Endometriose: o desafio invisível que afeta 190 milhões de mulheres no mundo

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A endometriose é uma daquelas doenças que, embora afete quase 190 milhões de mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda carrega o estigma do silêncio. Muitas vezes confundida com cólicas normais ou drama feminino, ela derruba a qualidade de vida de milhares de brasileiras, que seguem trabalhando, cuidando da casa e da família enquanto lidam com dores incapacitantes.

O problema invisível

A endometriose é uma doença crônica na qual células semelhantes às do endométrio (camada que reveste o útero) crescem fora dele, provocando inflamações, dores severas e até infertilidade. De acordo com dados da Associação Brasileira de Endometriose, estima-se que cerca de 6,5 milhões de brasileiras convivem com a condição. O mais alarmante? O diagnóstico demora, em média, de sete a oito anos.

“Se eu não as conheço, não posso tratá-las”, diz Dra. Maria Cecília Ribeiro, ginecologista do Hospital Mater Dei Santa Clara, enfatizando o desafio que é identificar a doença, especialmente em casos silenciosos — cerca de 20% deles, segundo a especialista. A falta de informação, o tabu sobre dor menstrual e o acesso limitado a especialistas agravam a situação. “A mulher ainda acredita que sentir dor é normal. Não é. Dor tem que ser diagnosticada e tratada”, afirma.

O que há de novo?

Entre as opções de tratamento, a medicina tem avançado. A cirurgia robótica surge como uma aliada poderosa. Menor tempo de internação, recuperação mais rápida, incisões mínimas e, principalmente, maior precisão na preservação de órgãos reprodutivos são algumas das vantagens da técnica.

A tecnologia proporciona uma visão em 360 graus e movimentos delicados que minimizam lesões a estruturas vizinhas. “Isso melhora a evolução pós-cirúrgica e reduz intercorrências”, explica Dra. Maria Cecília. Ainda assim, ela reforça que a cirurgia não é o ponto de partida: “o tratamento começa pelo estilo de vida”.

Recentemente, a Rede Mater Dei em Uberlândia anunciou a aquisição do sistema cirúrgico robótico Da Vinci, visando expandir o acesso a procedimentos menos invasivos, inclusive para o tratamento da endometriose.

Tratamento além do bisturi

O tratamento clínico envolve dieta anti-inflamatória — com base na alimentação mediterrânea —, controle hormonal e exercícios físicos. Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), manter uma dieta com menos açúcar, farinhas refinadas e alimentos industrializados pode auxiliar no controle dos sintomas. Exercícios regulares, por sua vez, estimulam a produção de endorfinas, ajudando a reduzir a dor.

E a fertilidade?

Outro impacto profundo da endometriose é sobre o sonho da maternidade. Estima-se que de 30% a 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). A boa notícia é que a medicina reprodutiva também avançou. “Hoje temos opções, como a fertilização in vitro e a inseminação artificial, que aumentam as chances de gravidez”, destaca a ginecologista.

O recado final

A mensagem da Dra. Maria Cecília é clara e contundente: “A mulher tem que entender que a vida dela deve ser cor-de-rosa, e não um sofrimento constante.” O corpo fala, e o que ele diz precisa ser levado a sério. Cólica forte, sangramento intenso, dor pélvica fora do período menstrual — nada disso deve ser ignorado. A escuta médica, o diagnóstico preciso e o acesso ao tratamento são fundamentais para virar esse jogo.

Enquanto o mistério da origem da endometriose ainda desafia a ciência, o que não pode mais ser um enigma é o sofrimento da mulher. Falar de dor é o primeiro passo para combatê-la.