Com crescimento de hospitalizações em Uberlândia e dados nacionais alarmantes, especialistas apontam prevenção precoce, diagnóstico de osteoporose e adaptações no ambiente doméstico como medidas-chave para reduzir riscos.
Quedas de pessoas com 60 anos ou mais respondem por cerca de 70% dos acidentes domésticos registrados no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. O problema também é a principal causa de mortes acidentais em idosos acima de 75 anos, conforme dados oficiais. A expectativa de vida, que chegou a 77 anos em 2021 (IBGE), e a projeção de que, em 2025, o Brasil será o sexto país em número de idosos (OMS) reforçam a necessidade de ações coordenadas de prevenção.
Ambiente doméstico como palco principal
Dados do Ministério da Saúde indicam que 70% das quedas em idosos ocorrem na própria residência. Pesquisa da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) mostrou que, entre 485 atendimentos hospitalares de emergência por quedas, 76% dos pacientes sofreram o acidente dentro de casa, especialmente em banheiro (28,8%) e quarto (15,8%). Tapetes soltos, desníveis e escadas foram apontados como fatores de risco por 76,8%, 61,0% e 39,0% dos entrevistados, respectivamente?(FREITAS JÚNIOR, 2006).
Hospitalizações em Uberlândia em alta
Em Uberlândia, o número de internações no SUS por quedas em idosos mais que dobrou entre janeiro e abril de 2025, passando de 21 casos, no mesmo período de 2024, para 40 casos em 2025, segundo a Superintendência Regional de Saúde de Minas Gerais. Em 2024, foram 101 hospitalizações ao longo do ano. A osteoporose figura entre as principais causas desse crescimento.
“A prevenção da perda de massa óssea deve começar já na vida adulta, com alimentação rica em cálcio, exposição solar adequada e atividades de resistência, como pilates e musculação”, afirma o geriatra Tiago Ferolla, da Linha do Cuidado do Idoso do Hospital Mater Dei Santa Genoveva.
Ferolla alerta que doenças crônicas — cardiopatias, hepatopatias e enfermidades pulmonares — comprometem o equilíbrio e a força muscular, elevando o risco de queda. Para ele, o acompanhamento geriátrico regular assegura o controle dessas condições e promove práticas preventivas.
O papel de cálcio, vitamina?D e exercício
Conforme Ferolla, a vitamina?D é imprescindível para a absorção do cálcio, enquanto o mineral é fundamental para a mineralização óssea. As recomendações diárias variam de 800 a 2.000?UI de vitamina?D e de 1?000 a 1?200?mg de cálcio.
“Exercícios de carga reduzem a perda de massa óssea e melhoram o equilíbrio. Caminhada, dança, musculação leve e pilates são modalidades que contribuem para a prevenção de quedas”, explica o especialista.
Visão da ortopedia sobre osteoporose
A ortopedista do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, Dra.?Cinthia Monteiro, enfatiza a importância do diagnóstico precoce da osteoporose, especialmente em mulheres. “A deficiência de estrogênio após a menopausa, aliada ao envelhecimento, histórico familiar e sedentarismo, são fatores que aceleram a perda de massa óssea. O rastreio em mulheres deve começar aos 65 anos ou antes, se houver risco, e o diagnóstico é feito principalmente pela densitometria óssea”, explica.
Ela lembra que homens, e até jovens, também podem ser afetados em situações específicas, como doenças endócrinas, uso prolongado de corticoides ou má nutrição. “A atividade física é uma ferramenta essencial no cuidado com a saúde óssea. Exercícios com carga leve a moderada, como caminhadas e musculação, além de práticas de equilíbrio, como pilates e tai chi chuan, ajudam a reduzir a perda óssea, melhoram a força e previnem quedas”, orienta.
Sobre o tratamento, Dra. Cinthia detalha que existem medicamentos que reduzem a reabsorção óssea (como bisfosfonatos e denosumabe) e agentes anabólicos que favorecem a formação do osso, além da suplementação obrigatória de cálcio e vitamina D.
“O papel da ortopedia é identificar pacientes em risco, orientar exames e conduzir tratamentos para evitar fraturas. As fraturas decorrentes da osteoporose, principalmente em fêmur, coluna e punho, estão associadas a índices elevados de morbidade e mortalidade, por isso a prevenção é fundamental”, ressalta.
Rumo a políticas de prevenção
Apesar da incidência semelhante ao longo dos meses, as quedas concentram-se entre 6h e 10h. Segundo a UFU, apenas 32,8% dos idosos entrevistados haviam recebido alguma orientação preventiva. A letalidade registrada foi de 3,5%.
Especialistas da Linha de Cuidado do Idoso do Hospital Mater Dei Santa Genoveva apontam que, para reduzir internações e óbitos, é preciso incentivar avaliações geriátricas regulares, adaptar residências para eliminar riscos (tapetes fixos, corrimãos, iluminação adequada) e investir em programas de fortalecimento ósseo e muscular para adultos e idosos.