Alerta sobre as hepatites virais

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Hepatite é um termo que significa inflamação no fígado. Existem várias causas de hepatite, como por exemplo o álcool, medicamentos, chás e ervas tóxicas, excesso de gordura no fígado, doenças autoimunes e os vírus, dentre outras. O mês de julho é conhecido como “Julho Amarelo” e é dedicado à conscientização sobre as hepatites virais. É um período de campanhas que tem por objetivo alertar a população sobre a importância da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado das hepatites causadas por vírus. O dia 28 de julho é o dia mundial de luta contra as Hepatites Virais, data criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As principais hepatites virais são as causadas pelos vírus – A, B, C, D e E. Elas representam importante fonte de morbidade e mortalidade na população brasileira e mundial. Estima-se que ocorrem cerca de 150 milhões de casos de hepatite A por ano no mundo e que 254 milhões de pessoas vivam com hepatite B e 50 milhões com hepatite C de acordo com a OMS.

As hepatites virais mais comuns são a hepatite A, que apresentam caráter agudo e normalmente auto limitado e as hepatites B e C que podem permanecer no organismo do ser humano causando doença crônica e seus potenciais complicações, como a cirrose e o câncer de fígado. A hepatite D ocorre somente em associação ao vírus da hepatite B e é importante na região norte do país e a hepatite E é pouco diagnosticada no Brasil, mas pode ser grave em mulheres grávidas.

O vírus da hepatite A tem como principal forma de transmissão o contato oral-fecal. A transmissão está ligada a condições inadequadas de saneamento básico, higiene pessoal e pelo consumo de água e alimentos contaminados. Pode ocorrer por contato pessoal próximo, como entre pessoas que vivem na mesma residência, em instituições de longa permanência e crianças em creches. Além disso, há também relatos de casos e surtos que ocorrem em populações com práticas sexuais anal e oroanal ou outras formas de exposição a resíduos fecais que podem aumentar o risco de transmissão como por exemplo, acessórios sexuais. As transmissões por via percutânea (perfuração da pele de forma acidental) ou parental (por meio de transfusão ou contato com sangue) do vírus A são muito raras. A hepatite B pode ser transmitida sexualmente e por contato com sangue contaminado (via parenteral, percutânea e vertical). As principais formas de transmissão do vírus da hepatite B (HBV) são: relações sexuais sem preservativo com uma pessoa infectada; compartilhamento de seringas, agulhas e outros materiais para uso de drogas (ex.: cachimbos, canudos); compartilhamento de materiais de higiene pessoal (lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, alicates de unha ou outros objetos que furam ou cortam); realização de tatuagens, colocação de piercings e procedimentos odontológicos, cirúrgicos, médicos e de hemodiálise, quando as normas de biossegurança não são atendidas de maneira adequada. A hepatite B também pode ser transmitida da mãe para o filho durante a gestação ou durante o parto, sendo esta via denominada de transmissão vertical. Esse tipo de transmissão, caso não seja evitada, pode implicar em uma evolução desfavorável para o bebê, que apresenta maior chance de desenvolver a hepatite B crônica.

Vale ressaltar que a principal forma de transmissão da hepatite C é pelo compartilhamento de agulhas, seringas, cachimbos e outros equipamentos para uso de drogas. Há risco também no uso de materiais não esterilizados para manicure e pedicure e na reutilização de materiais para tatuagem e inserção de piercings. A transmissão sexual e de mãe para o filho durante a gestação ou parto é possível, mas menos comum. Como saber se uma pessoa tem hepatite? O diagnóstico de hepatite é feito por meio da história clínica (anamnese), exame físico e testes complementares. As hepatites virais na fase aguda podem apresentar náuseas, vômitos (mais comum em casos da hepatite A) e icterícia (amarelão no branco dos olhos). Já na fase crônica (hepatite B ou C), a maioria dos pacientes são assintomáticos e as alterações mais importantes só se expressam em uma fase mais avançada da doença, normalmente quando o indivíduo já desenvolveu cirrose. Com relação aos exames complementares, existem aqueles que dosam enzimas hepáticas no sangue que usualmente encontram-se elevadas em situações de inflamação. Para o diagnóstico definitivo, é importante a determinação dos testes sorológicos e moleculares que detectam anticorpos e partículas genéticas dos vírus na circulação sanguínea.

