Nutrição na terceira idade: desafios e estratégias para uma vida saudável

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O padrão de consumo alimentar da população idosa brasileira é majoritariamente composto por alimentos in natura ou minimamente processados, como feijão, arroz, carnes e leite, segundo dados da Pesquisa de Orçamento Familiar 2017-2018. No entanto, o consumo de frutas, verduras e legumes ainda é insuficiente, enquanto os alimentos ultraprocessados, como bolachas salgadas, pães industrializados, doces e guloseimas, representam cerca de 15% das calorias ingeridas. Além disso, é comum a substituição de refeições principais, como o jantar, por lanches à base de pães, leite, bolachas e embutidos, como salsichas e presunto, conforme apontado pelo IBGE (2020).

Essas informações estão contidas no Protocolo de uso do Guia Alimentar para a  População Brasileira na Orientação Alimentar da Pessoa Idosa, elaborado pelo Ministério da Saúde e Universidade de São Paulo. O documento destaca também que esses hábitos alimentares, somados às alterações fisiológicas, psicológicas e sociais típicas do envelhecimento, podem comprometer o estado nutricional dos idosos. Condições como perda cognitiva, redução da autonomia para comprar e preparar alimentos, diminuição do apetite, dificuldades de mastigação e deglutição, além de problemas visuais e olfativos, influenciam diretamente a maneira como os idosos se alimentam.

“Esses fatores exigem atenção especial para garantir uma nutrição adequada e prevenir deficiências nutricionais”, explica o Dr. Claudio Barbosa, Nutrólogo da Linha de Cuidado ao Idoso do Hospital Mater Dei Santa Genoveva.

Desafios nutricionais no envelhecimento
Com o avanço da idade, o metabolismo basal diminui, o apetite pode reduzir e a perda de massa magra se torna mais comum. Esses fatores, somados ao aparecimento de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e osteoporose, demandam atenção especial à dieta. “Todos os nutrientes essenciais, como proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes, são fundamentais para os idosos, mas as necessidades variam conforme cada caso”, explica o Dr. Claudio.

O aporte proteico, por exemplo, é crucial para manter a massa muscular, prevenir quedas e melhorar a funcionalidade. No entanto, idosos com insuficiência renal crônica precisam de orientação específica para evitar sobrecarga nos rins. Já aqueles com osteoporose ou perda de peso significativa podem se beneficiar de uma dieta rica em proteínas para fortalecer os músculos e ossos.

Saúde cognitiva e alimentação
A prevenção de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, também está relacionada à nutrição. Embora não exista um nutriente específico para evitar demências, uma dieta equilibrada e variada contribui para o bom funcionamento cerebral. “O cérebro precisa de todos os nutrientes essenciais para envelhecer de forma saudável”, destaca o nutrólogo. Entretanto, fatores como mastigação inadequada, problemas digestivos ou falta de dentição podem comprometer a absorção desses nutrientes, mesmo que a dieta seja balanceada. Um cuidado especial deve ser dado quanto ao risco de engasgar com a alimentação mais liquefeita, o que conhecemos como broncoaspiração da dieta. Os cuidados da Fonoaudiologia e o espessamento dos líquidos administrados podem ser úteis.

Suplementação: quando e como usar
A suplementação de vitaminas e minerais, como zinco, selênio e vitamina D, pode ser necessária em alguns casos, mas deve ser feita com cautela e sob supervisão médica. “O excesso de vitaminas pode trazer riscos, como cálculos renais por vitamina D em excesso ou aumento do risco de doenças cardíacas com altas doses de vitamina E”, alerta o especialista. Por isso, a suplementação deve ser individualizada, baseada em exames clínicos e orientação profissional.

Estimulando uma alimentação saudável e prazerosa
Manter uma dieta equilibrada na terceira idade pode ser desafiador, especialmente com o surgimento de condições como demência, depressão ou isolamento social. “É preciso respeitar a individualidade do idoso, considerando suas preferências, cultura e tolerância alimentar”, afirma o Dr. Claudio. Em casos de perda de apetite ou dificuldades de mastigação, a adaptação da dieta e o apoio de cuidadores e familiares são essenciais para garantir a ingestão adequada de nutrientes