Novembro Azul e saúde mental masculina

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Autor: Vicente Melo Psicólogo, coordenador de Psicoterapia em Telessaúde da Hapvida
A campanha Novembro Azul tem rompido barreiras culturais ao incentivar conversas abertas sobre saúde masculina, quebrando tabus e estimulando os homens a buscarem cuidado preventivo. Ainda assim, dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) mostram que 46% dos homens procuram um médico somente quando apresentam sintomas. Isso reforça a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. Ao mesmo tempo, é urgente ampliar esse debate para outro aspecto igualmente vital: a saúde mental.

Historicamente, os homens foram ensinados a desempenhar papéis marcados pela força, pela racionalidade e pela ausência de vulnerabilidade. Essa construção social e histórica do machismo cobra um preço alto, especialmente no campo emocional e relacional. Desde cedo, muitos aprendem a reprimir sentimentos, a não demonstrar fragilidade e a evitar pedir ajuda. O resultado é uma geração que, frequentemente, sofre em silêncio diante da dor emocional e de diversas psicopatologias.

Dados da Organização Pan-Americana da Saúde / OMS indicam que as taxas globais de mortalidade por suicídio são “75% mais altas em homens do que em mulheres”. Essa realidade escancara que o adoecimento não é apenas físico, mas também psicológico e que o tabu em torno da vulnerabilidade masculina constitui, por si só, uma questão de saúde pública mundial.

Falar sobre saúde do homem exige, portanto, ir além da próstata. É necessário incluir temas como autocuidado emocional, inteligência emocional, expressão de sentimentos e fortalecimento das redes de apoio. Criar espaços seguros, nos quais os homens possam falar sobre seus medos, inseguranças e sofrimentos sem medo de julgamento, é um passo essencial rumo à prevenção e ao bem-estar integral.

A psicoterapia tem se mostrado um caminho eficaz nesse processo. O acompanhamento psicológico oferece um espaço de acolhimento e escuta empática, permitindo desconstruir padrões rígidos de masculinidade e aprender novas formas de lidar com as emoções e com a vida cotidiana.

Pequenas práticas também podem transformar a rotina: dedicar tempo a si mesmo, movimentar o corpo, questionar comportamentos automáticos, permitir-se sentir e, sobretudo, buscar ajuda profissional sempre que necessário.

Falar sobre saúde mental é um ato de coragem e de responsabilidade, consigo mesmo e com todos ao redor. O verdadeiro sentido do Novembro Azul deve ser o de promover uma cultura de cuidado integral, em que o homem reconheça que ser forte também é saber pedir ajuda.