O câncer de ovário figura entre os tumores ginecológicos com maior índice de mortalidade no Brasil, em grande parte devido ao diagnóstico atrasado e à falta de exames de rastreamento eficazes. Entre 2023 e 2026, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) projeta a ocorrência de 7.310 novos casos em mulheres, representando 3% de todas as neoplasias femininas no país e posicionando-se como o oitavo mais comum nesse grupo. Em 2020, cerca de 4.000 brasileiras perderam a vida pela doença, sendo ela a sétima maior causa de óbito por câncer entre mulheres.
Desafios no diagnóstico precoce
Grande parte das pacientes permanece assintomática até estágios avançados, quando surgem sinais como dor, ou distensão abdominal, e perda de peso. Segundo Nathalia Naves, oncologista do Mater Dei Santa Genoveva, “a natureza silenciosa do câncer de ovário impede a detecção em fase inicial, pois não há exame de rastreio eficaz. Muitos casos só são identificados quando já há disseminação”.
Avanços em métodos de imagem
Nos últimos anos, incorporaram-se à prática clínica técnicas de imagem com maior precisão:
Ressonância Magnética Multiparamétrica (RMmp): livre de radiação, permite caracterizar estruturas pélvicas e avaliar extensão extraovariana com critérios de risco padronizados, conforme recomendações do Colégio Americano de Radiologia.
PET-CT com 18F-FDG: indicado para estadiamento de alto risco e detecção de recidivas, com sensibilidade superior a 90% em lesões recorrentes, segundo diretriz da European Association of Nuclear Medicine (EANM).
Medicina de precisão e terapias-alvo
A incorporação de protocolos de quimioterapia personalizada e terapias-alvo tem alterado o prognóstico em estágios avançados:
Inibidores de PARP (olaparibe, niraparibe, rucaparibe): bloqueiam a reparação de DNA em células com deficiência de recombinação homóloga, especialmente em pacientes com mutação germinativa ou somática nos genes BRCA1/2. Estudos como SOLO-1 e PRIMA demonstraram redução de até 70% no risco de progressão ou morte, quando usados em manutenção após resposta à quimioterapia primária.
Quimioterapia de manutenção personalizada: seleção de agentes com base no perfil molecular do tumor, buscando maior sobrevida livre de progressão e menor toxicidade.
Perfil genético como guia terapêutico
Segundo a Dra. Nathália, a pesquisa de mutação BRCA está indicada para todas as pacientes com câncer de ovário, pois existem medicamentos direcionados para essas mutações, sejam elas apenas no tumor ou hereditárias.
Prevenção e fatores de risco
Embora não haja método de rastreio, medidas de prevenção podem reduzir incidência e mortalidade. Obesidade é fator de risco reconhecido pelo INCA, e um estilo de vida saudável — com dieta balanceada e prática de atividade física regular — contribui para redução do risco. A médica orienta que“o incentivo à mudança de hábitos deve fazer parte de qualquer programa de atenção à saúde da mulher”.
Perspectivas
O cenário do câncer de ovário no Brasil transita para uma era de medicina de precisão, em que a integração de exames de imagem avançados, marcadores séricos e terapias direcionadas cria oportunidades para diagnóstico mais precoce e tratamentos menos tóxicos. A consolidação dessas tecnologias e protocolos poderá reduzir a mortalidade e melhorar a qualidade de vida das pacientes.