As contas do início do ano exigem planejamento financeiro

Como organizar o orçamento diante das despesas que se concentram em janeiro

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Com a virada do ano, muitas famílias brasileiras se deparam com um velho conhecido do orçamento doméstico: a concentração de despesas logo nos primeiros meses. Janeiro chega acompanhado de compromissos previsíveis e inevitáveis, como IPVA, IPTU, matrícula e material escolar, seguros, impostos e reajustes de serviços essenciais. Mesmo sendo contas recorrentes, elas continuam desorganizando as finanças de quem não se preparou ao longo do ano anterior.

Para Robson Profeta, Consultor de Finanças e de Carreira e fundador da Metha Consulting, o desafio do início do ano não está na surpresa das despesas, mas na forma como as pessoas administram o dinheiro antes que elas cheguem. Segundo ele, a falta de planejamento transforma gastos conhecidos em fonte de estresse e endividamento. “Essas contas não aparecem de repente. Elas têm data, valor aproximado e já fazem parte da rotina das famílias. O problema é que muita gente chega a janeiro sem reserva, sem organização e sem margem de manobra”, afirma.

Nesse contexto, o 13º salário desempenha um papel estratégico. Embora seja recebido no fim do ano anterior, esse recurso deveria funcionar como um amortecedor financeiro para as despesas que já estavam no horizonte. Quando não é reservado para esse fim, o início do ano tende a ser marcado por apertos, atrasos e uso excessivo de crédito. Na prática, o comportamento mais comum é consumir todo o dinheiro disponível no curto prazo, deixando para lidar com as obrigações depois. Quando janeiro chega, a alternativa acaba sendo o parcelamento no cartão de crédito, o uso do cheque especial ou a contratação de empréstimos. Opções que, além de caras, comprometem a renda dos meses seguintes. “O problema não é o gasto em si, mas a ordem das decisões. Quando as pessoas priorizam consumo e deixam obrigações previsíveis para depois, acabam pagando juros para resolver algo que poderia ter sido planejado com antecedência”, explica Profeta.

Dados do Banco Central mostram que o crédito rotativo e o parcelamento da fatura do cartão estão entre as modalidades com os juros mais altos do mercado. Isso significa que a falta de organização no início do ano pode gerar um efeito cascata, transformando despesas pontuais em um problema financeiro prolongado. Por outro lado, quem consegue chegar a janeiro com reservas ou com parte do 13º salário direcionado para essas contas ganha mais do que fôlego no orçamento: ganha tranquilidade e poder de decisão. Com as obrigações em dia, sobra espaço para reorganizar metas, lidar com imprevistos e evitar escolhas impulsivas ao longo do ano.

Como se preparar para as despesas do começo do ano

Segundo Robson Profeta, gerenciar bem as finanças pessoais não exige soluções complexas, mas sim previsibilidade e disciplina. Algumas práticas simples ajudam a atravessar esse período com mais segurança:

– Antecipe as despesas fixas de janeiro, como impostos, escola e seguros, reservando recursos ainda no ano anterior.

– Use o 13º salário de forma estratégica, priorizando contas certas antes de qualquer consumo.

– Evite recorrer a crédito caro para despesas previsíveis, reduzindo o impacto dos juros no orçamento.

– Organize o fluxo de caixa familiar, registrando entradas e saídas e projetando os próximos meses.

– Consuma com consciência, apenas depois de cumprir as obrigações já conhecidas.

“Quando a pessoa entende o calendário financeiro do próprio ano, ela deixa de ser refém das contas e passa a ter controle. O dinheiro deixa de ser fonte de ansiedade e passa a ser uma ferramenta de organização”, reforça o consultor. No fim das contas, o início do ano não revela apenas o peso das despesas, mas o nível de preparo financeiro das famílias. Quem se planeja enfrenta janeiro com equilíbrio. Quem não se organiza passa boa parte do ano tentando corrigir decisões que poderiam ter sido evitadas com antecedência.