Entenda a diferença entre Síndrome do Ovário Policístico e Endometriose

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Médico(a) ginecologista mostrando o útero e ovários - Foto divulgação

Alguns sintomas são parecidos, mas as doenças possuem características distintas

De acordo com o Ministério da Saúde, a Síndrome do Ovário Policístico atinge cerca de 6 a 10% das mulheres em idade fértil. A Endometriose, por sua vez, afeta uma em cada dez mulheres no Brasil. Essas patologias comprometem a saúde ginecológica feminina. É fundamental entender o que as difere para ter um diagnóstico preciso e tratamento adequado. Na entrevista a seguir, para falarmos sobre o assunto, conversamos com a ginecologista Eliana Duarte. Ela é formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. A médica tem mestrado em Uroginecologia pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, além de títulos de especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) e na área de Endoscopia Ginecológica conferido pela Associação Médica Brasileira e pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia.

Dra. Eliana Duarte – Foto divulgação

O que é Síndrome do Ovário Policístico e Endometriose?

Doutora Eliana: A Síndrome do Ovário Policístico é um distúrbio hormonal muito comum, caracterizado pela presença de vários pequenos cistos nos ovários, que pode causar problemas como irregularidade menstrual, acne, obesidade e infertilidade. A Endometriose se caracteriza pela presença de células endometriais ectópicas (fora de sua localização habitual) dentro da cavidade abdominal causando presença de sangramento anormal em locais onde não deveria ocorrer.

Quais são os principais sintomas dessas doenças?

E: Os principais sintomas da Síndrome do Ovário Policístico são alterações menstruais com tendência a diminuição da frequência das menstruações, podendo ocorrer ausência de fluxo menstrual; acne (tendência a aumento da oleosidade da pele) e aumento dos pelos; obesidade e infertilidade. Na Endometriose são dores menstruais (cólicas) intensas e, muitas vezes, incapacitantes que podem estar associadas ao aumento do fluxo menstrual; dores nas relações sexuais durante ou após o intercurso sexual; dores ao evacuar ou urinar que podem estar associadas ao sangramento intestinal ou urinário; e também infertilidade. As duas doenças têm sintomas distintos e em comum, o que pode levar a dificuldades nos diagnósticos.

A genética pode influenciar no aparecimento da doença?

E: A presença de familiares com Síndrome do Ovário Policístico como de Endometriose deve chamar atenção para a investigação de sintomas relacionados às duas doenças, a fim de direcionar o diagnóstico mais preciso e o início de tratamento mais precoce.

Como são os tratamentos para ambos? Existe diferença entre eles?

E: O tratamento da Endometriose se baseia na melhora da qualidade de vida da mulher, com o uso de medicações para controle das crises de dor; utilização de medicações hormonais visando a diminuição ou cessação dos fluxos menstruais; orientações nutricionais e apoio psicológico; realização de procedimentos quando há necessidade cirúrgica de tratamento de lesões. A abordagem cirúrgica, preferencialmente, deve ser realizada por via laparoscópica. O tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos exige abordagem multifatorial, incluindo alimentação balanceada, atividade física, cuidados com o sobrepeso e controle dos níveis de insulina (já que muitos pacientes apresentam quadros de resistência periférica à insulina). Tratamentos para sintomas específicos podem envolver tratamentos estéticos para remoção de pelos e dermatológicos para acne. O ginecologista pode avaliar a necessidade de utilização de medicações hormonais para regularização dos ciclos menstruais ou a necessidade de medicações que estimulam a ovulação em caso de desejo de gravidez. O tratamento cirúrgico para a Síndrome dos Ovários Policísticos é menos comum. Pode ser utilizado em casos de cistos de dimensões maiores ou associado à investigação de infertilidade. Ressalto que o tratamento deve ser sempre individualizado devido às características pessoais de cada paciente. O diagnóstico correto irá permitir que a paciente alcance melhores resultados.

Essas patologias podem causar infertilidade na mulher?

E: A infertilidade é o sintoma mais frequente relacionado às duas situações. Uma vez que a paciente tenha histórico, deve ser incluída, em sua investigação, a pesquisa dessas patologias. Têm alguns tratamentos em comum, porém a Síndrome do Ovário Policístico é voltada para controle clínico (visto que apresenta mais alterações hormonais), e na endometriose pode haver a necessidade de cirurgia (pois pode cursar com lesões em órgãos importantes). O diagnóstico e tratamento corretos podem melhorar, significativamente, as chances de gravidezes nas mulheres com essas doenças.

É possível a mulher ter as duas condições ao mesmo tempo?

E: É possível apresentar quadros simultâneos das duas patologias. Por serem frequentes, são muitas vezes confundidas, apesar de terem causas, sintomas e tratamentos diferentes. É importante o acompanhamento médico adequado e habilitado para tratar as duas condições.

A Síndrome do Ovário Policístico e a Endometriose costumam aparecer a partir de qual idade?

E: São distúrbios que ocorrem na fase reprodutiva da mulher, podendo ocorrer desde o início da adolescência até o período da menopausa, sendo mais comuns na terceira e quarta décadas de vida. Por cursarem com alterações menstruais, desde ausência até menstruações excessivas e dificuldades para engravidar, são frequentemente confundidas, dificultando o diagnóstico. Um histórico médico acompanhado de exame físico, muitas vezes, já direciona a investigação. Exames de sangue, ultrassonografia e imagem devem ser solicitados na suspeita dessas alterações. São doenças crônicas que impactam a qualidade de vida de 10% da população feminina.