Apresentação integra programa de ações do Sobre Tons, iniciativa do Ministério Público de Minas Gerais que visa o combate ao racismo
No mês da Consciência Negra, o Coral Lírico (CLMG) e a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG) apresentam, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, “Sobre Tons – ‘Porgy and Bess’ em concerto”, em 6 de novembro (quarta-feira), às 20h. No dia anterior (5 de novembro, terça-feira), o público poderá assistir a um concerto gratuito, com trechos do repertório, às 12h. As apresentações serão conduzidas pelo maestro Hernán Sánchez Arteaga, regente titular e diretor musical do CLMG, e contarão com a participação dos solistas Andreia de Paula (soprano) e David Marcondes (barítono). Os ingressos estão à venda na bilheteria do Palácio das Artes e no site da Eventim, a R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada). O espetáculo integra a programação do projeto “Sobre Tons”, ação institucional do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que busca sensibilizar a população em relação às pautas raciais e que tem a Fundação Clóvis Salgado como parceira neste ano. A iniciativa visa, também, celebrar a cultura e as contribuições das pessoas negras na construção da identidade nacional.
O concerto tem início com “Maracatu de Chico Rei”, do pianista, regente e compositor brasileiro Francisco Mignone, uma peça que homenageia a cultura afro-brasileira e mescla elementos populares e eruditos. Com essa mistura, Mignone destaca a tradição do maracatu e celebra a diversidade cultural do país. Na sequência, será apresentado “Porgy and Bess em concerto”, com os arranjos criados por Robert Russell Bennett. O trabalho do compositor é uma adaptação da ópera “Porgy and Bess”, de George Gershwin. A obra, que combina elementos de jazz, blues e música clássica, inclui composições como “Summertime” e “It Ain’t Necessarily So”, as quais, no concerto, serão interpretadas pelos solistas Andréia de Paula e David Marcondes.
O espetáculo “Sobre Tons – ‘Porgy and Bess’ em concerto” é realizado pelo Ministério da Cultura, Governo de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais e Fundação Clóvis Salgado. A ação é viabilizada pelo Programa Sobre Tons do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Governo Federal, Brasil: União e Reconstrução. As atividades da Fundação Clóvis Salgado têm a Cemig como mantenedora, Patrocínio Master do Instituto Cultural Vale, Patrocínio Prime do Instituto Unimed-BH e da ArcelorMittal, Patrocínio da Vivo e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio.
Adaptação de clássico norte-americano – A ópera “Porgy and Bess” é uma adaptação do romance “Porgy”, escrita por DuBose Heyward e publicada em 1925. A narrativa acompanha a história de Porgy, uma pessoa com deficiência que mora em uma comunidade pobre em Charleston, na Carolina do Sul. A obra foi composta por George Gershwin, com libreto do autor do livro, e letras de Heyward e Ira Gershwin. A produção foi executada pela primeira vez em 30 de setembro de 1935, no Colonial Theatre, em Boston.
Filho de imigrantes russos, Gershwin nasceu em Nova York no ano de 1898. O compositor foi criado no Brooklyn e teve contato com a música negra dos Estados Unidos desde a sua infância. Suas canções foram gravadas por grandes expoentes da música popular americana, tais como Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Sarah Vaughan, Louis Armstrong, Miles Davis, John Coltrane e Janis Joplin.
Robert Russell Bennett, amigo e assistente de Gershwin, compôs um dos arranjos mais célebres que adaptassem a obra original. Criada para orquestra, coral e dois solistas, essa versão busca capturar a essência da ópera enquanto a torna mais acessível para concertos e performances.
Valorização da cultura afrodiaspórica – A apresentação, ao discutir questões raciais, chama a atenção para o papel da música como uma poderosa ferramenta de sensibilização e promoção da igualdade e justiça social. “É uma grande oportunidade para refletir sobre como evoluímos enquanto seres humanos. A música, com tantos elementos que foram agregados, prova que se pode misturar diferentes influências e fazer algo maravilhoso, com elementos do jazz, da ópera e todos os ritmos reunidos”, ressalta o solista David Marcondes. Além disso, Marcondes afirma que as composições prestam tributo às contribuições dessa população. “O respeito pode até ter sido salientado com uma série de coisas, como as leis que hoje nos preservam. Mas eu quero focar que, no cenário brasileiro, assim como em qualquer outro lugar do mundo, é a riqueza cultural que devemos levar em conta. Eu creio que essa forma de música é uma maneira de homenagear a herança negra”.
Hernán Sánchez também comenta sobre a diversidade de gêneros. Segundo ele, a presença do jazz e do blues, derivados de ritmos africanos, permite que a obra seja sentida de outra maneira. “É uma música que se sente no corpo, que expressa sentimentos através dele. Ao mesmo tempo, a ópera trata sobre a história de um povo submetido que não é encorajado a sentir o que deve por causa da escravidão, segregação e discriminação. Dessa forma, os personagens encontram, na diáspora, a mesma matéria para expressar os sentimentos de liberdade, o corpo. Ele fala com uma alegria imensa, ainda que na tristeza”, ressalta Hernán.
Para Andréia de Paula, também convidada como solista para o concerto, a realização desse programa no Grande Teatro, no mês da Consciência Negra, traz lembranças de quando era aluna no Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). “Recordei de uma aula de canto no Cefart, onde meu professor, Néstor Curry, falava sobre a cantora Leontyne Price. Ele relatava a luta dessa mulher negra, cuja voz era exaltada, mas cuja pele não era aceita em alguns recintos. Nessa conversa, senti-me responsável por continuar levando o bastão na corrida diária pelas conquistas do povo negro. Resumindo, o sentimento é de conquista, empoderamento e o privilégio de poder mostrar a resiliência do povo afrodescendente”, reflete.
Uma obra universal – Para David, apesar de “Porgy and Bess” se passar nos EUA, ela possui um caráter universal ao discutir os entraves sociais enfrentados pela população negra e refletir sobre suas contribuições no campo da arte. “É uma grande e verdadeira vitrine da qualidade e versatilidade da voz negra. Eu acho que é uma representação poderosa da cultura negra. Não é apenas porque é afro-americana ou afro-brasileira, mas isso nos leva a uma reflexão sobre as desigualdades e contribuições que o artista negro trouxe à cultura de qualquer lugar do mundo. Dessa forma, isso gera em nós a consciência da importância da representatividade em qualquer âmbito: na cultura, na arte ou no esporte”. Andréia, por sua vez, destaca que a obra também aborda problemas comuns no cenário brasileiro, como a desigualdade social, a luta pela sobrevivência e a união e força de comunidades periféricas na luta por seus direitos.
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado é responsável, ainda, pela gestão do Circuito Liberdade, do qual fazem parte o Palácio das Artes e a CâmeraSete. Em 2021, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todas as pessoas.
Sobre Tons – “Porgy and Bess” em concerto
Datas: 5 de novembro (ensaio aberto, terça-feira) e 6 de novembro (apresentação, quarta-feira)
Horários: 12h (terça-feira) e 20h (quarta-feira)
Local: Grande Teatro Cemig Palácio das Artes
(Avenida Afonso Pena, 1537, Centro)
Classificação indicativa: 10 anos
Ingressos a R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada)