Rastreabilidade e certificações impulsionam o algodão mineiro rumo aos mercados internacionais

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A cotonicultura brasileira passa por uma transformação estratégica. A rastreabilidade da fibra e as certificações socioambientais ganharam protagonismo, não apenas para atender a regulamentações internacionais, mas também como ferramentas de agregação de valor e conquista de novos mercados. Minas Gerais, terceiro maior produtor nacional de algodão nesta safra 2024/2025, tem se destacado com o apoio de projetos coordenados pela Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) e Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), com integração de cotonicultores engajados na agenda ESG (ambiental, social e governança).

Segundo dados da Abrapa, 83% do algodão brasileiro produzido na safra 2023/2024 foi certificado pelo Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR), alinhado aos padrões de licenciamento internacional da Better Cotton Initiative (BCI). Isso posiciona o Brasil, até então, como o maior fornecedor de algodão sustentável do mundo, representando 34% no volume de comércio global. Naquela temporada, mais de 60% de toda a produção de pluma de Minas Gerais, aproximadamente 19.400 toneladas de pluma foi certificada pelo ABR e licenciada pela BCI. Nesta temporada, foram 20.148 hectares plantados e 35.600 toneladas de pluma colhida.

O papel da Amipa e as auditorias de certificação em 2025
Em Minas Gerais, a Amipa atua como elo fundamental para facilitar o acesso dos cotonicultores à certificação nacional e ao licenciamento internacional. A entidade disponibiliza orientação técnica aos produtores associados, apoia nas etapas de diagnóstico e de adequação dos empreendimentos e coordena as auditorias independentes para certificar tanto as fazendas quanto as unidades de beneficiamento de algodão – estas por meio do Programa Algodão Brasileiro Responsável para Unidades de Beneficiamento de Algodão (ABR-UBA).

No mês de julho de 2025, a Amipa concluiu o ciclo de auditorias da safra, contabilizando 13 fazendas certificadas pelo ABR. “As certificações são um investimento no futuro do setor, fortalecendo o algodão mineiro perante os mercados mais exigentes do mundo”, destaca Lício Augusto Pena de Sairre, diretor executivo da Associação.

O ABR é um programa que assegura que a produção de algodão no país siga as legislações ambiental, fundiária e trabalhista, além das normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com base nos pilares da sustentabilidade ambiental, social e econômica. O protocolo reúne 201 itens de diagnóstico da propriedade rural e um checklist de 183 itens verificados pela auditoria independente – neste caso, em Minas Gerais, com atuação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A certificação da fazenda é progressiva, exigindo cumprimento mínimo de 85% na primeira safra e evolução anual para 87%, 89% e 90%, sendo que o último índice deverá ser mantido nas safras subsequentes. O não alcance dos níveis de conformidade estabelecidos pelo ABR resulta na perda do direito à certificação.

Organizado em oito critérios, o ABR abrange desde a formalização do contrato de trabalho, segurança e saúde ocupacional, até desempenho ambiental e boas práticas agrícolas, garantindo transparência e melhoria contínua na cotonicultura brasileira. A proibição de trabalho infantil e de trabalho análogo à escravidão são critérios de cumprimento total.

O Sistema Abrapa de Identificação (SAI) permite rastrear o algodão desde o campo até a peça final de vestuário; uma tecnologia que agrega valor à cotonicultura. Cada fardo recebe uma etiqueta com código de barras e QR Code, padronizada segundo normas internacionais (GS1), que reúne informações como safra, fazenda produtora, localização georreferenciada, dados laboratoriais e certificações obtidas.

De acordo com Silmara S. Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa, “através do programa SouABR o consumidor pode acessar, via QR Code presente na etiqueta da roupa, toda a trajetória da fibra. Até maio deste ano, já contabilizamos 460 mil peças com rastreabilidade completa, e nossa meta é chegar a 1 milhão de peças até 2025.”

Exemplo de Minas Gerais: Grupo Farroupilha
O Grupo Farroupilha, referência na produção sustentável de algodão, demonstra como a rastreabilidade é incorporada ao dia a dia da fazenda. Para Erika Marina Urban Rodrigues, diretora administrativa, as certificações ABR e BCI são parte de um compromisso que vai além do mercado: “adotamos práticas permanentes, como manejo integrado, uso de biológicos, plantio direto e preservação de recursos naturais. Nosso objetivo é produzir com responsabilidade e deixar um legado sustentável para as próximas gerações”.

Ela reforça que os compradores internacionais estão dispostos a pagar mais pela rastreabilidade: “a transparência sobre a origem e os impactos da produção é cada vez mais valorizada, especialmente nos mercados da Europa e América do Norte”.

O Grupo também lidera o projeto Renova Farroupilha, lançado em 2018, mas com ações iniciadas em 1995, alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, as fazendas atuam em 14 dos 17 ODS, mostrando que ESG não é apenas uma tendência, mas um pilar estratégico.

O caminho da fibra até o QR Code
Antes de chegar ao consumidor final, o algodão rastreável percorre um caminho cuidadosamente monitorado, no qual cada etapa é registrada para garantir transparência e confiabilidade. Da colheita na fazenda até a etiqueta da peça de roupa, um sistema integrado reúne informações sobre origem, práticas de produção, certificações e análises laboratoriais, assegurando que a fibra atenda aos mais altos padrões de qualidade e sustentabilidade. Esse processo, que envolve produtores, unidades de beneficiamento de algodão, indústrias e varejistas, transforma o QR Code presente no produto em uma verdadeira “linha do tempo” da fibra.

1. Colheita na fazenda
Identificação do lote e registro da produção com dados sobre práticas agrícolas e sustentabilidade.

2. Beneficiamento
As unidades de beneficiamento certificadas pelo ABR-UBA garantem a qualidade da pluma e o cumprimento de 170 requisitos socioambientais, 90% deles ligados à segurança do trabalho.

3. Etiqueta do SAI
Cada fardo recebe um código de barras e QR Code com informações sobre safra, fazenda, certificações e resultados laboratoriais (14 características analisadas via HVI).

4. Indústria têxtil e confecção
A cadeia de custódia mantém os dados de rastreabilidade, garantindo a origem da fibra.

5. Etiqueta do consumidor final
Com o programa SouABR, roupas e tecidos levam um QR Code que permite ao consumidor acessar todo o histórico do algodão, desde o campo até a loja.

Próximos passos e desafios
Apesar do sucesso, a rastreabilidade ainda enfrenta desafios. Custos com tecnologia, mudanças nos processos industriais e o convencimento de toda a cadeia têxtil são pontos críticos. “Queremos que, a partir da safra 2025/2026, todos os cotonicultores que utilizarem a etiqueta SAI forneçam rastreabilidade completa, ampliando o valor agregado do algodão brasileiro e consolidando a imagem de origem confiável”, afirma Silmara.

Minas Gerais pronta para exportar
Com o suporte da Amipa e o engajamento de produtores, como o Grupo Farroupilha, Minas Gerais está preparada para fortalecer sua presença nos mercados internacionais. O compromisso com transparência, ESG e inovação transforma a rastreabilidade em um diferencial competitivo e estratégico. “Estamos confiantes de que o algodão sustentável de Minas Gerais está pronto para conquistar novos mercados e atender consumidores cada vez mais exigentes”, conclui o executivo da entidade.

Fazendas de Minas Gerais certificadas: consulte o link.