A hepatite A é uma hepatite de evolução aguda, ou seja, o vírus não permanece no organismo por muito e apresenta resolução espontânea, evoluindo para cura na imensa maioria dos casos. Não há medicamentos específicos. Contudo, no período de infecção da hepatite A existe uma chance pequena (0,6% a 0,8%) de evolução grave, com hepatite fulminante, podendo levar ao óbito ou à necessidade de um transplante de fígado. Dentre os pacientes com hepatites B ou C, alguns podem evoluir para cura, quando o organismo produz anticorpos que conseguem eliminar os vírus. Nos casos em que o vírus persiste no organismo e perpetua a inflamação, é necessário o tratamento medicamentoso. Com os medicamentos mais modernos, há um excelente controle nos casos de infecção crônica pelo vírus B e uma taxa muito elevada de cura (até 95% dos casos) nos pacientes com hepatite crônica pelo vírus C. A Secretaria de Estado da Saúde oferece testagem gratuita pelo SUS para as hepatites B e C, inclusive com testes rápidos e disponibiliza centros de referência para o tratamento dos indivíduos infectados.

A vacinação contra as hepatites A e B constituem a principal medida de prevenção contra a infecção. Ambas fazem parte do calendário de vacinação infantil. Não existe atualmente vacina contra hepatite C. Outras medidas importantes na prevenção das hepatites virais são: lavar bem as mãos, especialmente após usar o banheiro e antes de preparar alimentos. Lavar bem frutas, verduras e legumes com água tratada, fervida ou clorada. Cozinhar bem os alimentos, garantir o consumo de água e alimentos seguros; não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, cachimbos, canudos e outros materiais para uso de drogas, e materiais de uso pessoal como alicates de cutículas e demais materiais de manicure/pedicure, escova de dente, etc.); usar preservativo nas relações sexuais.

Em Minas Gerais, houve um aumento significativo de casos de hepatite A, especialmente em Belo Horizonte, com 176 casos confirmados em 2024 e 41 casos apenas no primeiro trimestre de 2025. Em 2023, Minas Gerais registrou 1.095 casos de hepatite B, e em 2024, o número aumentou para 1.241. A maioria das pessoas infectadas não apresenta sinais da doença. O estado também tem uma alta cobertura vacinal contra a hepatite B, com 87,20% para menores de 1 ano em 2024. Após a pandemia, houve aumento também no registro de casos de hepatite C, com 1.095 casos em 2023 e 1.241 em 2024. Em termos mais globais, no mundo, diariamente, 3.500 pessoas morrem devido a infecções por hepatite B e C. Em maio de 2016, a Assembleia Mundial da Saúde adotou a primeira Estratégia Global do Setor de Saúde para as Hepatites Virais, quando foi estabelecida a meta de eliminar essas doenças como problemas de saúde pública até 2030. Para alcançar esses objetivos, foram propostas metas programáticas que estabelecem como necessário diagnosticar pelo menos 90% das pessoas com infecção ativa e tratar 80% de todas as que tenham indicação de tratamento no período. A campanha de conscientização com esse tema é muito importante para alertar sobre as potenciais consequências da doença, informando principalmente a possibilidade de imunização, os mecanismos e fatores de risco para transmissão dos vírus e a disponibilidade de tratamento para aqueles que apresentam a infecção crônica.

Todas as pessoas devem realizar o teste para hepatite B e C pelo menos uma vez na vida. Há indicação de se testar principalmente pessoas acima de 40 anos, porque é a faixa etária mais acometida. Uma vez realizado o teste, o médico hepatologista ou infectologista poderá esclarecer o resultado ao paciente e realizar o acompanhamento de acordo com a necessidade.

Osvaldo Couto, Hepatologista do Hospital Biocor/Rede D’Or, Membro Titular da Sociedade Brasileira de Hepatologia