscos, especialistas ressaltam que o estilo de vida pode desempenhar papel decisivo para uma gestação saudável. A ginecologista e obstetra Dra. Katia Martins, do Hospital Mater Dei Santa Clara, recomenda que mulheres que planejam adiar a maternidade priorizem hábitos saudáveis. “Uma boa alimentação, baixos níveis de estresse, sono de qualidade e atividade física regular, com controle de peso, são fatores que podem prolongar a fertilidade e reduzir complicações. Em alguns casos, o congelamento de óvulos pode ser um investimento importante, pois permite que a mulher planeje o melhor momento para engravidar com mais segurança.”
A médica reforça que a idade materna impacta diretamente a reserva ovariana, formada ainda durante a gestação da própria mulher. “Por volta dos 35 anos, a maior parte dos óvulos já foi consumida, e a fertilidade cai significativamente. Nessa fase, a reprodução assistida pode ser um recurso valioso.
Um olhar mais maduro
Para além dos aspectos clínicos, Dra. Katia ressalta os benefícios da maturidade na experiência da maternidade. “A mulher na maturidade não apenas gera, mas floresce novamente. Com estabilidade emocional e, muitas vezes, financeira, a vivência da gestação pode trazer novo propósito e sentido à vida, reverberando positivamente para toda a família.”
A recomendação das sociedades médicas é clara: mulheres acima dos 35 anos que desejam engravidar devem buscar acompanhamento especializado desde a fase de planejamento, ampliando o cuidado com o pré-natal, realizando rastreios genéticos e mantendo hábitos saudáveis. Assim, é possível transformar riscos em segurança e acolhimento, num momento de grande significado pessoal e familiar.