A explosão de novos slogans no Brasil

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Os brasileiros são fãs de slogans novos. Eles adoram importar expressões em inglês. Recentemente, explodiu no Brasil o slogan quiet firing – um termo que descreve a prática, por parte da empresa, de criar um ambiente de trabalho tão insatisfatório que o funcionário se sinta pressionado a pedir demissão, sem que a empresa o demita formalmente. É como uma “demissão silenciosa”. Esse termo nada mais é do que forçar um empregado a pedir demissão. Ao invés de demitir o empregado, cria-se uma circunstância e um ambiente no qual ele, exaurido , diminuído e humilhado pede para sair .

Essa dinâmica existe no mundo organizacional e hoje vem se tornando mais sofisticada, talvez por isso tem sido tão citada na mídia. É justamente essa sofisticação que aproxima o fenômeno do tradicional assédio. Contudo, já cientes de que o assédio velado é punido e fácil de se provar , passou-se a praticar de modo mais sutil.

O quiet firing surgiu em resposta ao quiet quitting, no qual o movimento inverso ocorria, ou seja, os colaboradores deixavam de exercer sua função corretamente, com o intuito de gerar um descontentamento nos gestores e forçar a demissão. O quiet firing tem um traço particular : o empregado afoga no próprio pântano. Esse pântano , entretanto , é fabricado pelos gestores por meio de um sistema reverso de feedbacks e de impedimentos diversos. O colaborador não consegue dar resultados ou sequer se tornar elegível aos mesmos , pois é colocado à mercê do jogo de forma silenciosa. Essa situação, lamentável, ocorre frequentemente em agências bancárias, como por exemplo, alterar a carteira de gerentes.

Em outras palavras, o gestor pretendendo impedir o atingimento de resultados de algum gerente passam os melhores clientes para outros gerentes. Uma outra forma é impedir o engajamento . O sujeito é posto de lado e sem aderência , sucumbe , porque fica fora das equipes. Com suspensão de feedbacks, congelamento de metas , transferências ou impedimento de promoção , entre outras ações, o funcionário se sente desvalorizado e pede demissão.

A grande metáfora do quiet firing é que ele não passa de uma perseguição ou desmantelamento de uma carreira de forma intencional. É um tiro na autoestima e um modo de sabotar uma vida. É uma forma maquiavélica e perversa de “demissão silenciosa” que custa caro.

É provável que muitos líderes enxerguem apenas as vantagens do quiet firing para as empresas, como evitar o desgaste de ter que dispensar um profissional e pagar os seus direitos. Entretanto, a prática traz muitas consequências negativas para as equipes. Além disso, repercute muito mal entre os demais colaboradores que tem levado as empresas a repensar se essa atitude cruel vale a pena.

Maria Inês Vasconcelos é advogada, pesquisadora e escritora