A convivência com um animal de estimação estimula no desenvolvimento infantil e faz bem para todas as idades. Segundo diversos estudos, conviver com um pet pode auxiliar no tratamento de problemas como síndromes genéticas, depressão, mal de Alzheimer, hiperatividade e problemas cardíacos.
Para as crianças, em especial, além do lazer que proporcionam, esses animais ajudam no desenvolvimento cognitivo, motor e também na socialização. Para uma criança com Síndrome do X Frágil ou autista, não é diferente, pois os amigos de quatro patas auxiliam na melhora do comportamento e podem aumentar a capacidade de relacionamento social.
Para o psicólogo clínico, especializado em comportamento e na relação humano e animal e treinador de cães de assistência, Oliveiros Barone, antes de se pensar em ter um cão, com a finalidade de auxiliar no tratamento da criança com necessidades especiais é necessário realizar um pré-diagnóstico junto a família e a equipe médica que cuida do caso. “Nesse questionário temos a possibilidade de saber exatamente as necessidades da criança, os profissionais envolvidos no tratamento, medicações e se tem comorbidades associadas, e principalmente qual o nível de dependência em seus afazeres diários”, explica.
Se for uma criança diagnosticada dentro do espectro autista, por exemplo, o cão é selecionado e socializado adequadamente e treinado para atender as necessidades dessa criança. “É necessário lembrar que cada criança é uma, e mesmo sendo diagnosticada dentro do mesmo nível, apresentam características e personalidades únicas e necessidades diferentes”, salienta Oliveiros.
Oliveiros lembra que o espectro do autismo é tecnicamente dividido em níveis (1, 2 e 3) de acordo com a necessidade de apoio/ajuda/dependência de terceiros que esse indivíduo tem nas atividades de vida diária (AVD) e de maneira geral, sendo que aquele estudo inicial recomendado (questionário de pré-diagnóstico) dará as respostas necessárias para compreender esse indivíduo e suas necessidades específicas.
No Brasil são poucos profissionais das áreas da saúde e educação aptos para indicar um cão como elemento ativo para um processo direcionado de tratamento, mesmo porque não basta apenas indicar, mas ter conhecimento do caso e o diagnóstico e prognóstico da pessoa, acompanhar, orientar em todos os níveis e não só de saúde, mas ter conhecimento da relação humano/animal e de todo o processo de treinamento de um cão de assistência ou indicar algum profissional da área do treinamento canino que o tenha, pois está envolvido a escolha adequada da raça adequada para cada caso como porte, temperamento e adaptação do cão na família e com a criança.
“Antes de se tomar uma decisão de ter um animal de estimação com o intuito de reduzir a ansiedade de criança e ajudar no tratamento, a família precisa se informar em meios confiáveis e com profissionais que conhecem a área”, reforça Oliveiros. Para Fernando Felix, adestrador comportamentalista, a decisão sobre dar esse passo e ter um animal de estimação deve levar em conta a orientação dos profissionais de saúde, somadas com a do adestrador. “Após o entendimento real da necessidade da criança e pela orientação médica, precisamos definir o perfil do cachorro correto para essa criança. Normalmente, uma criança com autismo ou com Síndrome do X Frágil, necessitam de um cão com comportamento estável”, salienta.
“Em todas as raças e portes temos composições diferentes de padrões comportamentais”, explica Fernando. “Temos cães mais agitados, outros tranquilos como também existem casos de cães depressivos, que recusam ou tem medo. E esses cães precisam de um adestrador, ou até mesmo de médico veterinário neurologista para casos de desvios neurológicos”, avalia.
Sabrina Muggiati, idealizadora do Programa Eu Digo X do Instituto Buko Kaesemodel, optou pela companhia de um Golden Doodle para o seu filho, Jorge, portador da Síndrome do X Frágil e Autismo. “O comportamento do Jorge após tomarmos a decisão de termos um cão de assistência mudou completamente. Nosso cachorro ainda está no processo de adestramento e já se tornou um verdadeiro amigo do meu filho, segundo ele “o amigão””, comenta. “Com o temperamento dócil, o Golden Doodle, ajuda a conter o Jorge em momentos de fuga pelo shopping por exemplo ou pela rua. Está sendo essencial para melhorar a convivência social, tornando o Jorge muito mais comunicativo e ao mesmo tempo calmo”, explica.
