Maio Bordô: quando sua dor de cabeça muda de padrão e merece uma atenção do especialista

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Neurologista da Rede Mater Dei de Saúde chama a atenção para a campanha da Sociedade Brasileira de Cefaleia 2024 e o cuidado com a automedicação

São mais de 200 tipos de dor de cabeça mapeados pela medicina, mas a maioria das pessoas não tem informações sobre como lidar com eles, e abusa da automedicação para se livrar deste mal que chega a acometer, ao longo da vida, 94% dos homens e 99% das mulheres, segundo pesquisa divulgada no Congresso 2023 da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC). Neste Maio Bordô, quando a SBC faz uma campanha de conscientização, no Brasil, sobre as cefaleias e os sinais de alerta em que a população deve procurar ajuda médica, o mote é “Três é demais” – quando a ingestão de mais de três analgésicos em uma semana é considerada abusiva.

“O impacto da cefaleia na vida do paciente dependerá do tipo e da linha de cuidados adequados. As cefaleias primárias (principais são tipo tensão e enxaqueca), em conjunto, equivalem à segunda condição médica mais prevalente na população global. Para se ter ideia, mais de um bilhão de pessoas são acometidas por migrânea. Além do impacto direto gerado na vida do paciente pelo desconforto e pela incapacidade de exercer adequadamente suas atividades, há também uma grande pegada econômica com gastos hospitalares e pelo absenteísmo no trabalho”, diz o neurologista Matheus Ferreira Gomes, do corpo clínico do Hospital Mater Dei Santa Genoveva.

Conscientizar as pessoas sobre quando a dor de cabeça é aquela já conhecida ou merece uma atenção maior é o objetivo do Maio Bordô. Como explica o médico, as mais de 200 cefaleias estão distribuídas em dois grandes grupos: a cefaleia primária, cuja origem é do nosso próprio sistema de dor; e a cefaleia secundária, ligada a outros fatores, como uma pancada na cabeça, sangramento, tumor ou acidente vascular cerebral (AVC).

Cefaleias primárias – Conforme esclarece Matheus, no grupo de cefaleia primária, onde estão as enxaquecas e as cefaleias tensionais, a pessoa já conhece a dor. Ela geralmente é semelhante durante os episódios. “São muito comuns, com a prevalência na população geral variando entre 30% e 78%, em diferentes estudos. Fraca a moderada intensidade, sensação de aperto/pressão, em geral bilateral. Classificada em episódica infrequente, episódica frequente e crônica. Gatilhos costumam ser: estresse físico ou mental, desidratação, flutuações hormonais e alterações do padrão do sono”, diz.

Enxaquecas – Aqueles que sofrem de enxaqueca geralmente têm uma predisposição genética para a condição. As dores podem ser mais intensas do que as associadas à cefaleia tensional, caracterizando-se por uma sensação pulsante na região frontal, ao redor dos olhos e nas têmporas. “É comum e incapacitante. Estudos epidemiológicos têm documentado sua elevada prevalência, bem como o seu impacto socioeconômico e pessoal. No estudo Global Burden of Disease Study 2010 (GBD2010), a migrânea foi classificada como o terceiro transtorno mais prevalente em todo o mundo. No GBD2015, ela foi classificada como a terceira causa de incapacidade tanto em homens como em mulheres com idade abaixo dos 50 anos”, revela o neurologista.

“A enxaqueca pode ser classificada em clássica/com aura ou comum/sem aura. As auras são sintomas neurológicos focais transitórios que habitualmente precedem ou, às vezes, acompanham a cefaleia. Dor costumeiramente moderada a forte, unilateral, pulsátil, com foto e fonofobia, com náuseas e vômitos. Gatilhos podem ser alimentares (corantes artificiais, álcool), privação de sono, menstruação”, esclarece Matheus. A enxaqueca geralmente tem duração de 4h a 72h, dependendo de cada pessoa. Muitos pacientes precisam parar de fazer tudo e ir para um quarto escuro até a dor passar.

Quando a dor muda do padrão – O alerta dos neurologistas para dores de cabeça é quando o padrão da dor muda. De acordo com o médico, esses episódios podem indicar a cefaleia secundária, que pode ser sinal de algo mais grave, como um aneurisma, tumor ou AVC. Segundo ele, nem toda dor de cabeça é tensional; nem toda dor é enxaqueca.

“É crucial compreender que a cefaleia secundária não é uma condição isolada, mas sim um sintoma de uma condição subjacente. Geralmente, ela é desencadeada por uma variedade de causas, incluindo traumas cranianos, infecções, distúrbios vasculares ou intracranianos, tumores cerebrais, entre outros. O sintoma mais comum é uma dor de cabeça persistente que difere das dores de cabeça primárias, muitas vezes acompanhada por outros sinais neurológicos, como alterações na visão, fraqueza muscular, dificuldade de fala ou perda de sensibilidade em certas áreas do corpo. A identificação precoce da causa subjacente é essencial para o manejo adequado e o tratamento eficaz da cefaleia secundária, visando não apenas o alívio dos sintomas, mas também o tratamento da condição subjacente para prevenir complicações futuras”, diz o médico.

Os sintomas da cefaleia secundária podem se manifestar de várias maneiras, desde sintomas sistêmicos, como febre, calafrios, erupção cutânea e suores noturnos, até sintomas neurológicos, incluindo alteração do nível de consciência, diplopia e fraqueza muscular. “Além disso, a presença de cefaleia de início súbito ou inédito, particularmente grave ou descrita como a pior experiência de dor de cabeça da vida, é um sinal alarmante”, alerta Matheus. Outros indicadores importantes são a ocorrência de cefaleia em trovoada, onde a dor atinge intensidade máxima instantaneamente após o início, e o surgimento dos sintomas após os 50 anos de idade. “Esses sinais e sintomas devem ser prontamente avaliados por um profissional de saúde para determinar a causa subjacente e iniciar o tratamento apropriado”, orienta.

Na maioria das vezes, as cefaleias são tratadas por neurologistas, que podem acionar especialistas de áreas multidisciplinares, como a medicina do sono e a cardiologia, pois uma dor de cabeça pode ser reflexo de uma pressão arterial descontrolada, por exemplo. “Na Rede Mater Dei de Saúde temos equipes preparadas para esses diagnósticos e tratamentos, que não são apenas medicamentosos, mas que devem passar pelo cuidado com o sono, a alimentação, atividade física e ingestão de líquidos. Além disso, indicamos tratamentos adjuvantes, como acupuntura, alongamento, psicoterapia e mindfulness, para melhorar o quadro geral do(a) paciente”, complementa o neurologista.