Dia Mundial da Prematuridade alerta sobre um problema que atinge 15 milhões de crianças todos os anos ao redor do mundo, segundo a OMS.
Novembro foi escolhido para ser também o mês internacional de conscientização para a prematuridade, e no dia 17, ações de sensibilização são realizadas em diversos países. No Brasil, a taxa de prematuridade é estimada em 11,5% do total de nascimentos por ano, isto é, cerca de 345 mil crianças dos cerca de três milhões de nascimentos são prematuras. Em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número alcança 15 milhões de bebês a cada ano. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, registra que o país ocupa a 10ª posição entre as nações onde são registrados mais casos de prematuridade.
Conforme dados da Fiocruz, os bebês pré-termos tardios (nascidos entre 34 e 36 semanas de idade gestacional) representam a grande maioria dos prematuros, em torno de 74% do total, seguido pelos menores de 32 semanas (16%), e de 32 a 33 semanas (10%). A Febrasgo, considera a prematuridade um importante problema obstétrico, uma vez que as complicações relacionadas são consideradas responsáveis por mais de 75% da mortalidade e morbidade entre recém-nascidos.
Em Uberlândia, o Santa Genoveva Complexo Hospitalar realiza um importante trabalho de humanização e acolhimento das famílias que encaram esta adversidade. “O acolhimento é feito por todos os profissionais envolvidos: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, psicóloga, fonoaudióloga, serviço social, nutricionista, técnicas do lactário e secretária da unidade”, explica a psicóloga, psicanalista Winnicottiana e coordenadora da Comissão de Humanização do Santa Genoveva Complexo Hospitalar, Adriana Barbosa de Freitas Capparelli.
Segundo a psicóloga, cada bebê tem a sua história e ela deve ser considerada para que a equipe de saúde possa acolher e cuidar da melhor maneira possível. “Não podemos comparar um bebê com o outro, cada um é único. A escuta atenta e afetiva, a empatia, o respeito, a avaliação caso a caso, o fornecimento de informações e esclarecimentos necessários são os princípios fundamentais para que os pais se sintam acolhidos e seguros em um momento tão especial e importante e, também, para que possamos promover uma vida o mais saudável possível para o prematuro”, diz Capparelli.
No Brasil, o Ministério da Saúde preconiza o “método canguru” (contato pele a pele entre mãe/pai e bebê) como o mais adequado para garantir o desenvolvimento do bebê prematuro e principalmente, o aleitamento materno. O modelo de atenção neonatal – criado em 1979 na Colômbia e presente há mais de 20 anos nas políticas públicas de saúde brasileira – já é consagrado e amplamente utilizado na maternidade do Santa Genoveva Complexo Hospitalar para minimizar o impacto da prematuridade no desenvolvimento do recém-nascido. Também visa reduzir o tempo de internação e reinternação no primeiro ano de vida, diminuir as taxas de infecção, favorecer o vínculo parental e incentivar o aleitamento.
Contudo, desde 2017, a equipe da UTI Neonatal do Santa Genoveva, ao entrar em contato com relatos positivos de outros hospitais ao redor do mundo que associavam o uso do polvo de crochê à melhoria de saúde e aumento do bem-estar do bebê, implementou o Projeto Polvinho Uberlândia visando promover um cuidado humanizado ao bebê prematuro e, também, ao bebê que necessita de um período longo de internação. O pequeno polvo é ofertado ao bebê logo após seu nascimento, acompanhado de um cartão que será entregue aos pais, contendo informações sobre o projeto e higienização.
No entanto, Capparelli ressalta que, apesar das melhoras descritas com o Projeto Polvo pelos hospitais e maternidades ao redor do mundo, como o ganho de peso, estabilidade da frequência cardíaca e melhora da respiração dos bebês prematuros, o Ministério da Saúde do Brasil adverte que ainda não há nenhum tipo de comprovação científica na literatura médica nacional ou mundial apontando melhoras com o polvo de crochê. “Os dois projetos possuem finalidades diferentes, o polvo é para ser usado quando o bebê não pode estar no colo da mãe ou do pai, portanto ele adiciona qualidade e conforto para o bebê. Mesmo sem uma evidência científica comprovada, observamos um efeito benéfico na saúde dos prematuros. Inclusive para os pais verem o polvo de crochê, um bichinho colorido e fofinho na incubadora, envolvendo e promovendo um contato macio e confortável para o bebê, os fortalece também. É um projeto que envolve vinculação e humanização”, define a psicóloga.
A prematuridade em si, não é um impedimento para um desenvolvimento saudável. “Não podemos comparar um bebê com outro, o desenvolvimento é um processo não linear, que depende das experiências ambientais, das condições clínicas do bebê, da própria genética, existem vários fatores envolvidos neste processo. Assim a jornada da família neste momento é complexa e pode ser necessária a busca de um suporte emocional, as dúvidas podem ser esclarecidas, os pensamentos e sentimentos podem ser compartilhados”, finaliza Capparelli.
Sobre o Projeto Polvinho Uberlândia (Complexo Hospitalar Santa Genoveva)
Os polvos são confeccionados pela artesã e professora Cíntia Juliana Duarte uma das embaixadoras do Projeto Octo Brasil em Minas Gerais, responsável pelo Projeto Polvinho Uberlândia.
Os critérios para receber os polvinhos são os seguintes:
• Bebês prematuros de até 34 semanas ou 1,5 Kg.
• Bebês ou crianças que necessitam de uma internação prolongada, acima de três semanas.
• Caso o bebê/criança não se enquadre nos critérios acima, mas possa se beneficiar com o polvo, a equipe de profissionais decidirá pela inclusão no projeto.
• O polvo pertence a um só bebê e não pode ser emprestado nem reaproveitado.
A confecção do polvo
Os polvos são confeccionados com um padrão de qualidade, que se inicia pela fidedignidade à receita original, pela escolha do fio (linha de crochê hipoalergenica, ponto de crochê bem fechado para evitar que prenda a unha do bebê), enchimento correto (manta siliconada) e os tentáculos com tamanho máximo de 22 cm.
A higienização e esterilização
O Serviço de controle de infecção hospitalar (SCIH) recomenda que os polvos sejam esterilizados logo após confecção e antes do primeiro uso. A cada 7 dias o polvo será novamente esterilizado, ou antes disto, caso apresente sujidades.
Sobre o Projeto Polvo:
Em 2013 a partir do pedido de um pai, cuja filha prematura estava internada na neonatologia, foi criado o ‘Danish Octo Project’ na Dinamarca. O projeto consiste na doação de polvos de crochê aos bebês prematuros em tratamento em UTI neonatal com objetivo de promover a segurança ao bebê prematuro, proporcionar-lhe um conforto dentro da incubadora e, também, estimular o seu desenvolvimento. Os tentáculos macios de crochê, que se assemelham ao cordão umbilical, podem ser segurados pelo bebê, deixando-os mais confortáveis e podem simular em parte o ambiente uterino. Além disso, o contato com o polvo pode distraí-lo e evitar que puxe os equipamentos de monitoração e a sonda de alimentação. Os polvos de crochê são confeccionados com linha 100% de algodão e suas medidas são padronizadas. Este projeto se estendeu da Dinamarca, para mais de 18 países no mundo, entre os quais, Groenlândia, Itália, Portugal, França, Turquia, Croácia, Alemanha, Bélgica, Austrália, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil.