Equilibrando pratos e emoções: distúrbios alimentares requerem acompanhamento psicológico

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No Brasil, as estimativas são de que a cada vinte pessoas uma tem algum distúrbio relacionado à comida. Especialista explica que o tema é complexo e vai além da escolha.

Em toda a história da humanidade são descritas as buscas pela imagem ideal e há ainda a pressão social. Esses aspectos em torno da estética têm levado muitas pessoas a um caminho repleto de desafios emocionais e psicológicos. Os distúrbios alimentares, como anorexia nervosa e bulimia, são muito mais que apenas questões de força de vontade ou escolhas pessoais: são transtornos complexos que exigem uma compreensão profunda das emoções envolvidas. Dados do último levantamento divulgado pela Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados revelam que um a cada 20 brasileiros (15 milhões) sofrem de algum transtorno alimentar.

A psicóloga Talita Rocha, especialista em neuropsicologia e terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada), destaca que a relação entre emoções e alimentação é intrínseca. “A alimentação muitas vezes se torna uma maneira de lidar com sentimentos difíceis. Quando as pessoas enfrentam estresse, ansiedade ou tristeza, elas podem recorrer à comida como um mecanismo de enfrentamento”, afirma Talita, que aborda temas como esses em suas aulas no ecossistema Ânima pela Una Uberlândia.

O tratamento desses transtornos vai muito além da simples reeducação alimentar. A terapia desempenha um papel fundamental no entendimento das causas emocionais que levam ao comportamento alimentar disfuncional. “Com abordagens como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) e a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), é possível modificar padrões de pensamento prejudiciais e promover uma relação mais saudável com a comida. Por isso, é essencial que todos compreendam que o transtorno alimentar não é uma escolha, mas sim uma condição emocional que precisa ser tratada com profissionalismo e empatia”, ressalta Talita.

O acolhimento da família e amigos tem o mesmo peso e importância nesse processo. O apoio emocional pode ser o diferencial na recuperação, ajudando os indivíduos a se sentirem compreendidos e menos isolados em sua luta. “Um ambiente acolhedor, livre de julgamentos, permite que o paciente se sinta seguro para expressar suas dificuldades e buscar ajuda”, explica a psicóloga.

A especialista esclarece que é importante também desmistificar a ideia de que distúrbios alimentares afetam apenas mulheres. Muitos homens podem ser afetados, embora sejam menos diagnosticados devido à resistência cultural em admitir vulnerabilidades emocionais.

“Os sinais como preocupação excessiva com peso, uso de métodos compensatórios (como vômito ou laxantes) e isolamento social em situações envolvendo comida devem ser observados com atenção. Precisamos entender que esses transtornos são manifestações de questões psicológicas complexas”, informa a psicóloga.

Equilibrar pratos e emoções é um desafio que requer atenção e cuidado. A psicologia se mostra essencial na jornada de tratamento dos distúrbios alimentares, apoiando no desenvolvimento de uma relação mais equilibrada entre pacientes e a comida. “Podemos contribuir para um desenvolvimento mais saudável e pleno para aqueles que enfrentam essas dificuldades. É fundamental lembrar que cada passo dado na busca por equilíbrio é um avanço significativo na recuperação emocional e física do indivíduo”, conclui Talita Rocha.