Especialista deixa dicas para a preservação do vínculo com o filho mesmo sem amamentá-lo diretamente.
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) do Ministério da Saúde, publicado em 2021, aponta que, no Brasil, a prevalência de aleitamento materno exclusivo entre crianças menores de seis meses (recomendado pela Organização Mundial da Saúde – OMS) foi de 45,8%. A baixa adesão é uma realidade que pode levar algumas pessoas a recorrerem às “mães de leite”, genitoras que, voluntariamente ou por meio de bancos de leite, doam o leite materno para outras crianças. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2023, a pasta registrou a doação de 253 mil litros de leite humano, que beneficiaram 225.762 mil recém-nascidos no Brasil. Em Minas Gerais, 13 mil genitoras doaram 16,7 mil litros de leite, auxiliando 12,4 mil bebês.
A amamentação, um dos momentos mais íntimos entre mãe e filho, exerce influência direta na saúde mental de quem materna e, quando essa mãe se vê sem condições de amamentar o bebê e precisa recorrer a “mãe de leite” para manter a qualidade nutricional do filho, isso pode mexer as emoções dela e, consequentemente, com as emoções do bebê. É o que afirma o psicólogo da Hapvida NotreDame Intermédica, George Barbosa.
Segundo o psicólogo da Hapvida NotreDame Intermédica, o momento da amamentação é muito importante para manter o vínculo afetivo entre mãe e filho, e quando essa mãe não consegue amamentar pode ser que isso lhe traga alguns prejuízos de saúde mental voltados à insegurança e culpabilização. “Nesse caso, é muito importante que essa genitora, além de poder contar com uma rede de apoio (família, amigos, esposo etc), ela também recorra à ajuda de uma ‘mãe de leite’. Isso fará com que ela sinta que está fazendo algo em prol da alimentação saudável do seu bebê”, sugere.
Para ressignificar esse momento, o psicólogo orienta que a mãe procure ter um tempo de maior contato com o filho. “Sugiro que ela remaneje o ritual da amamentação com o tempo de qualidade com a sua criança. Isso seria brincar, ninar, ou seja, fazer coisas específicas com o bebê para além da alimentação”, explica George Barbosa.
Atividades psicomotoras com a criança, como apresentação das cores, sons e gerar percepções por meio de brinquedos, objetos estimulantes com diferentes texturas, são algumas dicas do psicólogo para fazer com que essa mãe, que não pode amamentar seu bebê, tenha uma proximidade maior com o filho, substituindo o vínculo da amamentação.
George Barbosa salienta que, nesta fase, o bebê já reconhece cores e sons, consegue ter percepções por meio de brinquedos, objetos que são estimulantes, com diferentes texturas. “É uma forma de ter tempo de qualidade com o bebê e ao mesmo tempo a mãe manter-se próxima da criança, oferecendo aprendizado e fazendo com que o bebê reconheça a sua voz, tenha o colo e o carinho da mãe e, assim, trabalhando a possível frustração de não ter conseguido amamentá-lo”.
Por fim, o psicólogo reforça que, no período da amamentação, os hormônios da genitora ainda estão tentando se equilibrar no organismo e isso deixa as emoções mais à flor da pele. “Tudo é mais intenso, até pelo processo mesmo da própria maternidade, que já traz consigo todas as formas questionamentos, tanto das pessoas ao redor, quanto da pessoa que está maternando. Isso pode fazer com que qualquer genitora sinta um desequilíbrio emocional. Portanto, a rede de apoio é essencial. Sugiro também que a mãe, que passa por esse desafio, procure ajuda em grupos de outras mães que enfrentam o mesmo problema, e não descarte a ajuda de um profissional. O importante é encarar essa fase com alegria e tranquilidade para que ela transmita segurança e muito amor ao bebê”, finaliza o psicólogo.