A dor crônica é um problema de saúde pública que afeta milhões de brasileiros, impactando não apenas o corpo, mas também a mente e a qualidade de vida. Estudos mostram que cerca de 30% a 50% dos pacientes desenvolvem quadros de depressão ou desesperança associados à condição. Ansiedade, isolamento social e distúrbios do sono também figuram entre os efeitos mais comuns, tornando o tratamento ainda mais complexo.
Este é um dos temas que será debatido em uma mesa-redonda Dor Crônica na APS – Abordagem interdisciplinar, marcada para o dia 17 de outubro, durante o I Simpósio Multiprofissional na Atenção Primária (SIMAP 2025), promovido pela Missão Sal da Terra. O evento reunirá profissionais, gestores, estudantes e pesquisadores para debater estratégias que qualifiquem o cuidado no Sistema Único de Saúde (SUS).
O debate contará com a participação de Rita Alessandra Cardoso (USP) e a mestre em Psicologia da Saúde, Teresa Cristina Martins (UFU), que defende a necessidade urgente de sensibilizar os profissionais da Atenção Primária para acolher esses pacientes.
Segundo Teresa, a dor é uma experiência multidimensional, processada em diversas áreas cerebrais relacionadas à emoção, cognição e memória. “A ciência já demonstrou que pensamentos catastróficos, ansiedade e depressão podem intensificar a percepção dolorosa. Validar o relato do paciente é fundamental para construir vínculo e evitar que ele se sinta desacreditado”, explica a psicóloga, coautora do livro Descoberta Guiada para o Manejo da Dor.
Ela ressalta que a formação multiprofissional é essencial: médicos, fisioterapeutas e psicólogos devem atuar de forma integrada, adotando técnicas que vão desde o manejo adequado de medicamentos até terapias cognitivas, estratégias de relaxamento e grupos de apoio. “A atenção primária precisa avançar de um modelo biomédico para o biopsicossocial, com foco na funcionalidade e não apenas na cura. Para isso, é necessário treinar e acolher os profissionais, dando-lhes ferramentas para escuta ativa, psicoeducação e validação do sofrimento do paciente”, acrescenta.
O simpósio busca justamente estimular esse novo olhar, criando espaços de diálogo e capacitação para que os profissionais da rede pública possam oferecer cuidados mais eficazes e humanos.
Dor crônica: desafios invisíveis que exigem novo olhar na Atenção Primária
A dor crônica é uma das principais causas de sofrimento prolongado e perda de qualidade de vida em todo o mundo, mas ainda enfrenta subnotificação, estigma e invalidação no cotidiano dos serviços de saúde. Muitas vezes, pacientes peregrinam por diferentes especialidades em busca de um diagnóstico ou de um profissional que valide seus sintomas.
De acordo com a psicóloga, “Desde a década de 1960, a ciência vem mostrando que a dor não é apenas resultado de uma lesão física. Ela envolve também emoções, cognições e memória. Pacientes com dor crônica frequentemente apresentam ansiedade, depressão, isolamento social e distúrbios do sono, que acabam acentuando ainda mais a percepção dolorosa”, explica.
Além disso, o medo de sentir dor — conhecido como cinésiofobia — leva muitos a evitar atividades físicas, o que gera descondicionamento e perda da autonomia. “O isolamento social é um dos efeitos mais devastadores. A pessoa começa a evitar compromissos por medo da dor surgir em público, perdendo também o suporte social, que é essencial para enfrentar a doença”, alerta Teresa Cristina.
Entre as estratégias que podem auxiliar no enfrentamento, a especialista destaca a terapia cognitivo-comportamental, com técnicas como reestruturação de pensamentos catastróficos, atenção plena (mindfulness), exercícios de relaxamento e grupos terapêuticos. Outro aspecto decisivo é a validação do relato do paciente. “Frases simples como sua dor é real, ou acredito que deve estar sendo difícil lidar com isso, têm efeito terapêutico imediato. Validar não é alimentar desesperança, mas reconhecer o sofrimento do paciente como legítimo”, reforça.
Para a psicóloga, a Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha papel fundamental e estratégico nesse cuidado, pois é a porta de entrada do SUS. Mas ela reconhece os desafios: tempo limitado das consultas, sobrecarga das equipes e falta de protocolos específicos para dor crônica. “É preciso oferecer treinamento, educação permanente e fluxos de encaminhamento claros. A mudança de paradigma passa por adotar uma visão integral, com foco na funcionalidade e na corresponsabilidade entre paciente e equipe de saúde”, afirma.
Serviço
I Simpósio Multiprofissional na Atenção Primária (SIMAP 2025)
Local: Uberlândia (MG)
Data: 15 a 17 de outubro de 2025
Destaque: Mesa redonda sobre Dor Crônica na APS – 17 de outubro
Participantes: Rita Alessandra Cardoso (USP) e Teresa Cristina Martins (UFU)
Realização: Missão Sal da Terra
Informações: https://www.
Inscrições: https://www.even3.