Assunto será debatido no TecnoAgro 2023 em Uberlândia
O avanço da Internet das Coisas (IoT) abre mercado de capitais para o amplo guarda-chuva de títulos do agronegócio com potencial de tokenização, se tornando uma tendência promissora que está impulsionando o crescimento e democratizando os investimentos no país. Por meio da tokenização é possível transformar propriedades, commodities ou outros ativos, reais ou virtuais, em tokens digitais, que podem ser negociados em plataformas blockchain.
Especialistas inseridos nesse mercado estarão presentes no TecnoAgro, que ocorrerá nos dias 17 e 18 de julho, em Uberlândia, no Castelli Master, para levar aos participantes maior entendimento sobre o tema. O diretor da Agrotoken no Brasil, Anderson Nacaxe, vai abordar a “Tokenização no Agronegócio”. A Agrotoken é a primeira empresa de tokenização de commodities agrícolas no mundo. “Com os grãos físicos digitalizados na plataforma da Agrotoken – transacionados de forma segura por meio da tecnologia blockchain -, os grãos são convertidos em ‘agrotokens’ como crédito para o produtor transacionar em operações comerciais e financeiras, sempre com o apoio direto dos grãos, que tem seu valor atrelado ao preço da soja e milho”, conta Nacaxe.
Além da plataforma, o produtor rural brasileiro também tem a possibilidade de utilizar os ‘grãos digitais’ em um cartão Agrotoken Visa – outra novidade recém-chegada ao país. O processo de pagamento com tokens no cartão acontece nos mesmos moldes do disponível na ferramenta da empresa, ou seja, de maneira simples, rápida e segura via blockchain, e pode ser utilizado de maneira fracionada, conforme o valor de cada compra. A compensação dos agrotokens é sempre em moeda fiat, ou seja, a moeda impressa é emitida pelo Banco Central de qualquer país, como o real e o dólar, por exemplo. Vinculados à origem da emissão do ativo físico, os agrotokens são lastreados em ativos reais, ao contrário dos NFTs. Isso significa que têm valor idêntico em todo o território nacional, independentemente de onde e por quem foram emitidos, conforme preço indexado em índices como Esalq, CEPEA/B3, Argus e Platt, paridade que a torna uma stable coin, ou seja, moeda de baixa volatilidade. O produtor pode usá-lo em mais de 80 milhões de estabelecimentos que aceitam a bandeira VISA, ou seja, pode comprar desde um café até abastecer a camionete ou viajar.
Como é cotado o ativo digital?
O sistema faz a compensação no momento zero, com um único preço, não havendo um preço para Passo Fundo, Sorriso, Cascavel e Uberlândia, por exemplo. A partir do momento em que é feita a conversão, o produtor recebe o ativo digital, que será cotado conforme essa referência de preço, assim como é o câmbio. Quando o lastro é vendido, a Agrotoken faz a conversão do token para reais na hora em que o dinheiro é solicitado pelo ecossistema.
Como funciona a digitalização de grãos?
Anderson Nacaxe explica que cada token representa uma tonelada de grãos que o agricultor entregou a um armazém. Essas toneladas de grãos são validadas por meio de um “Proof of Grain reserve” (PoGR), um sistema transparente, seguro, descentralizado e auditável, disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana. “Uma vez que os agricultores tenham seus ativos digitais, eles podem usá-los para realizar diferentes operações, incluindo consultoria em tempo real do índice de valor de grãos, solicitar empréstimos lastreados em grãos e pagar em breve com cartão para suas compras diárias.
Na visão de Nacaxe, este nicho ainda está em expansão e desenvolvimento e gera dúvidas e incertezas, especialmente mitos relativos à segurança. “No entanto, cada vez mais os produtores estão entendendo a importância dessa digitalização nos negócios para se manter competitivos no mercado. Prova disso, são os resultados que alçamos em apenas um ano de operação no Brasil: mais de 100 mil toneladas de grãos já foram digitalizadas e na Argentina, onde a empresa começou, são mais de 200 mil toneladas e mais de 1.000 produtores na plataforma”, afirma.
Tokenização de própolis verde em Minas Gerais
No contexto da Tokenização, o evento contará com a presença do assessor de projetos da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), Marcelo Guzella, que apresentará o Projeto Baccharis, que prevê a estruturação de uma rede de cultivo de alecrim e apicultura descentralizada, combinado com a produção de própolis verde, programas de assistência e capacitação, além de pesquisa e inovação, e é voltado para agricultores e apicultores, especialmente aqueles que atuam no Cerrado Mineiro e que desejam auferir renda, de forma complementar ou não, com processos de cultivo de alecrim e apicultura.
A tokenização é uma inovação que pode ser usada para representar frações da propriedade do projeto e distribuir seus resultados de forma transparente e customizada. Marcelo Guzella explica que o modelo proposto é inspirado nos contratos de impacto que nasceram no Reino Unido e têm sido utilizados em diversos países para dar mais efetividade à políticas públicas. “A tokenização tem um grande potencial de facilitar o acesso a capital, alinhar incentivos, simplificar processos e reduzir custos de intermediação. É uma inovação que pode ser aproveitada em projetos de praticamente todos os setores, beneficiando em especial os nascentes ou de menor porte. Há uma perspectiva de crescimento em sua adoção em nível global, cuja concretização depende de avanços em questões normativas, jurídicas e regulatórias”, afirma Guzella.