“A escolha pelo Golden Doodle se deu pelo temperamento da raça, aliado ao comportamento do Jorge. Por ser extremamente dócil, de porte grande, o Golden Doodle após adestrado entende as necessidades do Jorge, compreendendo quando ele está triste, feliz, nervoso. E com o treinamento, está a cada dia entendendo quando deve intervir nas crises”, comenta Sabrina.
Já a Bióloga e Adestradora Comportamentalista, Karol Estima, as raças dos cães existem não apenas em relação as características estéticas, mas sim em relação a função de cada uma delas. “Temos cães de pastoreio, cães de caça, cães de “aponte” (apontar ao caçador onde está a caça), cães de “aponte e levante” (Eles encontram a caça e a “levantam” – geralmente aves, para que o caçador atire), cães de guarda, cães retrievers (buscam e trazem a caça abatida pelo caçador para ele). E todas essas funções são “moduladas”, ou definidas pela genética”, explica.
Segundo Karol, cães das raças Retrievers são muito utilizados como cães de assistência/ terapia assistida, por serem raças definidas por alguns autores como “colaborativas” (trabalham em parceria com o homem), e pela questão de terem essa seleção genética de “trazer” objetos, usar muito a boca, mas de maneira suave. “No caso dos Retrievers, ainda, há a característica deles terem pouca sensibilidade corporal. Essa “falta de sensibilidade” favorece a atuação junto a crianças que precisam receber uma contenção física (no caso de uma crise), ou atuarem junto a crianças com síndromes que as fazem não ter controle da força na mão”, pontua.
Para Fernando todas as raças podem ajudar os pacientes com necessidades especiais. “Além dos Retrivers, indico também o Pit Bull, que diferente do que falam, não é um cão de raça agressiva, pois depende da forma como é criado e adestrado, fora o fato que é uma das raças mais estáveis”, afirma. “O pit bull possui uma lealdade extrema, e são muito cuidadosos e resistentes a dor, defendem a criança e a família acima de tudo. Mas claro, ressalto a importância dessa raça, assim como as demais, ser treinada de acordo com a necessidade da criança, para ser dócil e sociável”, complementa.
O mais importante ao definir pela escolha do pet é prezar para que a criança tenha segurança e estabilidade emocional. “A aceitação do cachorro pelos momentos da criança, sejam momentos mais agressivos, mais explosivos ou mais quietos devem ser ensinados para o cachorro, para que ele se adapte a essas situações, entendendo que aquele momento instável – seja de crises de pânico, ansiedade ou agressividade, não o coloca em risco”, detalha Fernando.
“Além da raça, é fundamental avaliar o indivíduo. “Ou seja, podemos ter um cão SRD que ele, especificamente, tem aptidões necessárias para ser “pareado” com uma criança com síndrome de down, ou para atuar com atividades em um asilo, enfim: a raça é importante, mas além dela existem as características individuais de cada cachorro”, completa Karol Estima.
Em termos de “treinabilidade”, exceto cães com alguma deficiência cognitiva ou problema de comportamento específico, muitas raças podem ensinadas a executar uma tarefa relacionada a “assistência a crianças”. No entanto, como já mencionado anteriormente, as raças ditas “colaborativas” costumam desempenhar melhor essas tarefas em conjunto com o ser humano – em comparação com raças primitivas, por exemplo, que são mais “independentes” e não criam vínculos tão fortes com o ser humano no sentido de realizar um trabalho cooperativo, especialmente com crianças. “Logicamente toda regra tem sua exceção, mas uma raça que geralmente tem dificuldades em criar vínculos com crianças é o Shiba Inu. No entanto, talvez mais importante do que a raça, existam as questões relacionadas a característica física, como porte físico (por exemplo, há tarefas que um cão de pequeno porte teria mais dificuldade em desempenhar, por seu tamanho, por sua falta de força física, etc), cães naturalmente de pêlos longos podem acabar dificultando algum procedimento, dependendo da finalidade a que se destina o treinamento daquele cão – a criança pode emaranhar os dedos, além da sensibilidade física”, reforça Karol Estima. “Não é impossível treinar os cães, independente da raça, mas alguns não são aconselháveis para o suporte emocional”, finaliza Fernando.
Serviço:
Karol Estima – www.EstimacaoConsultoria.com.
Fernando Felix – www.eduquemeucao.com.br
Oliveiros Barone – www.caesdeassistencia.com.br