Cirurgia robótica avançada no tratamento do câncer de cabeça e pescoço

0

Técnica minimamente invasiva permite remover tumores com mais segurança e menor impacto na fala e na deglutição; vacinação contra HPV é aliada na prevenção

A incorporação da cirurgia robótica transoral (TORS) tem transformado o tratamento dos cânceres de cabeça e pescoço, especialmente os localizados na orofaringe, como amígdalas e base da língua. Utilizando tecnologia de ponta, o procedimento permite uma abordagem mais precisa e menos invasiva, com benefícios importantes na preservação das funções vitais dos pacientes.

O cirurgião de cabeça e pescoço Dr. Savio de Moraes, do Hospital Mater Dei Santa Clara, explica que a cirurgia robótica representa um dos maiores avanços da área nos últimos anos. “O robô cirúrgico oferece visualização em 3D, ampliação do campo operatório e movimentos delicados, facilitando a atuação em regiões anatomicamente complexas com mais segurança”, afirma.

Entre as vantagens da técnica estão a redução do tempo de internação, menos dor no pós-operatório, menor necessidade de traqueostomia e preservação mais eficaz da fala e da deglutição — aspectos essenciais para a qualidade de vida dos pacientes.

Julho Verde chama atenção para o diagnóstico precoce

O mês de julho é marcado pela campanha Julho Verde, promovida pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP), com o objetivo de conscientizar a população sobre os fatores de risco, os sinais de alerta e a importância do diagnóstico precoce desses tipos de câncer. A iniciativa ganha relevância diante do aumento dos casos relacionados ao HPV e da necessidade de ampliar o acesso a tratamentos modernos, como a cirurgia robótica. A campanha reforça também a importância da vacinação, da cessação do tabagismo e do consumo moderado de álcool como medidas preventivas.

Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), os tumores que afetam a região da cabeça e pescoço estão entre os cinco tipos mais comuns no Brasil, com maior incidência em homens acima dos 40 anos, embora também atinjam mulheres. Em 2025, o panorama continua alarmante: aproximadamente 41 mil novos casos são identificados anualmente no país.

HPV e o aumento de casos em jovens

O especialista destaca a associação crescente entre os tumores de orofaringe e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV), especialmente o subtipo 16. “Diferente dos tumores causados por tabaco e álcool, os tumores HPV-relacionados acometem pacientes mais jovens, não fumantes, saudáveis e, muitas vezes, sem fatores de risco aparentes”, explica Dr. Savio.

A vacinação contra o HPV, disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, é uma forma comprovada de prevenção. “Estamos falando de uma vacina que previne não só o câncer do colo do útero, mas também cânceres de garganta. A conscientização ainda é baixa, e campanhas como o Julho Verde são fundamentais para ampliar esse conhecimento”, complementa.

Desafios cirúrgicos e reabilitação

O tratamento oncológico na região da cabeça e pescoço é desafiador, por envolver estruturas sensíveis e funcionais. Além da remoção do tumor, muitas vezes é necessária a reconstrução com técnicas avançadas, como retalhos microcirúrgicos, para restabelecer funções como fala, deglutição, respiração e expressão facial.

Segundo o cirurgião, a reabilitação deve envolver uma equipe multidisciplinar, desde o início. “Fonoaudiólogos, fisioterapeutas e nutricionistas são fundamentais no pós-operatório. A reconstrução não é só física — é uma forma de devolver dignidade e reinserir o paciente na sociedade”, afirma.

Diagnóstico precoce e sinais de alerta

Feridas na boca que não cicatrizam, rouquidão persistente, dificuldade para engolir e caroços no pescoço estão entre os principais sinais ignorados pela população, o que pode atrasar o diagnóstico. “Esses sintomas, muitas vezes, são confundidos com quadros infecciosos ou traumas locais. Por isso, é essencial buscar avaliação médica, se persistirem por mais de 15 dias”, alerta Dr. Savio.

O papel do cirurgião também é educativo e estratégico. Além da atuação em centros cirúrgicos, ele participa da triagem precoce, da capacitação de profissionais da atenção primária e da definição dos fluxos de atendimento especializado. “Quanto mais cedo o paciente chega ao especialista, maiores as chances de tratamento curativo, com menor impacto funcional”, reforça.

Abordagem integrada e foco no paciente

O cuidado dos pacientes com cânceres de cabeça e pescoço exige uma atuação conjunta entre diversos profissionais. O cirurgião tem papel central na definição das estratégias terapêuticas e participa ativamente das discussões clínicas nos chamados tumor boards.

“Nosso foco é oferecer um tratamento que controle a doença, preserve as funções e mantenha a qualidade de vida. O robô é uma ferramenta poderosa, mas ele deve estar inserido em uma linha de cuidado humanizada, ágil e multidisciplinar”, finaliza Dr. Savio.