Amipa celebra 26 anos como símbolo da força coletiva e inovação na cotonicultura mineira

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Há 26 anos, uma iniciativa coletiva de alguns produtores de algodão transformou a paisagem agrícola de Minas Gerais e reacendeu a chama da cotonicultura no estado. O que era, no final dos anos 1990, uma cultura em retração, ameaçada por pragas e abandono técnico, hoje se destaca, nacional e internacionalmente, em padrões elevados de qualidade,  produtividade e rastreabilidade. No centro dessa trajetória está a Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa), fundada em 1999 com o objetivo de representar o setor, defender os interesses dos produtores, promover a inovação do modelo produtivo e atuar perante autoridades na busca por regulamentação e condições de comercialização mais justas.

Em 2025, o Brasil consolida-se como um dos maiores produtores globais de algodão, com previsão, de acordo com a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), de 3,96 milhões de toneladas de pluma na safra 2024/2025, crescimento de 7,1% em relação à temporada anterior. O país também se mantém como líder mundial em exportações, com expectativa de embarcar 2,9 milhões de toneladas de fibra até o fim do ano comercial. Nesse cenário de crescimento, Minas Gerais alcança o posto de terceiro maior produtor nacional da fibra e projeta uma de suas melhores safras em duas décadas: são esperadas aproximadamente 78 mil toneladas de pluma produzida e mais de 190 mil toneladas em caroço. Esse desempenho é resultado da dedicação dos cotonicultores mineiros que têm na Associação um forte braço para além de um trabalho continuado de articulação institucional, uma apoiadora na oferta de qualificação técnica e consolidadora de parcerias que buscam a melhoria contínua da qualidade da fibra produzida aqui.

Da semente à estrutura: a gênese da Amipa
Entre os fundadores estava Nelson Scheneider, primeiro presidente da Amipa, cuja trajetória começou no Distrito Federal com projetos de assentamento e cooperativismo. “Foi a partir do exemplo de outros produtores que resolvi reunir um grupo para investir na cultura do algodão em Minas. Começamos com cerca de 11 mil hectares e enfrentamos juntos os desafios. A Amipa nasceu para buscar subsídios, organizar a produção e representar os produtores”, relembra. Para Scheneider, a união foi essencial: “Sozinho ninguém faz nada. A Amipa é peça central para o fortalecimento da cotonicultura em Minas”.

Ao seu lado, nomes como Inácio Carlos Urban, que assumiria a presidência em 2002, foram fundamentais para estruturar a Associação. “No começo era tudo muito novo, cheio de desafios. Minas precisava de uma entidade forte e respeitada. Foram anos de dedicação para tornar nosso algodão mais competitivo. O trabalho da Amipa deixou um legado que vai beneficiar gerações”, afirma Urban, que reforça o aspecto técnico da cultura: “o algodão é apaixonante, exige envolvimento verdadeiro. É uma faculdade sem fim”.

Fortalecimento institucional e Proalminas: uma virada histórica
A estruturação da Amipa como referência no setor ganhou fôlego a partir de 2003, com a criação do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas), fruto de uma forte articulação entre a Associação, o Governo de Minas e a indústria têxtil. A iniciativa foi coordenada à época pelo então secretário de Agricultura, Odelmo Leão, que destaca o impacto do programa: “o Proalminas garantiu mercado ao produtor, ofereceu incentivos fiscais e impulsionou a produção, especialmente no Norte de Minas. Mais de duas décadas depois, os resultados seguem concretos para a economia e para a sustentabilidade rural”.

O programa criou um novo ciclo de confiança na cultura. Entre 2019 e 2024, os investimentos financeiros do Proalminas e Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura no Estado de Minas Gerais (Fundo Algominas), administrados pela Amipa, somaram aproximadamente R$ 12,8 milhões, aplicados em prol do setor produtivo em diversas áreas como pesquisa, controle de pragas, capacitação técnica e treinamento, boas práticas socioambientais, biotecnologia, qualidade de fibra, eventos de fomento à cotonicultura, apoio à agricultura familiar, entre outros. A atuação conjunta entre Governo e Associação também permitiu a instalação de kits de irrigação por gotejamento e aspersão, poços artesianos, piscinões e outras estruturas no semiárido mineiro, com impactos diretos na produtividade e na qualidade da fibra produzida pelos pequenos produtores. Um marco para a retomada do algodão naquela região.

O atual presidente da Amipa, Daniel Bruxel, reforça a importância do programa como política pública bem-sucedida. “O Proalminas conecta os elos da cadeia: produtores, indústrias e governo. O acordo garante um ganho para todos. O produtor recebe um ágio, a indústria se compromete a consumir 100% da produção e o estado fomenta o setor, sem perda fiscal. É uma construção coletiva que fortalece a cotonicultura de forma estratégica”, explica.

Tecnologia e conhecimento como alicerces
Desde os primeiros anos, a Amipa adotou a inovação como eixo estruturante de sua atuação. Sob a liderança de Ângelo Dias Munari, ex-presidente da entidade, foram implantados projetos desafiadores como a construção da sede própria da Associação, premiada nacionalmente por seu projeto arquitetônico, e o investimento em áreas experimentais. “A diretoria sempre atuou de forma unida, buscando soluções técnicas e estruturais para o bem coletivo. Tivemos muitos desafios, mas sempre com dedicação e paixão pela cultura do algodão”, recorda Munari.

Outro marco foi a abertura da Central de Classificação de Fibra de Algodão (Minas Cotton), instalada em Uberlândia (MG) em 2006, cuja implantação contou com apoio da prefeitura local. “Hoje, a unidade é uma referência nacional, contribuindo para a certificação e qualidade do algodão mineiro”, relembra Odelmo.

Fábrica de Produtos Biológicos (Biofábrica), inaugurada em 2014, introduziu inicialmente entre os produtores associados a proposta de controle biológico como alternativa sustentável para o controle de pragas e, devido ao sucesso, hoje o portifólio de produtos, ampliado ao longo dos últimos anos, é oferecido ao mercado de diversas culturas. Em 2023, foram produzidos mais de 1,1 bilhão de insetos úteis – como o Trichogramma pretiosum e o Crisopídeo –, permitindo a redução de 120 mil litros de agroquímicos em áreas monitoradas pela Amipa. Segundo Daniel, a Biofábrica “é um exemplo nacional. Além de produzir os macro-organismos, a Associação faz a aplicação técnica nas lavouras, o que exige precisão e conhecimento. O impacto ambiental e econômico para o produtor é muito positivo”.

Certificações e sustentabilidade
Minas Gerais participa de iniciativas voltadas à produção sustentável de algodão e à rastreabilidade. Mais de 60% da produção do estado é certificada pelo Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) e isso garante ao mercado local e internacional que a fibra mineira respeita critérios sociais, ambientais e legais. Além disso, a etapa de industrialização e beneficiamento do algodão mineiro também é certificada pelo Algodão Brasileiro Responsável para Unidades de Beneficiamento de Algodão (ABR-UBA).

Segundo Bruxel, o processo de certificação da cultura exige compromisso e inovação constante. “As certificações pedem rigor em práticas como manejo integrado, uso racional de água e controle de emissões. As propriedades mineiras já superam o exigido pela legislação. Isso também fortalece nossa posição junto a mercados cada vez mais exigentes”.

Representatividade e alianças institucionais
Desde a sua fundação, a Amipa tem atuado como articuladora entre o setor produtivo, instituições científicas e o poder público. A entidade integra a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), participa de comitês técnicos do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), mantém convênios com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Embrapa Algodão e participa de cooperações técnicas com diversas universidades de Minas Gerais.

A projeção internacional também se expandiu. A Amipa participa de ações de cooperação técnica com países africanos lusófonos, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC). A troca de experiências levou técnicos e produtores de Minas a promoverem capacitações e projetos em Angola, Moçambique, Senegal, Etiópia, Benin, Mali e Costa do Marfim, ampliando a influência do modelo mineiro de produção sustentável.

Segundo o diretor executivo da Associação, Lício Augusto Pena Sairre, a entidade tornou-se referência para diversos países africanos que almejam uma organização associativa forte e atuante. “Características da Amipa que distinguem em parte de outros modelos associativos é a proximidade com a indústria têxtil, integrando o produtor ao industrial têxtil através do Proalminas, os trabalhos a campo que envolvem todo o sistema produtivo onde o algodão está inserido e o diálogo constante com todos os elos da cadeia”, afirma.

O futuro: inovação, carbono e novos mercados
O cenário para os próximos anos é promissor. A Amipa projeta ampliar o uso de agricultura de baixo carbono nas propriedades de seus associados, com incentivo a práticas regenerativas e uso de biotecnologias. O controle biológico seguirá em expansão e novas tecnologias de automação e rastreabilidade digital estão em fase de desenvolvimento.

“A meta da Amipa é fortalecer a cotonicultura com crescimento sustentável, baseado em ciência, informação e análise de mercado. Não é só aproveitar o bom preço. É orientar, apoiar tecnicamente e estruturar os produtores para decisões seguras e duradouras”, destaca Daniel Bruxel.

O compromisso com o futuro é compartilhado por quem ajudou a construir essa história. Ângelo Munari reforça que “plantar algodão sem estar associado à Amipa não faz sentido. É uma entidade que trabalha dia e noite pelos produtores. Ver como o algodão mineiro evoluiu é motivo de orgulho”.

Reconhecimento e continuidade
Ao celebrar seus 26 anos, a Amipa presta homenagem a todos que contribuíram com sua trajetória: fundadores, associados, técnicos, instituições públicas e privadas. A entidade também reafirma seu compromisso com o desenvolvimento sustentável da cotonicultura e com a promoção de um setor cada vez mais forte, inovador e socialmente justo.

“É gratificante ver que Minas Gerais é, hoje, referência em qualidade e sustentabilidade do algodão. Isso é resultado de uma construção coletiva, com muito trabalho e paixão”, resume Inácio Urban. E, como lembra Nelson Scheneider: “a união dos produtores foi o que garantiu o futuro do algodão em Minas. E continuará sendo o pilar dessa história por muitos anos”.